

Exposição "A Alegria não é a Prova dos Nove"
Exposição
- Nome: Exposição "A Alegria não é a Prova dos Nove"
- Abertura: 09 de julho 2022
- Visitação: até 30 de julho 2022
Local
- Local: Casa França Brasil
- Evento Online: Não
- Endereço: Rua Visconde de Itaboraí, 78 - Centro, Rio de Janeiro
A alegria não é a prova dos nove
(ou um arquipélago de singularidades )
... também é deste modo que o destino costuma comportar-se conosco, já está mesmo
atrás de nós, já estendeu a mão para tocar-nos o ombro, e nós ainda vamos a
murmurar, Acabou-se, não há mais que ver, é tudo igual
José Saramago
Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
É bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi
Gilberto Gil e Torquato Neto
"Praça de Comércio", instalação da artista Myriam Glatt para a exposição "A Alegria não é a Prova dos Nove"
A alegria não é a prova dos nove é um projeto de ocupação da Casa França-Brasil com curadoria de Alexandre Sá, que não se inscreve como exposição coletiva, no sentido de uma construção ampliada com trabalhos diversos de modo a potencializar questões em comum. Trata-se, de revés, como explícito no subtítulo, de um arquipélago de pontos singulares, excêntricos, capazes de provocar, como indica o dicionário, a construção de um espaço-tempo onde as leis da física entram em colapso. Ou mais concretamente, de um conjunto de exposições individuais de artistas com poéticas díspares que atravessarão o barco do desejo de pensarem seus próprios trabalhos em relação à arquitetura da Casa França-Brasil a partir de um mote determinado: a frase já conhecida de Oswald de Andrade do Manifesto Antropófago, na qual a alegria surge como um sentimento capaz de provar operações elementares ou como prova inquestionável da relação, não necessariamente aditiva, entre eixos. Aqui para nós, a alegria não é passível de tal operação. Talvez ela nem mesmo possa caber em tamanha responsabilidade lógica.
Os tais 100 anos da Semana de Arte Moderna surgem apenas como névoa para que possamos pensar o Brasil, não necessariamente primitivo, mas profundo como um tropeço, como uma epifania, a partir de questões individuais que se colocarão nesse prédio e em sua (nossa) história. O desejo indiciário não é pensar o país estrito e dicotômico dentro de uma talvez já obsoleta cidade partida, mas discorrer em algum silêncio sobre aquele algo do país que ainda murmura, apesar de. Sem desconsiderar tantas histórias e narrativas que por aqui passaram, bem como seus bons fantasmas que talvez conosco, problematizem a velha tensão entre nós e os interesses internacionais.
Exatamente por isso, as ilhas desconhecidas do nosso arquipélago promoverão outras nuvens, sem nenhuma assertividade de precipitação, para que o público, de acordo com sua deambulação física e emocional, vá construindo suas teias de afeto, luto e regeneração.
Exatamente por isso, uma das possíveis chaves que abrirão as portas quânticas que carregamos no peito, é um diálogo com a música Geleia Geral (em seu título emprestado de Décio Pignatari) de Torquato Neto e Gilberto Gil. Este último, buda nagô, precioso aniversariante em 2022 com seus 80 anos, assim como Caetano Veloso, Milton Nascimento e Paulinho da Viola, nos lembra que “A alegria é a prova dos nove. E a tristeza é teu porto seguro.”
Para nós, aqui, ainda dentro do navio naufragado, talvez seja possível apostar em xeque mate soçobrando que, se a alegria não é a prova dos nove, a tristeza também não é mais o nosso porto seguro. A questão que evola-se é reconstruir alguma maturidade outra para que desconfiemos um pouco dos portos, das âncoras, dos reis, das nossas certezas e de nós mesmxs. Para que pensemos uma rota outra de navegação coletiva, conscientemente frágil da fragilidade que implica em sabermos que antropofagia é o norte fundamental para toda e qualquer relação que sobrevive em nós e que não merecer ser obrigatoriamente violenta. Marulho.
Alexandre Sá
28 de julho de 2022
Imagem: Artista Myriam Glatt posa em frente a suas obras na exposição na Casa França-Brasil
SERVIÇO
Exposição "A Alegria não é a Prova dos Nove" | 9 exposições individuais dos artistas: Alex Frechette, Clarisse Tarran, Davi Pereira, Eduardo Mariz, Helena Trindade, Ivani Pedrosa, João Paulo Racy, Myriam Glatt, Nathalie Nery
Abertura 09 de julho
Curadoria: Alexandre Sá
Encerramento 30 de julho
Local: Casa França Brasil
Endereço: Rua Visconde de Itaboraí, 78 - Centro, Rio de Janeiro