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Exposição "O Caminho do Meio"
Exposição

Exposição "O Caminho do Meio"

Exposição

  • Nome: Exposição "O Caminho do Meio"
  • Abertura: 02 de dezembro 2023
  • Visitação: até 24 de fevereiro 2024

Local

  • Local: Marli Matsumoto Arte Contemporânea
  • Evento Online: Não
  • Endereço: R. João Alberto Moreira 128, Vila Madalena, São Paulo-SP

O Caminho do Meio

Marli Matsumoto Arte Contemporânea apresenta a exposição coletiva O Caminho do Meio, de 02 de dezembro de 2023 a 24 de fevereiro de 2024, organizada pela galeria e texto crítico de Daniela Avellar. Reúne obras recentes e inéditas de seus artistas representados, em diálogo com obras que pertencem às atividades da galeria no mercado secundário, assim como de artistas brasileiros e estrangeiros que vem participando do seu programa.

Futuro e passado não têm muito sentido; o que conta é o devir-presente: a geografia e não a história, o meio e não o começo nem o fim, a grama que está no meio e que brota pelo meio, e não as árvores que têm um cume e raízes. Sempre a grama entre as pedras do calçamento.1


A epistemóloga Isabelle Stengers, tentando construir ferramenta conceitual para realizar uma necessária revisão sobre as ciências modernas, engendra a chamada "ecologia de práticas" baseada no que Gilles Deleuze, filósofo, entendia como "pensar pelo meio". Aqui, interessa o fato do vocábulo meio se referir ao ponto encontrado no interstício, mas também ao contexto e ao ambiente. Pensar pelo meio, nesta perspectiva, é pensar através do meio, sem definições estanques ou um horizonte ideal. E pensar junto às ressonâncias dos objetos dos quais nos aproximamos, na medida em que eles não se separam de suas condições.


Esta exposição se apropria do título de um trabalho de Antonio Dias, de 1977, para nomear suas inflexões curatoriais. Aqui, o meio é significante que se esgarça. A obra em questão é fruto de uma viagem do artista ao Nepal, cuja materialidade do papel feito à mão em colaboração com artesãos locais, decorre, portanto, de uma infusão naquele meio. Nesta coletiva, os trabalhos selecionados são marcados por uma certa economia de gestos, seja no sentido econômico da moderação (algumas vezes marcada pela repetição), ou no sentido organizacional e de composição. A série de obras é composta por produções divididas em dois recortes temporais, que se dividem entre a década de 70 e a contemporaneidade, possuindo como fulcro algo de lastro construtivo, muitas vezes geométrico, sempre marcado por um diálogo com a arquitetura do mundo e do sujeito. Os suportes parecem invariavelmente integrais às obras, não somente o veículo por onde elas se sustentam e são projetadas. A geometria referida, múltipla, é a das coisas cotidianas, inscritas na vida mundana, a uma geometria em sua origem vital e antipredicativa, antes de ser propriamente inscrita em uma cena figurada.


Com Deleuze é possível pensar um caminho do meio que não funcione enquanto centrismo ou ponderação, mas sim uma velocidade absoluta. Cabe a nós, espectadores dessas obras, não estar somente diante delas, mas nos colocarmos em meio a elas, em uma voltagem que embarque na prescrição filosófica. A menção às ciências modernas no início deste texto não é mera coincidência. Donna Haraway trabalhou extensivamente em seus escritos a questão do olhar, indicando uma necessária corporificação da visão de modo a evitar certo enunciado de pretensão universal relacionado ao olhar desimplicado para as coisas, ao olhar que tudo vê, mas deixa o corpo de fora, fruto das práticas científicas e do conhecimento racional ocidental. Nesse sentido é possível conceber os olhos e os sistemas perceptivos como necessariamente ativos e produtores não só de formas específicas de ver, como formas de vida.


Na arte a perspectiva linear assume um papel importante, aprisionando, como consequência, o sujeito em um lugar marcadamente fixo. O olho renascentista é detentor da pretensa neutralidade criticada, de modo que as linhas ordenadoras deste desenho dependem de um ponto central. Na medida em que o vocábulo meio, aqui, produz difrações, podemos pensar como esta imagem ajuda a descentralizar a posição e embaralhar as linhas, produzindo geometrias mais estimulantes e singulares. Ao nos percebermos em meio às obras selecionadas para esta exposição, podemos construir uma arquitetura da experiência com as formas que aqui se apresentam. Isto porque os trabalhos que encontramos nesta coletiva criam espaços, através da abertura de fissuras e sulcos, de modo mais explícito ou implícito, mas sempre pelo reviramento das construções desimplicadas e limitantes.


O Caminho do Meio nos leva ao Nepal, indiretamente. A indistinção entre o repertório de gestos aqui encontrado, o pensamento e a linguagem, é algo próprio da visão oriental de mundo. O meio é também uma figura circular que pressupõe simultaneidade e relação estreita entre as coisas, como um ponto de contato. Recordo uma passagem de John Cage que pode servir de pista valiosa para o encaminhamento final deste texto, quando o artista diz que o que há entre nós e os sons é o nada, e o nada está no meio. O caminho do meio pode ser espaço integrante da arquitetura do mundo, se tratando de algo que funciona como um mapa, oferecendo as coordenadas, através de linhas a serem recortadas e inventadas frente aos aprisionamentos categóricos, criando morada e arquitetura para o sujeito, bem como tessitura para os corpos. Mas não só. Tempo e espaço são reformulados. O caminho do meio pode ser um momento de pausa diferente do recuo solipsista tipicamente ocidental. Talvez caiba dizer que as obras aqui encontradas reformulam os pontos de contato entre nós e as coisas, produzindo neste interstício, através de geometrias e formas interrogativas, algo mais complexo, robusto e menos centralizado, capaz de se expandir em diferentes direções e fazer flutuar o peso do ponto de vista ordenador de mundo.


Daniela Avellar


1 DELEUZE, Gilles; PARNET, Claire. Diálogos. Editora Escuta, 1998.


SERVIÇO
O Caminho do Meio texto Daniela Avellar
De 02 de dezembro de 2023 a 24 de fevereiro de 2024
Segunda a sexta das 11h às 19h
A Galeria estará aberta os sábados
a partir do dia 17 de fevereiro de 2024 das 12h às 17h
R. João Alberto Moreira, 128
Vila Madalena, São Paulo SP
CEP 05439 130


Contato: (11) 3875-5139
contato@marlimatsumoto.com.br
www.marlimatsumoto.com.br
@marlimatsumoto_

IMAGENS
Leka Mendes - Corpos celestes (Espectroscopia), 2021, 351, alvejante e moeda sobre tecido, 160x190cm
Rirkrit Tiravanija - Sem Título 2022 (O Medo Adormece os seus Sonhos), 2023, RT1002, serigrafia sobre mesa de ping pong, muitas pessoas, 274x152x76cm
Raphaela Melsohn - Essa manobra de lamber e cuspir que se repete como mergulho destemido, 2023, RM1086, cerâmica, 75x50x20cm
Antonio Manuel - 5 Horas da Tarde, 1986, SALSA 0783, acrilica sobre tela, 80x60cm







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