Exposição "ROCADA – eclosão de desejos da Terra”, de Lívia Moura VAV
Exposição

Exposição "ROCADA – eclosão de desejos da Terra”, de Lívia Moura VAV

Exposição

  • Nome: Exposição "ROCADA – eclosão de desejos da Terra”, de Lívia Moura VAV
  • Abertura: 14 de junho 2025
  • Visitação: até 01 de agosto 2025

Local

  • Local: Paço Imperial – Galeria Terreiro
  • Evento Online: Não
  • Endereço: Praça Quinze de Novembro, 48 - Centro

Paço Imperial recebe "ROCADA: eclosão de desejos da Terra"


Exposição da artista visual carioca Lívia Moura VAV propõe um deslocamento do olhar sobre a arte, o território e os modos de existência


Sob curadoria de Sandra Benites e Luiz Guilherme Vergara, mostra reúne pinturas de grande formato em diálogo com instalação têxtil monumental. Ativação da cooperativa de lã “Mulheres rurais da montanha” marca a inauguração em 14 de junho



A partir do dia 14 de junho, às 15h, o Paço Imperial, no Rio de Janeiro, recebe a exposição ROCADA: eclosão de desejos da Terra, da artista visual carioca Lívia Moura VAV. Sob a curadoria de Sandra Benites e Luiz Guilherme Vergara, a mostra ocupa a galeria Terreiro com 15 pinturas inéditas de grande formato em diálogo com uma instalação têxtil site especific, de 50 metros de extensão. 


Desenvolvida em colaboração com artesãs da Cooperativa da Lã Mulheres Rurais da Montanha, vindas do município de Itamonte, na Serra da Mantiqueira, Minas Gerais, a peça intitulada "placenTEAR" é composta por um tear suspenso que se ramifica por toda a área expositiva e, de acordo com a artista, remete a uma árvore da vida. 


“Rocada” (quantidade de lã necessária para encher uma roca) pensa arte como eclosão – não apenas de formas, mas de desejos da Terra. É uma trama em que arte, política, cuidado e território se entrelaçam e articulam saberes ancestrais, educação ambiental, práticas decoloniais e estética expandida.


Na entrada da sala expositiva, montes de lã anunciam o percurso sensorial que acompanha a cadeia produtiva da lã – da desfiação à tecelagem – conduzida pelas artesãs da zona rural de Minas Gerais, que estarão presentes na abertura, ativando a obra e convocando o público a interagir com a instalação. “Elas vêm ao Rio também para ver o mar pela primeira vez”, revela Lívia. 


“Esta exposição me faz lembrar da socióloga e ativista boliviana Silvia Cusicanqui, que trata dos povos ameríndios Aymara. Pela tradição viva do labor têxtil coletivo daquela região, as mulheres foram resistentes a todas as invasões dos colonizadores em disputa por fronteiras. Naquela comunidade, elas criaram uma bolha de proteção secular e o labor têxtil se mantém como tradição viva ancestral da tecelagem andina”, observa Luiz Guilherme Vergara. “Em Rocada, se recupera o tear como instrumento de potência e campo de resistência. O que a Lívia provocou no interior de Minas Gerais foi um resgate por simbiose dessa potência geopoética que estava adormecida, subterrânea. Identifico a eclosão com o acordar de uma memória de futuros inacabados. Ela acordou a vontade de tear desejos da potentia mater, que subjaz à potência coletivizante das mulheres”.



VAV – Um olhar sobre arte, território, tradições e modos de existência


Doutora em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense, Lívia Moura criou, em 2013, a VAV – Vendo Ações Virtuosas, uma plataforma internacional que se dedica a resgatar trabalhos de tradições comunitárias (www.pontodeculturavav.com.br). De lá pra cá, este movimento foi contemplado com sete prêmios concedidos pelo Ministério da Cultura. A VAV não apenas orienta a poética da artista, como configura um método de pesquisa, formação e mobilização estética que integra o solo, os minerais, os modos de vida rurais e as expressões afetivas e materiais das mulheres e tradições envolvidas.


Em 2020, Lívia, que é também educadora, decidiu sair do Rio e alugou uma casa para viver com seus dois filhos dentro de um sítio de antigas tecelãs, na comunidade do Campo Redondo, zona rural de Itamonte. Na altura, a produção de lã que caracterizou aquele local havia acabado. Em parceria com as artesãs, a artista restaurou antigos instrumentos e reativou a produção. Um dos principais motivos de ter ido morar na região das Terras Altas da Mantiqueira é que já a frequentava desde que nasceu e passou a trazer para o Rio de Janeiro os solos coloridos que originavam os pigmentos para as suas pinturas, vendidas no mercado de arte internacional. 


Nessa empreitada, Lívia precisou resgatar toda a cadeia produtiva. Desde encontrar a matéria-prima (lã de carneiro), até entender qual seria o produto final e como desenvolvê-lo. Em paralelo, em colaboração com a escola pública local, a artista retomou o uso da argila para pintura de murais e desenvolveu uma pesquisa acerca do tingimento da lã a partir de vegetais, líquens e fungos, bem como o plantio de espécies como a anileira (azul), o urucum (laranja), a macela (amarelo), o boldo (verde) e o pinhão (rosa claro e vinho), que produzem os pigmentos.  


“É preciso levar em consideração que não é qualquer lã costurada como artesanato que a exposição Rocada apresenta. Tem uma trama ali, poderíamos chamar isso de um reavivar. A arte é a própria rede das mulheres e o que elas vêm fazendo. Lívia é mediadora para que se crie essa ponte. Tanto do conhecimento local como da rede – essa costura de mulheres que se unem e se fortalecem”, pontua Sandra Benites. “Quando visitei a cooperativa, me lembro que elas cuidavam e até mesmo educavam os filhos, umas das outras. Acho que essa contextualização é importante para a exposição – as mulheres estão muito unidas, cuidando umas das outras”, afirma a curadora.


Vibrantes, densas e estratificadas, as pinturas apresentadas em Rocada combinam solos tingidos, cera de abelha, couro de pirarucu sustentável, mica (purpurina natural) e bordados. A cor, aqui, não mero resultado de uma técnica, mas de uma relação. "Nenhuma cor sai igual à outra, ainda que os processos e fontes sejam os mesmos. Isso também é uma educação do olhar", afirma Moura. Mais que obras finalizadas, a exposição apresenta processos vivos de produção de mundos.


Um vídeo exibido na entrada da exposição documenta as mãos das pessoas envolvidas no processo: artesãs, curadores, montadoras, crianças e cuidadores, reforçando o caráter artesanal, coletivo e transdisciplinar da exposição. 


A mostra marca, ainda, o lançamento do site da VAV, que reúne jogos-rituais, catálogos, publicações, projetos de arte comunitária e a tese de doutorado da artista. Na ocasião, será lançado também o catálogo da Cooperativa de Lã Mulheres Rurais da Montanha.


Em um campo ainda fortemente marcado por lógicas eurocentradas, urbanas e patriarcais, Rocada se inscreve como um gesto de ampliação da noção de arte contemporânea – não como ruptura, mas como continuidade.


“Não é só o ser humano que produz arte. A criação artística é uma trama de desejos que toda forma de vida manifesta para seguir existindo”, afirma Lívia. É esse campo expandido, entre o sensível e o político, entre o gesto ancestral e o futuro comum, que se urde no espaço expositivo. “Não estamos trabalhando para a natureza, estamos fazendo arte como a natureza produz vida”, conclui a artista. 



SERVIÇO


“ROCADA – eclosão de desejos da Terra”

Artista: Lívia Moura VAV (em colaboração com a Cooperativa da Lã Mulheres Rurais da Montanha)


Curadoria: Sandra Benites e Luiz Guilherme Vergara


Abertura: 14 de junho de 2025, das 15h às 19h

Encerramento: 1º de agosto de 2025

Visitação:  terça a domingo, das 12h às 18h


Local: Paço Imperial – Galeria Terreiro, Rio de Janeiro

End: Praça Quinze de Novembro, 48 - Centro, Rio de Janeiro 


Entrada gratuita | classificação livre


Mais informações: www.pontodeculturavav.com.br 

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