Tempos Que Habitam Em Mim ITinta, decollage e monotipia sobre tecido montado sobre chassi160 x 130 cm (aprox.)2022Quadro exposto em 2022 na exposição indivudual "Tempos que Habitam em Mim", Curadoria Loly Demercian. O título escolhido pelo artista Azeite de Leos para essa ex- posição (que tem a intenção de ser uma reavaliação dos últimos 10 anos de sua produção artística) não poderia resumir de melhor forma a questão que permeia toda a sua obra: a impermanência, a tentativa vã do homem de transcender seu tempo e de “deixar uma marca”. Segundo a galerista e historiadora da arte Loly Demercian 2 “Azeite de Leos nesses últimos dez anos, fez uma retomada, uma reestruturação em seu fazer, e olhando para trás, nos trabalhos realizados, foram marcados por um tempo que ali existiu, e, ao questionar a integridade da matéria, trás a tona a nossa própria fragilidade e efemeridade”.O tempo não retrocede, o tempo não avança, apenas é. O tempo existe. Sempre! A infinitude do tempo é o contraponto irônico de todo o desejo do homem de construir algo que perpetue, que não tenha fim. Essa antiga (e eterna) problemática do homem de agir/construir/criar apesar do tempo, parece se manifestar fortemente na pesquisa artística de Leos. Podemos encontrar em toda a sua produção o diálogo estabelecido entre a ação do homem e a ação do tempo. No começo de sua trajetória, a base de sua produção artística estava fundamentada nas intersecções entre desenho e escrita, enquanto manifestações possíveis de ambos no campo do fluxo de pensamento e da criação de narrativas, como explicitado pela artista e pesquisadora Beatriz Rauscher 3 em seu texto “Onde o desenhar coagula” 4 so- bre a obra do artista: “O eixo dos investimentos poéticos de Azeite de Leos está na intersecção entre desenho e escritura. O desenhar é ação fundadora e construtora das micronarrativas criadas por ele, trata-se de um desenhar se fazendo, um desenho fluído e em fluxo”. E se este desenho se manifesta na forma de um fluxo (ou seja, o modo contínuo, o curso constante), cada trabalho poderia então ser percebido como uma forma de registro (registro do pensamento, registro do movimento do corpo, registro de um momento). Portanto, era natural que o artista começasse a se interessar, dentro de sua pesquisa plástica, pelas possibilidades do suporte, por dar um caráter envelhecido ao suporte do de- senho – se o desenhar era o registro da ação do homem, do pensamento, do gesto e, principalmente, de um instante, o suporte, portanto, precisaria “denunciar” a passagem do tempo. [...]