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Exposição “Enquanto descansávamos…” de Rosângela Dorazio
Exposição

Exposição “Enquanto descansávamos…” de Rosângela Dorazio

Exposição

Local

  • Local: Gaby Indio da Costa Arte Contemporânea
  • Evento Online: Não
  • Endereço: Estrada da Gávea, 712, São Conrado, Rio de Janeiro

Gaby Indio da Costa Arte Contemporânea apresenta Exposição “Enquanto descansávamos…” de Rosângela Dorazio

Numa primeira mirada, as imagens de Rosângela Dorazio parecem ser “fáceis”. Bonitas, palatáveis e persuasivas, elas aparentemente se resumem a uma finalidade ilustrativa.

Seja uma aquarela representando um corpo desenhado, ou uma fotografia que retrata uma paisagem idílica. Tudo parece caminhar para servir religiosamente ao seu propósito. Eis que nossa artista, através de uma curiosidade algo herética, vai gradualmente nos mostrando que nada é tão ilustrativo assim, nem tão “mastigado” quanto parece. Existe um ruído entre o que se projeta diante dos nossos olhos e o “como” isso se projeta. Nessa brecha, Dorazio atua.


Um exemplo de operação é o que a artista faz com fotografias de bosques, arvoredos e vistas ajardinadas, muitas delas produzidas por ela mesma. O tema destas é uma natureza domesticada, pacífica, que não nos apresenta qualquer tipo de ameaça, ao contrário, parece ser projetada para nos tranquilizar. Sob essas fotos, a artista intervém com goivas, lâminas e outros instrumentos de corte, por vezes adicionando pigmentos vibrantes, e o resultado é uma imagem cortada, fendida, machucada, que sangra. Pequenas plantas e arbustos se projetam para o espaço, alcançando a tridimensionalidade, mas nada mais são do que fiapos de papel, subproduto de um gesto violento, que opera entre a construção e a destruição. Ao explorar os pormenores de composições belas, Dorazio acaba as destruindo. Ao destruí-las, por outro lado, nos mostra do que as coisas são feitas. Existe um fascínio em se deixar desnudas às engrenagens e vísceras do funcionamento de tudo, ao mesmo tempo em que prevalece uma sútil angústia ao se perceber que, por trás de uma certeza bela, tudo o que restam são detritos e fiapos.


A série Enquanto Descansávamos, grupo de aquarelas desenvolvido pela artista nos últimos anos, consiste em uma série de retratos no qual os retratados parecem dormir ou cochilar tranquilamente. A consistência líquida das composições, construídas através do acúmulo de camadas translúcidas de cor, parecem transportar o espectador diretamente para o estado onírico em que esses personagens aparentam estar imersos, onde a solidez do mundo real se esboroa em esfumaçadas imagens que irrompem do inconsciente. 


A ideia de repouso, que poderia ser sugerida pelo estado dos personagens, acaba se revelando uma pista falsa. Nada aqui está parado, e isso fica evidenciado na tensão entre matéria pictórica e os seres representados, dado que a aguada escorre por todo o suporte. O colorido translúcido e os caminhos da matéria liquefeita convidam nosso olhar a passear pelos trabalhos de modo atento, algo comum em sua poética. Eis então que, quase despercebidas, estão pequeníssimas palavras e frases. Como sussurros, elas acompanham o fluir da tinta líquida. E, baixinho, sem acordar ninguém, nos trazem notícias de um mundo nada distante, no qual pretos, pobres e quase brancos, quase pretos são alvejados por uma dilacerante violência. Mesmo assim, todos descansam. A matéria segue fluindo. Os sussurros, notícias do Haiti que é aqui, não são suficientes para acordar os adormecidos.


Na série Vigília, composta de pequenos trabalhos em óleo, novamente o título sugere algo que não é bem o que aparenta, dado que todos estão de olhos fechados. São retratos individuais ou coletivos de pessoas que, ainda que estejam por vezes “posando”, estão dormindo. A matéria pictórica aqui é mais densa, e as cores mais escuras, com tons que tendem à “terra”. Os personagens parecem estar prestes a despertar, mas existe uma densidade na atmosfera que os mantém inertes. São reféns da matéria que os compõem. Se antes fluíam nela em sonhos profundos, agora estão presos em uma letargia imposta.


Já a sequência de desenhos Estratégias de Amparo, se estrutura por meio de uma linearidade firme, vigorosa, no qual personagens reafirmam vínculos através de gestos veementes. Por vezes a linha se liquefaz, mas o líquido aqui serve como uma espécie de “cola”, e não como algo que desmonta. São poucas linhas que Dorazio emprega aqui, e todas em um suporte frágil e sujeito a assimilar amassados e rasgos. Mas a afirmação é veemente, e a composição para em pé. Em um mundo no qual tendemos a não olhar para as coisas, e muitas vezes descansamos diante das mesmas, talvez vínculos primordiais nos façam resgatar gestos e olhares mais firmes e decididos.


- Theo Monteiro


SERVIÇO
Exposição “Enquanto descansávamos…” de Rosângela Dorazio
Curadoria Theo Monteiro

abertura: sábado, 18.05.24, das 15h às 19h
exposição: 18.05.24 a 26.06.24

visitação: segunda a sexta das 11h às 18h ou sob agendamento

local: Gaby Indio da Costa Arte Contemporânea

Estrada da Gávea, 712, São Conrado, Rio de Janeiro

(estacionamento no local)


IMAGENS
Enquanto descansávamos, Kauan Vitor da Silva foi morto enquanto brincava na frente da sua casa | 2020 Aquarela sobre papel de algodão | 70 x 100 cm
Enquanto descansávamos, João Pedro de 14 anos foi morto em casa numa operação policial | 2020 Aquarela sobre papel de algodão | 70 x 100 cm
Enquanto descansávamos, Ágatha Vitória Felix levava um tiro pelas costas | 2020 Aquarela sobre papel de algodão | 70 x 100 cm
Enquanto descansávamos, Jenifer Cilene dos Santos de 11 anos foi morta por policiais | 2020 Aquarela sobre papel de algodão | 70 x 100 cm





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