Exposição "Visão da Terra: Aqui, agora e depois" de Silvia Mecozzi
Exposição
- Nome: Exposição "Visão da Terra: Aqui, agora e depois" de Silvia Mecozzi
- Abertura: 26 de março 2024
- Visitação: até 27 de abril 2024
- Galeria: Galeria Lica Pedrosa
Local
- Local: ARTEFORMATTO
- Evento Online: Não
- Endereço: Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 1364 - Jardim America, São Paulo - SP
A galeria Arte Formatto tem o prazer de anunciar a abertura da individual de Silvia Mecozzi
Visão da Terra: Aqui, Agora e Depois, com curadoria de Angélica de Moraes, fica em exposição de 26 de Março a 27 de Abril
Em que medida a percepção da crise ambiental gerada pelo antropoceno conseguirá atingir um debate amplo capaz de oxigenar a sociedade e fazê-la pressionar por mudanças de rumos e valores? Uma das respostas mais eficazes na tarefa de confrontar modelos de ação e dar visibilidade a essa bifurcação de caminhos está sendo mapeada pela Cultura e pelas expressões artísticas em vários meios, convergindo para temáticas antes na esfera quase exclusiva da Antropologia. Silvia Mecozzi dá uma potente contribuição a esse debate atualíssimo ao fundamentar sua exposição (na galeria Arte Formatto) na visão de mundo dos índios Yanomami e na cultura Iorubá. Ou seja, buscando água das nascentes.
Vale lembrar que Mecozzi vem de sólida trajetória na exigente técnica da gravura em metal, que ela expandiu com sucesso para a abordagem gráfica de diversos materiais até atingir instalações de grande formato. Como fez em 2013, no inesquecível chão de mármore em que inscreveu sulcos na epiderme de pedra para criar linhas de mãos, destinos a serem percorridos pelo público de pés descalços, metáfora dos trajetos acidentados escalados pelos afetos.
Alguns fragmentos dessa obra (‘Branco de Si”) retornam agora em “Deserto das P... Almas”, apropriados para serem vistos sob outro diapasão: em uma parede marrom. Sinalizam, assim, outra metáfora: a posse da terra. A mão espalmada estabelecendo domínio e abrangência. Individualizando, recortando e fragmentando o que era coletivo. Essa posse, suas características e consequências, se desdobram para formar o conjunto em exibição.
A palma da mão em seus sulcos e relevos mais expressivos também nos remete a percursos de rios, trajetos extensos de terra seca e poeira onde já foi água e peixe. Nos leva a terreno instável e frágil que sustenta essa enormidade chamada vida. É a terra, o solo cultivado ou garimpado em extensões e intensidades que podem alimentar ou destruir e esgotar. A escolha de um ou outro rumo é decisiva para nosso horizonte de tempo como espécie.
Mecozzi nos leva a pensar nas palavras de Davi Kopenawa no livro “A Queda do Céu” ao descrever os agentes da destruição de seu território ancestral. Ele denomina de “comedores de terra” e “tatus gigantes” os homens e as máquinas do garimpo que sugam o fundo dos rios e esboroam suas margens. Como sabemos, a escavação mecanizada acelera e multiplica os danos ambientais. Modificam de modo radical o ambiente natural. De modo irreversível, aliás, se medirmos pela escala de tempo humana.
O alastrar dessa corrida do ouro por territórios indígenas protegidos por lei faz Serra Pelada parecer mero ensaio do caos. Imagens que espantaram o mundo inteiro pela violência da cobiça e da miséria humanas espelham fatos, porém, que agora não têm a sequência e espantosa amplificação documentadas e divulgadas na mídia na escala de importância que significam. Seja porque ocorrem em locais de difícil acesso, seja porque as bigtechs e as corporações de mídia, de alguma forma, por ação ou omissão, não as divulgam ou analisam na mesma proporção da sua importância para o aqui, o agora e o depois.
A cosmogonia Yanomami situa nos metais sob a terra os alicerces e pilares que sustentam o céu. A queda do céu, ou seja, a destruição da Terra como ambiente propício à Vida em sua imensa diversidade de seres é o que a ciência nomeia como crise climática ou aquecimento global. Os “brancos” (como nos denominam os índios em contraste aos “parentes”, seus iguais) não parecem ser capazes, como os Yanomami, de entender a importância vital de preservar a herança ancestral da floresta e os recursos naturais.
É exatamente nessa esquina da dita civilização (ou do modelo econômico que supõe sustentá-la) que age a Cultura e, em especial, as Artes Visuais. Há artistas que percebem e aplicam a potência de significados da imagem como veículo de idéias para muito além da ilustração ou do panfleto. Mecozzi vai direto ao ponto da metáfora sem esbarrar em simplificações que roubam da Arte o que nela há de mais interessante: a ambiguidade, pedra de toque para ampliar percepções.
As obras desta exposição mostram um Brasil contaminado pelo ouro do garimpo, coberto de carvão, ossos e sangue. Há vermelhos intensos que também remetem aos incêndios das matas e florestas, outro motor da distopia. A linguagem escolhida não deriva, porém, de obviedades crispadas pelo repertório figurativo expressionista. As coisas mostram sua violência por elas mesmas. Não há representação e sim cartografias A composição estabelece uma ordem e um método que predispõe a análise, como lâmina no microscópio. Silvia Mecozzi sabe que o caos em que estamos mergulhados já não admite espanto mas ainda exige ser demonstrado do modo mais eficaz para penetrar corações e mentes: com boa e verdadeira Arte.
- Angélica de Moraes
Silvia Mecozzi
A artista Silvia Mecozzi acredita que “o papel da arte seja buscar uma conexão do ser com sua expressão, na tentativa de ampliar a dimensão da vivência humana. Sigo com a convicção que objeto de arte carregue em si um certo mistério, que permite que o observador acesse certos lugares dentro de si que estão latentes ou adormecidos pela vida cotidiana. O fazer artístico é um diário de bordo, um mapa da minha viagem por aqui. Desde as anotações de fragmentos de textos, ideias, desenhos, fotos, conversas registradas por escrito, até o enfrentamento com a material, parte do que vivi e senti estar impregnado ali. Comecei olhando pra minha história pessoal, passei a olhar pra fora, pro meu entorno, pra estética do meu tempo... entrei no corpo do trabalho, no material, no meu próprio corpo, na experiência contundente de estar viva. Hoje, depois de 30 anos de trabalho, compreendo que esse monte de objetos que pus no mundo traçam um caminho na tentativa de construir, no corpo de trabalho, minha identidade, um testemunho da travessia no território do sentir.”
Vive e trabalha em São Paulo. Filha e neta de pintores, Silvia se formou na FAAP e ampliou sua formação trabalhando em ateliers de artistas no Brasil e na França. Em sua primeira individual, organizada na Pinacoteca do Estado de São Paulo em 1994, recebeu o prêmio Revelação de Pintura da APCA. Desde 2000, destacam-se as individuais mera esfera espera espinho, apresentada no Museu de Arte Moderna da Bahia, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul e no Espaço Cultural dos Correios (Rio de Janeiro), em 2003, e na Galeria Raquel Arnaud, em 2004; Em 2005 apresentou ouriças na Estação Pinacoteca (São Paulo) e em 2007 realizou individual na Galerie Sycomore Art, em Paris.
SERVIÇO
Arte Formatto
Exposição "Visão da Terra: Aqui, agora e depois"
Abertura: 26.03 às 17h
Período da exposição: 26.03 – 27.04
Visitação: Segunda à Sexta das 10 às 18h – Sábados das 10 às 14h
Endereço: Al. Gabriel Monteiro da Silva, 1364 - Jardim America, São Paulo - SP
IMAGENS
Silvia Mecozzi, 2020 - 2024 Queda do céu Aquarela e técnica mista Políptico – 100 x 150 cm
Silvia Mecozzi, 2020, 2024 Série Queda do céu Aquarela e técnica mista 30 x 42 cm
Silvia Mecozzi, 2024, Amazônia centro do mundo Mármore Carrara Dimensões variáveis
Silvia Mecozzi, 2024, Tatahari (ventre) Fios de cobre sobre acrílico, papel japonês e tripa de boi 100 x 50 cm