Exposição "Carmézia Emiliano: a árvore da vida"
Exposição
- Nome: Exposição "Carmézia Emiliano: a árvore da vida"
- Abertura: 24 de março 2023
- Visitação: até 11 de junho 2023
Local
- Local: MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
- Evento Online: Não
- Endereço: Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista
MASP APRESENTA A MAIOR EXPOSIÇÃO MONOGRÁFICA DE CARMÉZIA EMILIANO
O conjunto de 35 obras, sendo oito especialmente desenvolvidas para a mostra, traz temas e reflexões da artista indígena Macuxi sobre a observação da natureza e da vida coletiva
O MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand apresenta, de 24 de março a 11 de junho de 2023, a mostra Carmézia Emiliano: a árvore da vida, que ocupa a galeria localizada no 1o subsolo do museu. Com curadoria de Amanda Carneiro, curadora assistente, MASP, a exposição reúne 35 pinturas que figuram e refletem sobre paisagens, objetos da cultura material e o cotidiano da comunidade da artista indígena Macuxi, localizada na Maloca do Japó, Normandia, Roraima. A mostra tem patrocínio da Lefosse.
Carmézia Emiliano (Maloca do Japó, Normandia, Roraima, 1960) é uma artista autodidata de origem Macuxi. Na década de 1990, mudou-se para Boa Vista, momento no qual também começou a pintar, motivada pelo impacto de sua primeira visita a uma exposição de arte. Ali ela notou que humanidade e natureza, indivíduo e coletivo, podiam assumir formas na profusão de detalhes espelhados, intrincados e interconectados das artes visuais. No início de sua carreira, sua produção artística encontrou espaço em exposições chamadas naïfs e/ou populares, hoje, no entanto, seu trabalho aponta para a revisão dessa leitura enquadrada e tem sido incluído em diferentes mostras de arte contemporânea.
A exposição Carmézia Emiliano: a árvore da vida apresenta 35 pinturas sobre tela, sendo oito delas desenvolvidas especialmente para a mostra, divididas em sete núcleos que abordam temas relacionados à subjetividade da artista e à vida em comunidade, refletindo manifestações culturais macuxis, como a dança do parixara, os jogos e brincadeiras relacionados aos períodos de festas – por exemplo, o de colheita da mandioca –, assim como a vida comunitária, manifesta nas pinturas que representam habitações e espaços em comum. Também se destacam os registros da transmissão de saberes, das redes de apoio entre mulheres e da relação de profundo respeito e cooperação com a natureza.
O título da mostra faz referência a um tema recorrente na obra da artista, o mito da Wazaká, a árvore da vida, que faz surgir de seu tronco cortado o Monte Roraima. “Retomar o mito da árvore da vida, entretanto, não quer dizer que a artista elabora sua poética como dicionário ilustrado das histórias e vivências Macuxis, mas a relação de experiência com seu contexto, de modo a representar os tópicos que lhe interessam subjetivamente, mesmo que relacionados à coletividade ou filosoficamente referenciados”, pontua a curadora Amanda Carneiro.
Muitos trabalhos de Emiliano se dedicam ao registro poético de objetos da cultura material e dos saberes transmitidos por seu povo entre gerações, entretanto, o seu trabalho não se reduz a uma compreensão antropológica ou essencialista, ainda que, durante quase duas décadas, tenha sido nessa chave de interpretação que sua obra encontrou lugar no cenário da arte. “Termos qualificadores, como primitivo e ingênuo ou a art folclórica, podem ser redutores e preconceituosos, primeiro porque ser autodidata não significa ausência de pesquisa, quer dizer apenas que essas pessoas não tiveram acesso à educação formal. Depois porque, em geral, são atribuídos a artistas indígenas, negros ou pobres, e dizem muito pouco sobre os trabalhos e artistas em si”, analisa Carneiro. “Não é redundante rememorar que tais noções validaram hierarquias perversas, influenciando demasiadamente leituras atavistas”, finaliza.
O autorretrato Eu (2022) de Carmézia Emiliano também evidencia como figuras indígenas são pouco vistas nesse gênero da pintura. Até o século 19, o gênero foi frequentemente comissionado ou estimulado pela academia aos artistas pertencentes à história oficial da arte. Os indígenas, apartados do Estado, mas em franca disputa por respeito e reconhecimento de seus territórios e modos de vida, lidaram com o fato de se verem representados por outros, em imagens às vezes românticas e frequentemente contraditórias e ambivalentes, como o quadro Moema (1866), de Victor Meirelles (1832-1903). Ao pintar o autorretrato, a artista se coloca duplamente no centro, do quadro e de sua comunidade.
“Se é certo que o autorretrato se move às margens da arte ocidental, ele é hoje o centro do debate sobre quem exerce a possibilidade de se figurar em oposição a ser por outro figurado”, diz Amanda Carneiro. “A despeito dos muitos outros elementos enunciativos de seu pertencimento indígena além de sua própria imagem, esse não é um registro ao sabor antropológico. Por isso, não se deve recair na crença da autorrepresentação como única maneira de apreensão, retirando do autorretrato de Emiliano e de outras obras suas a estimulante possibilidade de leituras mais plurais, comparativas e complexas: o quadro é a maneira como a artista se vê e ao mesmo tempo intenta algo que ela quer que seja visto”, pontua a curadora.
A exposição no MASP busca ampliar a compreensão acerca da contribuição de sua obra no cenário artístico nacional, apresentando os trabalhos mais recentes da artista, parte deles nunca antes vistos pelo público. O MASP possui quatro pinturas de Carmézia Emiliano que refletem a relação que o museu tem estabelecido com a produção da artista desde 2018, quando ela participou do seminário Histórias das mulheres, histórias feministas e conduziu uma oficina de pinturas para o público do museu durante dois dias. Da mesma forma, foram comissionados trabalhos da artista para o ciclo de Histórias da dança, para o projeto Art School, uma parceria do museu com o centro de pesquisas e publicação Afterall, e, mais tarde, para Histórias brasileiras.
Carmézia Emiliano: a árvore da vida integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias indígenas. Este ano a programação também inclui mostras de MAHKU, Paul Gauguin, Sheroanawe Hakihiiwe, Melissa Cody, além do comodato MASP Landmann de cerâmicas e metais pré-colombianos e a grande coletiva Histórias indígenas. O projeto também se insere numa sequência de exposições que o MASP vem realizando nos últimos anos em torno de artistas autodidatas que trabalharam fora do circuito da arte contemporânea tradicional e da academia, como Agostinho Batista de Freitas (1927-1997), Maria Auxiliadora (1935-1974), Conceição dos Bugres (1914-1984) e Madalena Santos Reinbolt (1919-1977).
SOBRE CARMÉZIA EMILIANO
Carmézia Emiliano é uma artista indígena Macuxi, nascida em 1960 na comunidade Maloca do Japó, Normandia, Roraima, e vive e trabalha em Boa Vista, Roraima, desde a década de 1990. Realizou exposições individuais, como Lendas, costumes e histórias do povo Macuxi, no Sesc Roraima, em Boa Vista (1996); Carmézia Emiliano, no Palácio do Planalto, em Brasília (2006); Carmézia Emiliano: universo macuxi, na Universidade Federal de Roraima, em Boa Vista (2014); e Cosmologias — Mundos Makuxi, no Sesc Roraima, em Boa Vista (2019). Participou das mostras coletivas 8ª a 15ª Bienal Naïfs do Brasil, no Sesc Piracicaba, em São Paulo (2006-2020); Eu vi uma história: arte e narrativa popular no acervo Sesc de arte brasileira, no Sesc Santos, Sesc Taubaté, Sesc São Caetano, Sesc Itaquera (2016); 1ª Exposição nacional de artistas naïfs no centro-oeste, no Museu de Arte de Goiânia (2017); Vaivém, nos centros Cultural Banco do Brasil (CCBB) São Paulo, CCBB Brasília, CCBB Rio de Janeiro, CCBB Belo Horizonte (2019); Estratégias do feminino, no Farol Santander, em Porto Alegre (2019); Histórias da dança, exposição virtual no MASP (2020); Frestas — Trienal de Artes, no Sesc Sorocaba (2021); Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea, no MAM-SP (2021); Por um sopro de fúria e esperança: uma declaração de emergência climática, no Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (2021); Histórias brasileiras, no MASP (2022); e Um século de agora, no Itaú Cultural (2022). As obras de Carmézia Emiliano integram acervos de museus e instituições brasileiras, como CCSP, MASP, Pinacoteca e Sesc São Paulo.
CATÁLOGO
Na ocasião da mostra, será publicado um catálogo bilíngue com ensaios desenvolvidos especialmente para a exposição, além de reproduções de trabalhos produzidos pela artista. O livro, organizado por Amanda Carneiro, inclui textos da curadora, de Denilson Baniwa e Ilana Seltzer Goldstein. Com design de Bruna Sade, designer, MASP, a publicação ganha edição em capa dura.
SERVIÇO
Carmézia Emiliano: a árvore da vida
Curadoria: Amanda Carneiro, curadora assistente, MASP
1o subsolo (galeria)
Período - 24.03 — 11.06.2023
MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista
01310-200 São Paulo, SP
Telefone: (11) 3149-5959
Horários: terça grátis, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas
Agendamento on-line obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos
Ingressos: R$ 60 (entrada); R$ 30 (meia-entrada)