

Exposição individual "cosmovisão", de Claudia Andujar
Exposição
- Nome: Exposição individual "cosmovisão", de Claudia Andujar
- Abertura: 08 de outubro 2025
- Visitação: até 18 de janeiro 2026
Local
- Local: Museu da Imagem e do Som do Pará
- Evento Online: Não
- Endereço: Centro Cultural Palacete Faciola - Avenida Nº Sra. de Nazaré, 138 - Belém (PA)
Museu da Imagem e do Som do Pará recebe a mostra Claudia Andujar – cosmovisão do Itaú Cultural
Quando o nome da fotógrafa é mencionado, automaticamente ele é ligado a seu grandioso e mundialmente conhecido trabalho sobre o povo indígena Yanomami. Sem perder de vista essa produção, a mostra que chega a Belém exibe 71 obras suas que jogam luzes sobre o percurso fotográfico seguido por ela entre as décadas de 1960 e 1970, até seu encontro definitivo com esse povo
Em diálogo com a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), a ser realizada em novembro na cidade de Belém (PA), o Itaú Cultural (IC) leva para o Museu da Imagem e Som do Pará a mostra Claudia Andujar – cosmovisão, com inauguração às 18h da terça-feira, 7 de outubro. A programação de abertura conta com um bate-papo com os fotógrafos paraenses Elza Lima e Alexandre Sequeira e o curador da exposição Eder Chiodetto. A conversa será realizada no Auditório Eneida de Moraes, do MIS, seguida de visita ao espaço expositivo, a partir das 19h. A entrada é gratuita e voltada para o público geral, sujeita à lotação de espaço.
Claudia Andujar – cosmovisão seguirá em cartaz no MIS Pará até 18 de janeiro de 2026, inaugurando a itinerância de um recorte da exposição até agora exibida somente no Itaú Cultural, em São Paulo, em 2024. Na capital paraense, a instituição também assina a concepção e realização da mostra, em parceria com o Museu da Imagem e do Som / Sistema Integrado de Museus e Memoriais da Secretaria de Cultura do Pará. O projeto expográfico é de Marcus Vinicius Santos.
Os 71 trabalhos exibidos em Belém foram realizados por Claudia durante seis décadas, desde que, fugindo do nazismo partiu da Hungria para os Estados Unidos. Depois de uma temporada naquele país, em 1955 ela desembarcou em São Paulo para encontrar a sua mãe e ali viver até hoje.
Segundo o curador, ao investigar a produção da artista mais a fundo, desde que ela chegou em São Paulo em 1955, ele se deu conta do seu importante papel para a experimentação e a expansão da linguagem fotográfica. “Ela teve forte influência, por exemplo, para que a fotografia entrasse nos museus como arte nos anos de 1970”, diz Eder Chiodetto.
“Esta exposição tem foco nesse alto grau de experimentação pelo qual ela fez a fotografia passar. Fica claro que, como filha da geração de 1968, rebelde e que repensa o mundo, Claudia sente necessidade de recriar a linguagem fotográfica para poder se expressar”, continua ele. “Em nenhum momento de sua trajetória, nem quando trabalhou na revista Realidade, ela fotografou em um padrão documental tradicional.”
Claudia fazia uso de filmes fotográficos infravermelhos, cromos riscados, filtros monocromáticos, imagens refotografadas com distorções e mutações de luzes e cores, justaposições e duplas exposições. Para Chiodetto, estas eram estratégias para chegar à representação da percepção sensorial. “Isso permitiu que, anos mais tarde, a artista pudesse materializar em imagens a espiritualidade, a relação dos indígenas com as entidades e guardiões da floresta”, diz. “Ela precisava que a fotografia atravessasse a superfície do real para representar de forma potente o lado de lá, o não visível. Só conseguiu isso justamente por essa experiência anterior de expansão da linguagem e possibilidades fotográficas.”
A exposição
No MIS Pará, Claudia Andujar – cosmovisão está separado em três ambientes, ocupando todo o andar. Assim que o visitante chega, encontra a produção de sua fase mais experimental. Em uma ampla sala ao lado, estão os trabalhos realizados com os Yanomami. Um terceiro espaço exibe um audiovisual do livro de fotos Amazônia (Praxis, 1978), publicado por Claudia e o também fotógrafo George Love, editado por Regastein Rocha, com design do artista Wesley Duke Lee e prefácio do poeta amazonense Thiago de Mello – cujo texto foi, depois, censurado pela ditadura militar. Neste espaço, o público também poderá ver a videoinstalação Sonhos Yanomami (2002-2024), obra de Andujar com releitura do artista Leandro Lima.
A mostra começa com as séries Pesadelos e Homossexuais. A primeira é um ensaio que a fotógrafa publicou na revista Realidade, em 1970, para uma reportagem sobre os avanços da ciência no campo psíquico. Nela, Claudia demonstra sua desenvoltura técnica e conceitual ao propor imagens enigmáticas e perturbadoras por meio de sobreposições, mutações cromáticas e descolamento da gelatina do negativo revelado com alta temperatura. Na segunda, ela usa outras estratégias técnicas para a concepção das imagens de modo a não revelar as identidades das pessoas homossexuais fotografadas e para criar atmosferas diversas. Eram tempos de ditadura e opressão à homossexualidade e ela precisava preservá-los.
Aqui, o visitante também encontra a série de fotos intitulada A Sônia. A protagonista era uma mulher negra e baiana, que sonhava em se estabelecer como modelo em São Paulo. Ela precisava de boas fotografias para montar seu portfólio e levar às agências, mas não tinha recursos para isso. Claudia fez as fotos em troca de autorização para usar as imagens que julgasse necessárias para o seu projeto.
Em 1971 a fotógrafa apresentou o trabalho no Museu de Arte de São Paulo (Masp) de forma diferente: uma projeção de slides em uma sala com vários desses projetores, então considerados inovadores. As suas projeções, em diversas direções e simultaneamente, eram ultra coloridas, acompanhadas de música. Chegavam a provocar um efeito visual lisérgico por meio de um plástico espelhado acondicionado no centro da sala, onde a luz e as imagens batiam e voltavam para o espectador.
Povos originários
Um dos destaques da mostra, está no espaço dos Yanomami – O voo de Watupari, resultado da travessia que ela fez em 1976, ao lado do missionário Carlo Zacquini. Eles viajaram de São Paulo até a Amazônia a bordo de um fusca preto que os levou até este povo indígena. O nome desta série tem uma história: em Yanomami, “watupari” significa urubu. Quando eles viram o carro que a transportava, acharam engraçado e diziam que parecia com esta ave, mas sem asas. Por fim, concluíram que, como o veículo a levou até ali, ela fez um voo de watupari.
Para a exposição, este trabalho ganhou uma releitura colorida das imagens que a artista fez em P&B há 48 anos. Em 2024, as fotos foram reconstituídas por ela, então com 92 anos, com o recurso da sobreposição de peças acrílicas coloridas, montando, desmontando e remontando as mais diversas hipóteses de leitura, até chegar às que lhe agradassem.
Em O sonho verde-azulado, a fotógrafa faz uma ode ao onírico e à harmonia entre a natureza e o ser humano. Este trabalho faz parte de seus primeiros registros em terras Yanomami. Claudia havia feito várias fotografias em preto e branco da jovem indígena Paxo+m+k+. Em 1982, ao revê-las, ela refotografou os retratos com filme infravermelho e, em etapas sucessivas de manipulação, conferiu a eles as tonalidades verde e azulado.
Por sua vez, Reahu, o invisível, registra importante ritual indígena ligado à morte e à ressurreição em imagens que parecem demonstrar a separação do corpo e do espírito. Ela alcançou este efeito por meio de múltiplas exposições, baixa velocidade de obturador e uso experimental do flash. É a única série toda copiada de forma analógica, em papel de prata, especialmente para a exposição.
A série Sonhos Yanomami é composta de fotos feitas por ela a partir de 1976, quando viveu com os indígenas durante um ano – acabou expulsa pelos militares, acusada de ser uma perigosa espiã estrangeira. Anos mais tarde, em 2002, devido às suas experiências em justaposição de retratos e paisagens, ela conseguiu chegar a uma representação muito próxima das imagens que os Yanomami relatam quando voltam do transe xamânico. Alcançar essas imagens era seu grande desafio.
Naquele ano, Claudia manuseava os cromos dessas fotos em sua casa quando percebeu que alguns deles haviam se fundido, resultando em registros visuais muito próximos dessas mirações. Quando seus amigos indígenas as viram disseram que, sim, era assim mesmo. Deste modo, a fotógrafa conseguiu tocar com a sua arte o não visível.
TEXTO INSTITUCIONAL
Visões de mundos
Quando encontrou no trabalho com a arte uma possibilidade de vida, Claudia Andujar carregava consigo o trauma de, aos 13 anos de idade, ter voltado para a sua casa, na Hungria, e encontrado a mesa de jantar feita, porém vazia. Durante a refeição, o seu pai fora deportado para um campo de concentração nazista, onde foi morto, com parte da sua família. Ao tornar-se artista, vivendo no Brasil, ela se dedicou a se aproximar dos povos em perigo, como (ainda) são as mulheres, os homossexuais e os seres da floresta.
Sua concepção de arte fundiu-se com a vida, tornou-se experiência. A exposição Claudia Andujar – cosmovisões propõe um percurso pelos seus experimentos, esses que a conduziram à dimensão de dar a ver e a existir os outros.
Para tanto, ela ampliou o uso da linguagem fotográfica. E, ao fazê-lo, tinha um objetivo: ser afetada e afetar os espectadores com a presença de múltiplos universos. É quando o ato de fotografar se reinventa enquanto fixação de luz e a produção de imagem passa a dar conta de mostrar, também, aquilo que se enxerga apenas de olhos fechados: os sonhos e os espíritos. Esses ganham cores e texturas nas imagens feitas por Claudia, que compactuam com a permanência da vida e, com isso, ampliam a nossa ideia de coexistência entre tantos mundos.
O Itaú Cultural expande suas ações ao ambiente virtual: na Enciclopédia Itaú Cultural e no site itaucultural.org.br é possível encontrar outras informações relacionadas a Claudia Andujar e sua generosa contribuição em arte e ativismo. Reconhecido pelo Prêmio Milú Villela – Itaú Cultural 35 Anos, o trabalho da artista marca um olhar para a própria história da formação social do Brasil e a salvaguarda dos seus povos originários.
Itaú Cultural
TEXTO CURATORIAL
Fotógrafa e ativista, Claudia Andujar nasceu em 1931, na Suíça. Refugiada do nazismo na Europa, onde viu parte de sua família morrer nos campos de concentração, adotou o Brasil como sua pátria em 1955.
Mundialmente reconhecida, Claudia usou a arte para denunciar a negligência histórica do Estado em relação aos Yanomami. Por meio de seu trabalho, revelou a sabedoria ancestral e a refinada espiritualidade desse povo, desempenhando um papel fundamental na demarcação da Terra Indígena Yanomami, em 1992.
Representante legítima da geração de artistas que, entre 1960 e 1970, repensaram o estatuto da arte sob os preceitos da contracultura e da psicodelia, Claudia iniciou, ao lado de seu companheiro na época, o artista norte-americano George Love, a construção de uma obra fotográfica pautada por muitas experimentações.
Ao justapor imagem e imaginação, abriu um portal que, décadas depois, lhe permitiria materializar em fotografias o maior dos desafios: captar a emanação espiritual e as mirações experenciadas pelos Yanomami em seus transes xamânicos.
Esta exposição traça um breve roteiro das séries e dos experimentos que Claudia realizou desde sua atuação na revista Realidade (de 1966 a 1971), até sua obra mais recente, O voo de Watupari, revisitada especialmente para essa mostra.
A cosmovisão Yanomami, que amplia e aprofunda os sentidos da existência, encontra uma relação análoga na atitude idiossincrática de Claudia com a fotografia, por meio do qual ela atravessou fronteiras para representar dimensões não visíveis, algo que parecia impossível para essa linguagem.
Eder Chiodetto
SOBRE
Museu da Imagem e do Som do Pará
O Museu da Imagem e do Som foi inaugurado em março de 1971, pouco antes do falecimento de sua grande idealizadora, a escritora e jornalista paraense Eneida de Moraes. Inicialmente, o Museu tinha como intuito a preservação de depoimentos de personalidades políticas e artísticas do Pará, ampliando posteriormente seu objetivo para a salvaguarda de diversas manifestações culturais do Estado, como shows, exposições, depoimentos, debates, palestras, festas religiosas, espetáculos de dança, música e teatro, por meio do registro feito com áudio, vídeo e fotografia.
Atualmente, dispõe de um diversificado acervo que inclui peças de cinema/películas, integrando a este a produção de Líbero Luxardo, Milton Mendonça, Pedro Veriano, dentre outros. Também possui variada coleção de folhetos, livros, revistas, catálogos, cartazes, folders, fotografias, roteiros, partituras e programas musicais. O acervo de áudio do Museu da Imagem e do Som/PA compreende fitas cassetes, CDs, fitas de rolo e vinil, destacando entre outras coleções a memória musical de maestros e compositores como Waldemar Henrique e Altino Pimenta. Dispõe ainda de maquinário das primeiras emissoras do Pará (TV Guajará e TV Marajoara), instrumentos musicais, entre outros.
Itaú Cultural
O Itaú Cultural (IC) é uma organização voltada para a pesquisa, a produção de conteúdo e o mapeamento, incentivo e difusão de manifestações artísticointelectuais. Dessa maneira, contribui para a valorização da cultura de uma sociedade tão complexa e heterogênea como a brasileira. Ao considerar a cultura uma ferramenta essencial à construção da identidade do país e um meio eficaz na promoção da cidadania, o IC busca, desde 1987, quando foi aberto, democratizar e promover a participação social. Programas como o Rumos reafirmam a nossa missão e o nosso propósito, colocando-nos entre as mais importantes iniciativas culturais do país.
O IC, em 2019, passou a integrar a Fundação Itaú, com o objetivo de garantir ainda mais perenidade às suas ações e o seu legado no mundo da cultura, ampliando e fortalecendo o seu propósito de inspirar o poder criativo para a transformação das pessoas.
SERVIÇO
Claudia Andujar – cosmovisão
Abertura: 7 de outubro de 2025, às 18h
Com mesa de conversa com o público e os fotógrafos paraenses Elza Lima e Alexandre Siqueira e o curador da mostra Eder Chiodetto Auditório Eneida de Moraes (MIS)
Visita à exposição a partir das 19h. Entrada gratuita para o público geral, sujeita à lotação máxima.
Visitação: 8 de outubro de 2025 a 18 de janeiro de 2026
Terças-feiras a domingos, das 9h às 17h
Entrada: gratuita
Museu da Imagem e do Som do Pará
Centro Cultural Palacete Faciola - Avenida Nº Sra. de Nazaré, 138 - Belém (PA)
FICHA TÉCNICA
Concepção e realização
Itaú Cultural
Parceria
Museu da Imagem e do Som / Sistema
Integrado de Museus e Memoriais /
Secretaria de Cultura do Pará
Curadoria
Eder Chiodetto
Projeto expográfico
Marcus Vinicius Santos
ASSESSORIA DE IMPRENSA
Pelo Itaú Cultural: ConteúdoInk
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