Exposição "Um lugar onde pousar", Juliana Maia
Exposição
- Nome: Exposição "Um lugar onde pousar", Juliana Maia
- Abertura: 27 de setembro 2024
- Visitação: até 18 de outubro 2024
Local
- Local: lapa Lapa
- Evento Online: Não
- Endereço: Rua Afonso Sardinha 326, Lapa, São Paulo
Em 27 de setembro, a artista Juliana Maia inaugura exposição que revisita o espaço doméstico sob uma perspectiva feminina
Ocupando o lapa Lapa, espaço independente na Zona Oeste, a artista cria obras têxteis que investigam criticamente as complexidades dos espaços e técnicas tidas como femininas
Nesta sexta-feira, dia 27 de setembro, das 17h às 21h, o lapa Lapa, espaço independente fundado em 2024 no bairro da Lapa, em São Paulo, inaugura Um lugar onde pousar, primeira exposição individual de Juliana Maia (1980, Recife, PE, Brasil) na capital paulista. A curadoria é de Sofia Steinvorth e apresenta um conjunto de obras produzidas entre 2022 e 2024.
A partir de exercícios de imaginação que não perdem a leveza do lúdico, a exposição Um lugar onde pousar se propõe uma revisitação crítica do espaço doméstico. A artista, que há mais de dez anos segue esta linha de investigação, parte de objetos tipicamente associados à casa, como almofadas, cortinas, bolsas e vasos, procurando um engajamento com a memória associada à História no feminino. As obras revelam-se assim como possíveis reparações históricas desde uma perspectiva contemporânea na qual os efeitos da desigualdade de gênero continuam sendo uma realidade vivida.
Na exposição, destacam-se duas séries de trabalhos recentemente completados e expostos pela primeira vez: Coisinhas (2023-2024) e Sacolas (2022-2024). Ambos seguem uma abordagem que poderíamos chamar de ficção arqueológica. Essas obras questionam a História, tradicionalmente narrada no masculino, ao imaginar o que poderiam ser rastos associados à vivência das mulheres. As três Coisinhas, pequenas esculturas feitas com fio de algodão e fio de cobre, relembram vasos ou jarras, do tipo que normalmente encontramos em museus etnológicos, enquanto as Sacolas são feitas a partir de pedaços de tecido de bolsas que não foram acabadas. Todas elas coletadas numa fábrica e mantidas no estado em que chegaram às mãos da artista⎯algumas com manchas, outras com buracos, mas todas elas bordadas com o objetivo de salientar as suas formas originais e remendadas para atender às marcas que os tecidos já carregavam. Esta série de sacolas homenageia um objeto cultural que, segundo Elizabeth Fisher, pode ter sido, ao invés de ferramentas de caça, o primeiro dispositivo cultural.
A prática de Juliana liga-se a uma linhagem de artistas (principalmente mulheres), que impulsionadas pela vontade de um futuro outro, perguntam pelo que constitui um abrigo e promovem encontros entre o corpo, a casa, a arquitetura e o espaço. São exemplos dessa relação A casa é o corpo (1968), de Lygia Clark, e as "ações na casa" de Brígida Baltar (Abrigo e Torre, ambas de 1996). Mas também a investigação do artista português Carlos Bunga, quem tem um desenho intitulado Minha Primeira Casa foi uma Mulher (1975), em que vemos uma mulher grávida, cuja cabeça é uma casa. Não, por acaso, Juliana Maia é formada em Arquitetura. Seu interesse pela arquitetura, no entanto, parece nunca ter sido o desejo da construção de uma materialidade como tal, mas o início de uma busca mais profunda pelo que constitui um abrigo. Esta abordagem é especialmente evidente nos painéis respiro aliviada (2024) e todo dia uma insônia (2023), em que o cetim, um tecido leve e brilhante, é a base para intervenções sutis que remetem, tal como os títulos sugerem, a partes e experiências do corpo⎯respirar, pulmões, insônia, saco gestacional. É assim, que no cruzamento de técnicas de tecelagem, costura, bordado e crochê, as obras de Juliana Maia que, ora se assemelham a pinturas, ora a esculturas, materializam uma busca profunda por um abrigo poético, um abrigo que passa, necessariamente, pelo sentir.
O lapa Lapa atua como aparelho articulador entre artistas, projetos e públicos para dar espaço a novas propostas de exposições, cursos, mostras e debates, com o intuito de expandir e integrar as diversas linguagens e formatos de atuação na produção independente e construções coletivas relevantes na contemporaneidade.
Sobre a artista
Juliana Maia (Recife, 1980) é artista-educadora, artesã e arquiteta de formação. As suas instalações têxteis cruzam técnicas de tecelagem, costura, bordado e crochê evocando três dimensões da memória que conversam entre si: o espaço, o objeto e o corpo. Através da sua obra a artista propõe narrativas afirmativas a partir de uma subjetividade feminina ao tematizar a memória relacionada ao espaço doméstico, como também de uma memória afetiva que alude ao próprio corpo-arquivo. Referências à arquitetura e a objetos de uso diário na casa são recorrentes e entrelaçam constantemente realidade e ficção. A pergunta por uma possível arqueologia do feminino se dá através dos materiais, historicamente associados ao trabalho das mulheres, assim como pelo uso de uma forte simbologia associada a estas tarefas: a bolsa, a almofada, os cortinados – o que carrega, o que alivia, o que acolhe. Em São Paulo, Juliana Maia participou de exposições coletivas na Galeria Tato e no Ateliê 397. Em 2021, teve sua primeira exposição individual em Recife na Galeria Arte Plural.
Serviço
Juliana Maia: Um lugar onde pousar
Curadoria: Sofia Steinvorth
lapa Lapa
Rua Afonso Sardinha 326, Lapa, São Paulo
Abertura: 27 de setembro, das 17h às 21h
Exposição: 27/09–18/10 — Ter–Sex 14-19h, Sáb 11-15h
Visitação sob agendamento
Entrada gratuita