

Exposição "Ode to Twisted Gods" de Pol Taburet
Exposição
- Nome: Exposição "Ode to Twisted Gods" de Pol Taburet
- Abertura: 08 de fevereiro 2024
- Visitação: até 16 de março 2024
Local
- Local: Mendes Wood DM
- Evento Online: Não
- Endereço: R. Barra Funda, 216 - Barra Funda, São Paulo - SP
Mendes Wood DM tem o prazer de anunciar a exposição individual inaugural de Pol Taburet em São Paulo, intitulada “Ode to Twisted Gods”.
Esta vitrine multimídia inclui fotografias, instalações, pinturas e esculturas de bronze. A abordagem diversificada de Taburet baseia-se em influências do cinema, da história da arte, da música e de conexões culturais que abrangem o Caribe, a França e as Américas.
As pinturas de Taburet apresentam cenas cativantes de bailarinas, garçonetes, pietàs e figuras adormecidas, criando uma atmosfera onírica guardada por uma figura enigmática. Pintado com um pigmento sintético famoso por Yves Klein, Taburet acrescenta um aspecto peculiar às suas pinturas. Navegando por narrativas ambíguas, o artista cria imagens surreais que desafiam as percepções convencionais, convidando os espectadores a um mundo cativante e onírico
Ô paysage de diamante violento de mains d’acide […]» 1
Anthony Phelps, Motivos para o tempo sazonal, 1976
A cultura não é monolítica; é um lodo lamacento que carrega consigo as histórias de grande êxtase dos nossos antepassados, bem como as mais trágicas, histórias que tentamos sondar da melhor maneira que podemos. É um arquipélago infinito cujas ilhas sofrem um movimento contrário à deriva dos continentes, aproximando-se inevitavelmente para colidir, criando brechas e esculpindo montanhas. Pol Taburet sabe disso, porque pertence a uma geração para quem o mundo está quase inteiramente disponível, recolhendo e acumulando elementos dispersos de áreas culturais ainda desconexas para fundi-los numa experiência nova e inevitavelmente híbrida.
Uma noite, sentado na Praia do Porto da Barra, Pol se autodenomina um artista romântico, esperando, sob a noite estrelada e interminável, a bênção de um William Blake ou de um Francisco de Goya. “Neo-Afro-Romântico”, especifica, porque ser romântico é antes de tudo resistir a definições fixas; é cultivar a terra fértil das contradições e das fronteiras, daquelas que se situam entre o real e o imaginário, o passado e o futuro, os factos e os mitos, o Norte e o Sul, a alienação e a elevação, a cultura comercial e a cultura autêntica.
Desde que Michaël Löwy e Robert Sayre recontaram a sua história, sabemos que o romantismo é mais do que o reino de almas frívolas e desesperadas, recolhidas nas suas próprias lágrimas como burgueses nas suas moradas. O Romantismo oferece uma “crítica moderna da modernidade”, que contrapõe a realidade com uma “irrealidade crítica”. Blake se perguntou se as colinas da Inglaterra, agora cobertas por esses “escuros moinhos satânicos”, costumavam ser o lar de um “Semblante Divino”; um antigo provérbio haitiano responde dizendo que “atrás das colinas há mais colinas”: que há mais naquilo que vemos.
O morro da Bahia, uma massa cintilante no tênue crepúsculo, torna-se para Pol um motivo que dificulta as próprias fantasias que invoca. Utilizando a forma de outdoors publicitários, ele procura contrapor o que chama de “imagens poluidoras e sedutoras” com outras imagens que são abertamente irrealistas e críticas. Pronunciam o veredicto dos sonhos despedaçados, de um El Dorado ilusório onde ressoam as palavras de Aimé Césaire, quando falava de “paisagens de vidros quebrados” onde se encontram “flores vampíricas” alimentando-se “do açúcar da palavra Brasil profundo”. o pântano”.
A partir de São Paulo, onde reside temporariamente, Pol constrói seu próprio universo segundo coordenadas que não se traduzem na linguagem aritmética da Razão. Ele trata antes do estranho e sutil falar dos contos e mitos, aqueles contados por ocasião das “vigílias negras” tão caras a Léon-Gontran Damas e feitos “daquele sal crioulo que tão resolutamente resiste à tradução”.
Diz-se que os contos crioulos muitas vezes começam com “et cric, et crac”: uma fenda na ordem silenciosa necessária à convocação dos deuses. Pol matizou sua paleta geralmente ardente com tons suaves, introduzindo o peso do silêncio em seu discurso, um “silêncio cheio de silêncio”, nas palavras de Édouard Glissant. Mas estas cores suaves devem ser confrontadas com a figura de um deus supremo; um deus dos deuses flutuando no ar, com um nariz em forma de trombeta para soar o chamado pelo retorno dos espíritos e perturbar a ordem do mundo racional. Assim, Pol convoca sua própria coorte de deuses e pequenos gênios – aqueles encontrados apenas no coração dos vulcões, como aquelas cabeças de bronze que parecem cobertas de enxofre e fixaram residência no topo dos edifícios, dominando a cidade grande. Existem figuras míticas e ritualísticas emprestadas dos Quimbois de Guadalupe, do Vodu Haitiano ou do Candomblé Brasileiro. Há também aqueles retirados de lendas urbanas, como Candyman, vítima de um hediondo crime racista no bairro operário de Cabrini-Green, em Chicago, onde foi coberto de mel e submetido a picadas de abelhas. Diz a lenda que ele ressurge em busca de vingança quando seu nome é pronunciado diante dos espelhos nesses miseráveis blocos de apartamentos.
Uma forma de melancolia se instala; é instável, é híbrido, é uma saudade – palavra que só existe no mundo lusófono e que denota algo como uma nostalgia prospectiva: uma nostalgia do futuro. Paradoxalmente, é na mente triste do homem moderno que nascem as suas maiores esperanças: as esperanças de um regresso dos marginalizados, de uma reviravolta geral dos valores estabelecidos; aquelas que nos levarão de volta ao que André Breton chamou de “partes ultrassensíveis da terra”, onde é oportuno cantar uma Ode aos deuses distorcidos.
1 “Ó paisagem de diamantes, estragada por mãos feitas de ácido […]” [tradução livre]
- Guillaume Blanc-Marianne
SERVIÇO
Mendes Wood DM
Rua Barra Funda, 216, São Paulo
Seg - Sábado, 11h - 19h
As nossas galerias estão fechadas nos feriados nacionais e no período entre exposições.
IMAGENS
Pol Taburet - Silver spoon, 2024, acrílica, tinta à base de álcool e pastel oleoso sobre tela, 147x 89cm, crédito da foto: EstudioEmObra
Pol Taburet - Rooted Coma, 2023, acrílica, tinta à base de álcool e pastel oleoso sobre tela, 300x200cm, crédito da foto: Loic Madec
Pol Taburet - OTTG series - 5, 2024, bronze, 83x42x40cm, crédito da foto: EstudioEmObra
Pol Taburet - Cockroaches melody, 2023, acrílica, tinta à base de álcool e pastel oleoso sobre tela, 300x200cm, crédito da foto: Loic Madec
Todas as imagens são cortesia do artista e Mendes Wood DM, São Paulo, Brussels, Paris, New York