Exposição "Avistar", da artista Franey

FRANEY

AVISTAR

Franey captura a realidade imediata, a superfície das coisas e, a partir daí, estabelece rimas internas com alguns aspectos urbanos do cenário carioca. Escolhe uma paisagem urbana, fotografa e desenha com traços firmes, como se fosse uma narrativa que atravessa o seu intenso olhar, que molda o mundo ao seu redor. Não se trata de um mundo pouco familiar, indefinido ou ainda por fazer; apropria-se de imagens constitutivas de cenas domésticas ou da vida cotidiana, que despertam a sua curiosidade, como se estivesse a relatar a si mesma.

A eleição do desenho como forma de expressão funciona como uma conversa acalorada, e Franey estabelece um vocabulário pessoal como importantes anotações rotineiras do processo do dia a dia. Os seus desenhos são vulneráveis à luz e à sombra, que banham as imagens e manifestam uma cumplicidade com os ângulos de construções arquitetônicas, cenas de praia, persianas enquadradas pela metade, como se o corte provocado pelas linhas desenhadas pela artista liberasse o instante do seu fluxo.

Franey disponibiliza fragmentos do mundo, e seus incessantes e sucessivos desenhos descrevem, registram, documentam e apontam para um tênue equilíbrio entre a transitoriedade e a permanência. Brincam com as anotações cotidianas, trazendo uma memória do local ou de um episódio atrás de si. Essas aderências presentes nas cenas não são reticentes, mas impregnadas de sentidos, pois o lugar é real. Um registro que parece desbravar, como se fosse uma visão rotineira de um novo acontecer. O percurso do olhar nos deixa contemplativos diante de um cenário aleatório, mas pertencente ao nosso mundo vivenciado.

A dimensão interna do seu significativo olhar na tradução poética da vivência na cidade do Rio de Janeiro, com maior intensidade no bairro de Copacabana, tece silenciosamente os instantes representados. Não existe uma eloquência histórica, mas uma interlocução com a natureza, incluindo as verdejantes massas de vegetação, os emaranhados orgânicos e naturezas-mortas. Desenhando com lápis de cor Prismacolor sobre papel, a artista transmite o sentido original que impregna as cenas em suas diversas intimidades em fusão com o mundo aparente. Os interiores íntimos, flagrantes existenciais, pequenas cenas de ambientes domésticos ou espaços da vida urbana são os temas familiares e constitutivos de seu pulsar poético. Os desenhos de Franey condensam um pensamento sobre o mundo.

“Copacabana”, poema de Vinicius de Moraes, 1948

Tu, Copacabana,

Mais que nenhuma outra foste a arena

Onde o poeta lutou contra o invisível

E onde encontrou enfim sua poesia

Talvez pequena, mas suficiente

Para justificar uma existência

Que sem ela seria incompreensível.

Vanda Klabin

Novembro 2024

Abertura: 13/11/2024, quarta-feira, 19h às 22h

Exposição: 13/11 a 13/12/2024

Endereço: Rua Siqueira Campos 143 — 2° piso — loja 1, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ

Estacionamento no local

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