

Exposições "É da nossa natureza", de Claudia Melli, e "Quando vires um centauro, acredita nos teus olhos", de Maria Baigur
Exposição
- Nome: Exposições "É da nossa natureza", de Claudia Melli, e "Quando vires um centauro, acredita nos teus olhos", de Maria Baigur
- Abertura: 09 de abril 2025
- Visitação: até 17 de maio 2025
Local
- Local: Anita Schwartz Galeria de Arte
- Evento Online: Não
- Endereço: R. José Roberto Macedo Soares, 30 – Gávea
Anita Schwartz Galeria de Arte inaugura exposições inéditas de Claudia Melli e Maria Baigur
“É da nossa natureza” e “Quando vires um centauro, acredita nos teus olhos” ocupam os dois andares do espaço com pintura e fotografia, a partir do dia 9 de abril
No próximo dia 9 de abril, às 19h, a Anita Schwartz Galeria de Arte inaugura duas exposições inéditas que desafiam os limites da percepção: É da nossa natureza, da artista carioca Claudia Melli, e Quando vires um centauro, acredita nos teus olhos, da baiana Maria Baigur. Enquanto Melli traduz em pintura a conexão entre os orixás e a natureza, Baigur expande os limites da fotografia, explorando o tempo e a materialidade ao desdobrar sua prática para além do clique da câmera.
Formadas na Escola de Artes Visuais do Parque Lage em gerações próximas, ambas vivem e trabalham no Rio de Janeiro. Nas mostras individuais que apresentam, partem de linguagens que lhes são familiares, mas se lançam à experimentação abrindo caminhos para novas possibilidades poéticas. Suas obras exigem do espectador um olhar atento, capaz de perceber camadas que vão além da superfície. Mais do que contemplação, a experiência é um convite à crença: no que se vê, no discurso que se constrói e no próprio processo de criação.
É DA NOSSA NATUREZA, de Claudia Melli
No térreo, Claudia Melli apresenta a exposição É da nossa natureza, uma série de pinturas inspiradas no universo sagrado afro-brasileiro de matriz iorubá. Com curadoria do babalorixá Márcio de Jagum, a mostra reúne nove trabalhos inéditos que transportam o espectador para paisagens que evocam a espiritualidade dos orixás. Orientada por Jagum, a artista compartilha sua percepção desse universo.
“Essa exposição é resultado de uma imersão nos símbolos e significados do grupo étnico-cultural denominado nagô/ioruba. Ela trata da circularidade que conecta o ser humano, a espiritualidade e a natureza. Acho importante pensar a natureza como território de conexão com o sagrado”, reflete Melli. Sem recorrer a referências explícitas ou figuras humanas, suas obras reafirmam a ideia de que os orixás não são apenas representados pela natureza: eles são a própria natureza.
“Nas palavras da escritora nigeriana Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí, essa forma de perceber o mundo não se resume apenas a um sentido, mas ao conjunto de todos. Por isso, melhor do que se referir àquele sistema como ‘cosmovisão’ (que faz alusão apenas a um deles) a autora propõe o conceito de cosmopercepção, sugerindo uma interação plena, total das sensações”, escreve Márcio de Jagum no texto de apresentação da mostra.
O curador destaca a presença do sagrado na obra da artista: “O divino, por si só, se manifesta no pulsar das cores, nos tons, nos sons sugeridos pelo bailado do pincel”.
É da nossa natureza marca mais um desdobramento da trajetória de Claudia Melli, que vem explorando a passagem do tempo e a natureza cíclica da vida em suas séries. “A natureza é um tema que me acompanha desde o início. Vejo nela uma forma de o ser humano se perceber como parte de um todo, como naquele instante em que contemplamos o pôr do sol ou o mar. Meu processo criativo busca traduzir essa sensação, explorando elementos e fenômenos naturais”, afirma a artista.
A monumentalidade das obras apresentadas na mostra intensifica o seu caráter imersivo e instiga o espectador a ir ao encontro da mitologia iorubá, experimentando sensações que transcendem a imagem: o som da água em movimento, o sopro do vento entre as folhas, o cheiro da terra.
Do grande pântano retratado em A Origem (500 x 127 cm), composto por oito partes, emergem narrativas que celebram cinco orixás. No centro, o mangue representa Nanã, divindade ligada à origem humana no mundo. À esquerda, suas raízes se transformam na palha de Omolu, que, mais à frente, se dispersa no ar ao ser tocada pelos ventos de Iansã. À direita, a névoa insinua a presença etérea de Ewá, senhora das mutações e das passagens. E, ao fundo, um arco-íris revela Oxumaré, irmão inseparável de O transitório e também filho de Nanã.
Com dimensões próximas à escala humana, Possibilidade, Vida (189 × 175 cm) coloca o espectador no centro de uma encruzilhada – território de Exu, orixá dos caminhos, das possibilidades e da comunicação. Diante da tela, a sensação é de estar fisicamente nesse ponto de decisão, onde se cruzam os caminhos, traçados na terra e rodeados pela floresta. Já em Como as águas, tudo podemos (120 × 170 cm), a força da água se manifesta: uma cachoeira intensa e vibrante jorra sobre folhas que refletem a luz do sol, simbolizando Oxum, deusa do ouro, do amor e da fertilidade.
A presença da água e da vegetação ganha novas formas em outras obras. Em Fartura (189 × 127 cm), a floresta densa celebra Oxóssi, enquanto Até onde podemos imaginar (160 × 80 cm) faz referência a Iemanjá no mar verde-água que se funde ao horizonte, contrastando com um céu de nuvens carregadas. Já Janela para o infinito (245 × 80 cm) apresenta nuvens brancas que evocam o aspecto etéreo de Oxalá, orixá que nunca pisou na Terra. Ambas foram pintadas sobre vidro, material que, além de sugerir transparência e movimento, remete à fluidez da água.
As nuvens ganham uma dimensão simbólica ainda mais profunda em A colheita, onde cintilam com o brilho da lua em um céu de tom índigo. Composta por seis placas de vidro de 30 × 45 cm, a obra celebra Ògún, orixá associado à lua no universo religioso afro-brasileiro. O termo Oxupá remete não apenas ao corpo celeste, no dialeto iorubá, mas também a uma divindade cujo culto não permaneceu no Brasil.
Para Márcio de Jagum, “devotos ou não, somos capazes de ver, ouvir, sentir e nos encantar com a presença dessas divindades, que atravessaram o Atlântico e aqui são respeitosamente invocadas, sutilmente reveladas, dignamente reterritorializadas”.
QUANDO VIRES UM CENTAURO, ACREDITA NOS TEUS OLHOS, de Maria Baigur
No segundo piso, a Anita Schwartz Galeria de Arte apresenta a exposição Quando vires um centauro, acredita nos teus olhos, de Maria Baigur. Recentemente anunciada pela galeria, a artista estreia neste espaço sob a curadoria de Fernanda Lopes, exibindo um conjunto inédito de trabalhos que revelam uma dimensão importante de sua produção: o interesse pela fotografia não apenas como maneira de olhar o mundo, mas como construção da imagem.
“Há alguns anos, Maria Baigur busca na fotografia um gesto a mais, interessado no corpo e no tempo. Muitos dos seus projetos se expandem para o campo da ação numa dimensão performática e esse movimento fica claro nos trabalhos desta mostra”, sintetiza a curadora.
Tendo a fotografia no centro da sua prática artística, Baigur inicia sua trajetória na Anita Schwartz em um momento de expansão da sua pesquisa. “A fotografia continua sendo minha principal mídia, é a minha linha de raciocínio. No entanto, passei a explorar o universo dos seus materiais — papel, tinta, moldura, impressora — criando um corpo de trabalho que ainda se relaciona com a fotografia, sem recorrer a imagens fotográficas”, revela a artista.
A exposição apresenta cinco trabalhos que investigam as etapas e os materiais do processo fotográfico, além de resgatar o gesto e a intenção de Baigur. Para ela, estes são aspectos que se diluem ao longo das etapas técnicas da fotografia tradicional. “A cadeia produtiva começa no meu gesto ao fotografar, mas se estende ao longo de todo o processo, até a galeria. Nesses trabalhos, é como se eu retornasse ao final e ficasse mais próxima de quem está contemplando a obra”, diz.
Um dos destaques da exposição é 40 horas, obra em que a artista reflete sobre jornada de trabalho e a passagem do tempo. Diante da aceleração da vida, Maria quis quantificar o tempo de outra maneira: na praia, lugar eleito para os momentos de ócio, decidiu vivenciar a passagem do tempo impondo-se uma jornada de trabalho formal, de 8 horas, durante cinco dias consecutivos. Mesmo de frente para o mar, tomando notas sobre o que observava durante o “tempo de não-trabalho”, sua câmera apontava para o céu de hora em hora, fazendo registros como quem bate o ponto. O resultado são cinco obras (80 x 66 cm), cada uma composta por oito faixas do céu registradas ao longo desse expediente, que exigiu um regime de observação, disciplina e desaceleração.
No entanto, a presença do mar é evocada nos três dípticos (96 x 66 cm) que intitulam a exposição, compostos por uma fotografia e um trabalho emoldurado, no qual 20 folhas de papel fotográfico recortadas são organizadas para criar a ilusão das ondas de uma maré. A fusão entre a fotografia “pura” e a imagem construída a partir do próprio suporte dialoga diretamente com a figura do centauro, ser mitológico que combina duas naturezas – homem e cavalo.
“Para mim, a imagem do centauro remete à maneira como Baigur lida com a fotografia, explorando seu caráter mais objetual. Ela cria trabalhos que também são fusões”, observa Fernanda. Por outro lado, o título da exposição se relaciona com a fé do espectador, disposto a enxergar camadas simbólicas e a acreditar no processo de criação de cada trabalho.
Glitch (96 x 66 cm) também explora a materialidade fotográfica e o gesto artístico ao empilhar folhas de papel fotográfico cortadas dentro de uma moldura. As aparas de impressão usadas são fragmentos descartados no processo fotográfico, agora transformados em protagonistas. Ao contrário da fotografia tradicional, que parte de uma matriz reprodutível, Glitch subverte essa lógica ao transformar sobras do próprio processo em objeto único e irrepetível. “Essa obra reflete sobre a relação entre imagem e suporte, e o ciclo colaborativo da produção fotográfica, incluindo o tempo de trabalho de toda uma cadeia produtiva e os diferentes tipos de papel usados em provas de impressão, teste de cor ou que são sobras na adequação do tamanho final de uma imagem”, analisa a curadora.
Transitando na zona liminar entre a fotografia e o objeto, Maria Baigur afirma sua segurança para experimentar e expandir sua prática neste momento da carreira. O título da exposição vem de uma frase de José Saramago, extraída do livro de contos Objeto Quase, cujo nome sintetiza essa busca por novas formas de construção da imagem: “Onde eu estou agora não é um lugar definido. Não estou presa à fotografia. É quase", conclui a artista.
Sobre a Anita Schwartz Galeria de Arte
Desde meados dos anos 80, Anita Schwartz participa ativamente na construção e consolidação da carreira de artistas com produções atemporais, apoiando no desenvolvimento profissional e na projeção e reconhecimento de suas poéticas, através de parcerias com galerias, museus e instituições culturais internacionais e da participação nas principais feiras de arte contemporânea.
Em 1998 Anita Schwartz inaugura a galeria de arte contemporânea que levará seu nome. No ano de 2008, é transferida para novo espaço com projeto assinado pelo escritório Cadas Arquitetura, tornando-se a galeria pioneira no Brasil com edifício sede especialmente planejado. Com aproximadamente 700 m² de área distribuídos em três andares, oferece salão principal de 110 m² e pé direito de 7,2 m para receber grandes mostras, instalações e projetos especiais. No segundo andar, uma sala de exposições de 60 m² e terraço com um container destinado a videoinstalações, que comporta até 20 espectadores.
Serviço
É da nossa natureza, de Claudia Melli | curadoria: Marcio de Jagum
Quando vires um centauro, acredita nos teus olhos, de Maria Baigur | curadoria: Fernanda Lopes
Data: 9 de abril de 2025, às 19h
Encerramento: 17 de maio de 2025
Anita Schwartz Galeria de Arte
R. José Roberto Macedo Soares, 30 – Gávea
Rio de Janeiro | RJ
Tel: (21) 2540-6446 | (21) 99603-0435
Website: https://www.anitaschwartz.com.br/
Instagram: @galeria_anitaschwartz
Visitação: segunda a sexta, 10h às 19h; sábado, 12h às 18h