Sans Tache #23

Em 2014, na série "Sans Tache", Gabriel Wickbold decide falar sobre a beleza e a pureza do corpo e critica o uso excessivo de manipulação nas imagens para apagar os efeitos da passagem do tempo nos corpos humanos, como se envelhecer fosse feio, errado ou negativo. "O mundo, a partir do momento que você nasce, é um lugar que nos contamina de diversas formas. É a poluição da vida, seja pelos alimentos que consumimos, pelo sol que nos atinge, pelo ar que respiramos, pela gravidade que nos puxa para baixo. Todos esses foram temas retratados na série". "Sans Tache" também fala sobre o congelamento de um instante, um dos principais motes da fotografia, um instantâneo de um tempo que passou e jamais vai voltar. Inspirado na luz de Caravaggio e na arte barroca renascentista, Wickbold fotografa um ensaio que traz a estética do embalsamento – como se fossem ser conservados e não pudessem ser tocados naquele momento em que estavam dentro do vidro –, com corpos decompostos por tratamento de imagem e pelo processo de grilagem. A “grilagem” é uma prática antiga de envelhecimento de papel, como forma de comprovar que aquele documento é antigo e verdadeiro. Ela consiste em deixar uma folha de papel ser devorada por grilos, dando o aspecto de envelhecido. Uma técnica do século 19 muito utilizada por posseiros para extrair madeira de forma ilegal no interior do Brasil. O país sofreu muito com essa prática e a natureza também, então, mais uma vez, há um link dessa conscientização que envolve o elemento natureza no trabalho. "Tudo para buscar uma imagem que questione a indústria da estética, o photoshop e os padrões de beleza atuais". É um raciocínio conjunto com a série anterior, "Naïve", e abraça algumas das causas que ela trouxe, como a destruição do próprio ser humano e não apenas da natureza. "Eu não estava querendo olhar a destruição do ser humano de uma forma totalmente negativa. Tudo o que passamos é uma construção de uma vivência, e cada um desses momentos vai ser sempre contemplado pela dor e pelo prazer, e esse contraponto é o que faz de nós humanos. A nossa história vai estar sempre baseada nesses dois universos".