

Exposição "Klangfarbenmelodie – Melodia de timbres"
Exposição
- Nome: Exposição "Klangfarbenmelodie – Melodia de timbres"
- Abertura: 06 de setembro 2022
- Visitação: até 22 de outubro 2022
Local
- Local: Anita Schwartz Galeria de Arte
- Evento Online: Não
- Endereço: Rua José Roberto Macedo Soares, 30, Gávea
Anita Schwartz Galeria de Arte
apresenta a exposição
Klangfarbenmelodie – Melodia de timbres
Obras de Lenora
de Barros, Rosana Palazyan, Waltercio
Caldas, Augusto de Campos, Paulo Vivacqua, Yolanda Freyre, Cristiano Lenhardt e Antonio Manuel gravitam em torno da
ideia de melodia de timbres criada em 1911 pelo gênio Arnold Schoenberg (1874-1951), autor da revolução que introduziu um
novo campo na música, a música atonal, que rompe com o sistema verticalizado da
harmonia, e cria a música horizontal, serial. A melodia passeia entre os vários
timbres dos instrumentos, e cada nota passa a ter igual valor no espaço e no
tempo, como pontos que flutuam. A mostra antecipa a celebração de 70 anos de “Poetamenos” (1953), de Augusto de Campos, com poemas desenvolvidos
a partir da ideia de Schoenberg, e que é apontada como obra precursora do
concretismo brasileiro.
Anita Schwartz Galeria de Arte, Rio
Abertura: 6 de setembro de 2022, das
17h às 20h
Até 22 de outubro
de 2022
Entrada gratuita
Apoio: Becks
Anita Schwartz Galeria de Arte apresenta a partir de 6 de setembro de 2022, das 17h às 21h, a exposição “Klangfarbenmelodie – Melodia de timbres”,
com obras de
de Lenora de Barros, Rosana Palazyan, Waltercio Caldas, Augusto de Campos, Paulo Vivacqua, Yolanda Freyre, Cristiano Lenhardt e Antonio
Manuel. A exposição reúne trabalhos de artistas que pesquisam, em variadas
formas, as poéticas da ressonância como lugar de encontro, seja na intimidade
do próprio ser ou no desejo de encontro com o outro. As obras manifestam um
espaço para que as vibrações, em suas múltiplas potências, possam se somar
entre si, ecoando novas palavras, sentidos e sonoridades.
A palavra “Klangfarbenmelodie” – melodia de som e cor (ou timbre) – foi
criada em 1911 pelo genial compositor Arnold
Schoenberg (Viena, 13
de setembro de 1874 – Los Angeles, 13 de julho de 1951), que revolucionou
a música ao criar a atonalidade.
Rompendo com o sistema harmônico, tonal, vigente até então, Schoenberg deu autonomia a cada nota, que ficava livre, solta no espaço e no tempo, em
uma linha serial, sem estar
hierarquizada em uma harmonia. Integrante do movimento da Segunda Escola de
Viena, Schoenberg – ele mesmo um pintor
e ensaísta – influenciou as artes visuais, como o pintor Wassily Kandinsky (1866 – 1944).
Frequentemente se associa a música criada por Schoenberg com o movimento
artístico de meados do século 19, o “pontilhismo”,
por causa das notas serem “pontos”
no tempo e no espaço. Dentro da história da música, Schoenberg está relacionado
ao expressionismo.
A exposição “Melodia de
timbres” antecipa a celebração de 70 anos da publicação de “Poetamenos” (1953), de Augusto de Campos (1931), que visita o
conceito de Schoenberg, e cria uma transcrição intersemiótica, desenvolvendo
uma série de seis poemas plurilíngues e policromáticos. Estudiosos consideram essa série de poemas
precursores do concretismo no Brasil, pois inaugura novas relações e
procedimentos na construção e apresentação da poesia, propondo uma leitura de
várias vozes e cores. O livro “Poetamenos”, com a construção de suas
estruturas gráficas e espaciais dialoga com os demais artistas da exposição,
apresentando possibilidades de escrita, leitura e interpretação de obras
plásticas como poemas.
OBRAS/ARTISTAS
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Paulo Vivacqua (1971, Vitória, Espírito Santo).
Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
“Interpretação
(2012/2022), instalação, 12
estantes de partitura, alto-falantes, fios, cartões impressos, luminárias, 12
canais de áudio, 6 microsystems, dimensões variáveis.
A obra parte de uma relação lúdica ao propor a associação livre entre
palavras, sons e figuras como um jogo da memória. É composta de 12 estantes que
trazem como partitura desenhos antigos e simples de figuras variadas como
chapéu, criança, pera, urna, entre muitas outras. Ao lado de cada cartão, um
alto-falante emite um som que se relaciona ou não à figura representada. O
conjunto de figuras e sons propiciam uma atmosfera de livre associação, e o
trabalho se mantém aberto como um convite à imaginação do ouvinte-intérprete imerso
em uma pequena orquestra imaginária de objetos sonoros e ações. A relação
lúdica encanta principalmente as crianças, e o trabalho é uma versão “de
câmera” da obra mostrada na 30ª Bienal de São Paulo, em 2012, com 48 estantes.
“The Legend of The Lake” (2005), instalação sonora, alto-falante, mp3 player.
Apresentado
inicialmente em Nova York, na galeria Art in General, no Soho, o trabalho usará
o elevador da Anita Schwartz Galeria de Arte. A partir de sons semelhantes aos
funcionais do elevador, a instalação sonora se transforma em uma música etérea
e minimalista, criando uma sensação de amplidão no espaço confinado. Ao
explorar o confinamento do tempo e do espaço, Paulo Vivacqua transforma aquele
espaço transitório e potencialmente claustrofóbico em uma atmosfera encantadora
e espaçosa.
Sobre Paulo Vivacqua – Com formação em música, piano e composição,
escrita e eletroacústica, elabora sua obra a partir de um cruzamento de planos
sonoro, plástico e linguístico. Suas esculturas, objetos e ambientes sonoros
ativam narrativas do espaço, paisagens temporárias. Esses processos de criação
e procedimentos aplicados à composição musical e apresentações deslocam a obra
para um novo contexto de interação e contemplação. Seus primeiros trabalhos
buscaram por este território híbrido entre som/tempo e o espaço
físico/localizado: “Paisagens Subterrâneas” (2000) e “Mobile” (2000). Em 2001
recebeu a Bolsa Virtuose (MinC) com o projeto “Instalação Sonora” a convite da
ApexartGallery em Nova York, EUA, para um programa de residência. Participou de
mostras nacionais e internacionais de relevância nos Estados Unidos, na Europa
e no Brasil. Suas obras “Interpretação” e “Ohm” estiveram na 30ª Bienal de São
Paulo, em 2012.
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Cristiano Lenhardt (1975, Itaara, Rio Grande do Sul).
Vive e trabalha no Recife.
“Pinturas afluentes” (2020), acrílica sobre linho, 110 x 142 cm
Sobre Cristiano Lenhardt
– Graduou-se em Artes
Plásticas pela Universidade Federal de Santa Maria (2000). Orientação artística
no Torreão em Porto Alegre, de 2001 a 2003. Integra o Grupo Laranjas. Realizou
exposições individuais na Galeria Marcantonio Vilaça, Instituto Cultural Banco
Real, Recife (2008). Foi reconhecido com os seguintes prêmios: Abre Alas,
Galeria A Gentil Carioca, Rio de Janeiro (2008); Prêmio Projéteis da Arte
contemporânea, FUNARTE, Rio de Janeiro (2008); Prêmio Concurso videoarte,
Fundação Joaquim Nabuco, Recife (2007); SPA das artes, Recife (2007 e 2004);
Bolsa Prêmio 26º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, Pernambuco (2006);
entre outros.
A obra de Cristiano Lenhardt explora as narrativas que entrelaçam a
cultura pop e a cultura de massa, a construção de mitos e lendas e uma reflexão
sobre as formas como seres humanos, animais e objetos se relacionam. A sua
prática não privilegia um meio acima do outro, mas antes abrange filme,
performance, instalação, escultura, fotografia, desenho e gravura. O artista cria
peças que fazem referência a diferentes fontes, incluindo folclore, história da
arte, literatura fantástica e ficção científica, deixando sua pesquisa ser
guiada não por um conceito pré-estabelecido, mas por uma série de exercícios de
escrita, desenho e manipulação de materiais de diferentes origens – itens
encontrados, orgânicos e inorgânicos, elementos descartados, matérias-primas
que vêm de outros objetos – que vão sendo modelados, montados, dobrados e
trazidos à vida.
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Lenora de Barros (1953, São Paulo, onde vive e
trabalha)
“Só por es-tar” (2009), impressão em jato de tinta sobre papel
de algodão, 250 x 10cm, tiragem 3:5 + 2 PA
A série fotográfica
se desenvolve através de uma performance que registra um poema escrito na
sola dos pés da artista. “Es-tar em si só por es-tar sal-ti-tan-do so-bre as
sí-la-bas do si-lên-cio”.
Sobre Lenora de Barros – Formada em Linguística,
iniciou sua carreira artística na década de 1970. A artista utiliza variados
recursos na construção de suas obras, produzindo fotografias, vídeos,
esculturas e instalações. Além de artista visual, também é poeta e recebe
grande influência do concretismo tanto na poesia quanto nos seus demais
trabalhos. Suas primeiras obras podem ser colocadas no campo da “poesia
visual”, tendência que teve o seu desenvolvimento no Brasil, a partir do
movimento da poesia concreta da década de 1950. Palavras e imagens foram seus
materiais iniciais. Desde então, seu foco volta-se para a exploração das
possibilidades dos códigos de linguagens que ela articula. Quanto ao caráter de
gênero que atravessa sua trajetória, a artista nos apresenta dois polos de um
mesmo espírito feminino. Por essa inteligência poética, condição humana e
condição feminina se confundem numa simbiose produtiva na obra de Lenora de
Barros. A artista se pauta no campo inesgotável da experimentação, valendo-se
de multifacetado vocabulário – instalação, vídeo, performance, fotografia,
escultura, objeto etc. Por isso, desde que começou, na década de 1970, sua
obra, que também recebe influência da Pop Art e do movimento Fluxus, se mantém
aberta às vanguardas contemporâneas.
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Rosana Palazyan (1963, Rio de Janeiro, onde vive e
trabalha)
A artista mostrará quatro obras,
duas delas inéditas, das séries “Por que daninhas?” e “Minha coleção de Sementes Daninhas",
iniciadas em 2006. Rosana Palazyan
começou sua pesquisa a partir de textos de agronomia que tratam de estudos
sobre plantas daninhas, e decidiu questionar essa terminologia, os argumentos utilizados para caracterizar
seres vivos que são considerados indesejados e, portanto, deveriam ser
controlados, à luz desses textos técnicos.
A pesquisa é pioneira ao
gerar reflexão sobre as plantas consideradas daninhas em analogia às pessoas
que sofrem exclusão social, racismo, preconceitos diversos, genocídio,
entre outros tipos de violência inflada por palavras e rótulos como: “são indesejadas e precisam ser destruídas”;
“são vistas como inimigas a serem
controladas”; “poderia crescer em
seu lugar algo de uma beleza mais exuberante”, expressões usadas em textos
de agronomia. “Qualquer um de nós pode ser considerado ‘daninha’ em algum
momento ou inserido em algum contexto”, destaca ela.
Em 2006, Rosana Palazyan passou a coletar,
nas ruas do Rio de Janeiro, e em outras cidades e países, plantas consideradas daninhas. Ela passou a cultivá-las no estúdio,usando-as de
várias maneiras em seus trabalhos. As plantas floresceram, “algumas pequenas e
delicadas, outras se transformaram em arbustos”. “Lindas flores surgiram, porém
de uma beleza classificada nos livros como ‘não comercial’, tal qual o conceito
de beleza utilizado no mundo capitalista, para 'aqueles que não satisfazem a
interesses econômicos imediatos’”, comenta. Sementes são guardadas e algumas fazem parte desta coleção na série
“Minha Coleção de Sementes Daninhas",
conferindo valor e qualidade a seres rotulados como com "funções ainda não
descobertas", e que agora passam a ser inseridos no contexto da arte.
Em 2010 a artista ocupou a Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro, com trabalhos desta
série, na exposição “O Jardim das
Daninhas”. Em 2015, um trabalho
também derivado desta pesquisa foi exposto na 56ª Bienal Internacional de Arte de Veneza, no Pavilhão Nacional da
República da Armênia, vencedor do Leão de Ouro de melhor representação
nacional. Inserida no jardim do Mosteiro
Mekitarista, na Ilha San LazzarodegliArmeni, em Veneza. Durante a Bienal, o jardim
original, planejado e limpo, abriu espaço ao crescimento das
plantas daninhas, que conviveram com as plantas ornamentais já
existentes.
1 – "... prejudicam os
objetivos econômicos do homem e devem ser exterminadas..." (2006/2022),
da série “Por que Daninhas?” –
Bordado com linha e fios de cabelo sobre tecido; planta, 30 cm x 24 cm. Obra inédita.
A obra contém uma planta real considerada daninha, fixada sob um tecido
transparente com um bordado imperceptível, que acompanha seu contorno. As
raízes foram substituídas por frases sobre plantas daninhas e bordadas com os
fios de cabelo da artista. Assim, tanto plantas como seres humanos têm seus
DNAs representados.
2 – “Talinumfruticosum homo”
(2006/2022), da série “Minha coleção de
Sementes Daninhas” – Bordado com linha e fios de cabelo sobre voal,
sementes da planta Talinumfruticosum L.,
28 cm x 13 cm x 5,0 cm. A obra é inédita.
A série “Minha coleção de sementes Daninhas” (2006/2022) apresenta
objetos como se fossem relicários. O título de cada peça cria um novo nome
científico para o híbrido de planta/homem, unindo os nomes científicos de
ambos. Em cada peça a imagem de uma
planta (com flor) considerada daninha foi bordada com linha, e em sua base a
figura do ser humano bordada com fios de cabelo da artista. Sementes originais da planta foram fixadas no
local de sua representação. Plantas e seres humanos têm assim seus DNAs
representados.
3 – “Daninha? Qual é seu nome?”
(2006/2012), desenho sobre papel
Os desenhos surgiram como forma de não esquecimento, em que imagens de
plantas e pessoas são parte do mesmo organismo, e os nomes nas raízes fazem
refletir sobre racismo, misoginia, e outros preconceitos. Alguns dos
nomes são populares e outros científicos: Bunda-de-Mulata; Maria-sem-vergonha;
Cabeça-de-Negro; Maria-Preta; Malícia-de-Mulher; Mimosa Pudica; Maria-Gorda; Cuspe-de-Caipira.
4 – “O Jardim das Daninhas” (2010)
– 10’, vídeo com o registro de “O Jardim das Daninhas” (2010), na Casa
França-Brasil, Rio de Janeiro.
O vídeo poético traz momentos da montagem do jardim, parte do processo
da artista, , o público interagindo com a obra, e o trabalho em diálogo com o
espaço arquitetônico e as questões políticas, econômicas e sociais na história
da instituição e de seu entorno no tecido urbano da cidade. O jardim de
reflexões, de luta e resistência, contra a exclusão social, o preconceito, o
racismo e outros tipos de violências, consumiu seis meses de trabalho da
artista, junto com uma equipe especializada. Durante este processo, Rosana
Palazyan descobriu que algumas plantas consideradas daninhas eram usadas na
medicina e na culinária, desconstruindo o conceito encontrado nos livros de
agronomia de que "suas virtudes ainda não foram descobertas".
Sobre Rosana Palazyan – Integra um seleto grupo de artistas
contemporâneos brasileiros que fundamentaram seu trabalho no exercício da
alteridade e no papel da arte como ferramenta de transformação social. As obras
da artista resultam de um processo de criação que inclui o envolvimento e
trabalho com pessoas que estão fora do tecido social produtivo para o
capitalismo. Em suas obras, a artista se dedica a construir a arte de estar
junto, da tão importante e difícil convivência das diferenças. As obras revelam
as vozes ocultas e abafadas de pessoas em situações de vulnerabilidade.
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Waltercio Caldas (1946, Rio de Janeiro, onde vive e
trabalha)
“Paisagem EO.395” (2007) – aço
inox, acrílica, granito polido 1,80m (horizontal), 1,18m (horizontal de
cima), 1,65m (vertical do meio) x 1,60m
(verticais das pontas).
A obra é um
convite para reflexões sobre o tempo, espaço, linguagem e percepção. A
escultura, de caráter instalativo, apresenta um desenho tridimensional de
linhas e formas sutis. Referências tradicionais de composição da paisagem são
desconstruídas pelo artista. Desse modo, ele nos oferece a poética de uma ideia
abstrata de paisagem, com a intenção de que possamos cocriar novos significados
e percepções para além do previsível e estabelecido enquanto imagem. A obra nos
oferece um convite ao exercício de imaginação artística, que através de uma
viagem ao campo fértil do pensamento, delira as ideias abstratas como exercício
de liberdade das formas aprisionadas.
Sobre Waltercio Caldas – Escultor, desenhista, artista gráfico e cenógrafo.
Estudou pintura com Ivan Serpa, em 1964, no Museu de Arte Moderna do Rio de
Janeiro. Faz esculturas, instalações, desenhos, objetos e fotografias de
caráter conceitual, que transcendem a ideia de espaço. Utiliza materiais
variados como aço inoxidável, acrílico e fios de algodão.
As obras de Waltercio Caldas, artista reconhecido internacionalmente,
são um convite a reflexões sobre o tempo, espaço, linguagem e percepção. Um dos
seus desafios é desacelerar o processo de percepção para torná-lo mais produtivo
do que previsível. A relação entre os materiais que utiliza também é um aspecto
significativo em seu trabalho. A intenção de sua mensagem poética é a criação
de novos significados.
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Yolanda Freyre (1940, São Luís, Maranhão). Vive e
trabalha no Rio de Janeiro.
“A Hortênsia e a
Galinha” (1974/75)
– impressão jato de tinta sobre papel de algodão, tiragem 5 + 2 PA
“O terço da Hortênsia” (1975) – Livro de
artista, edição 1:3, dimensões variáveis
“A Hortênsia e a
Galinha” é uma obra emblemática
da trajetória da artista, em que faz uma homenagem simbólica aos presos e
desaparecidos políticos da ditadura brasileira. Ao ter conhecimento que seu
próprio irmão havia sido capturado e assassinado pelo regime militar, Yolanda
convida amigos para um ato contra a violência que, por motivos de repressão,
não acontece publicamente nas ruas da sua cidade. A performance é realizada no
ambiente doméstico, onde o corpo da artista invoca a sua força política, e
através de uma parábola de elementos presentes no seu quintal, as hortênsias e
as galinhas do vizinho que insistiam em invadir seu espaço, Yolanda conta a
trajetória de desejo e luta em uma sociedade patriarcal e autoritária que
silencia e ceifa as vidas que a ela se opõem.
Sobre Yolanda Freyre – A prática de Yolanda Freyre se concentra em
temas sociais e na representação do nordeste brasileiro. As sessões
psicanalíticas a levaram a produzir desenhos em nanquim inspirados em um
imaginário pessoal da infância. Teve contato com Ivan Serpa, que a
incentivou a desenvolver seu trabalho de desenho e pintura. Em meados da
década de 1970, diante da repressão da ditadura militar brasileira, começou a
abordar temáticas ligadas à violência em seu trabalho; encenou marchas e
intervenções, inicialmente em espaços públicos, e depois performances para
públicos seletos.
O processo artístico de Yolanda Freyre deve ser entendido
organicamente. Em um primeiro momento se caracteriza por pinturas e
performances ritualizadas. Em um segundo momento, a artista desenvolve a
pesquisa de quantificação da cor/luz. Então, passa a abstrair a cor para melhor
evidenciar a matéria, depois substitui a densidade da matéria por uma
profundidade, resultado de superposições de veladuras. No momento atual,
apresenta uma abertura de rituais para ações, instalações e performances sem
abandonar a pintura na qual passa a utilizar novos suportes. Desenvolve
práticas artísticas escultóricas em concreto, orientadas por um interesse em
geometria. A partir da década de 1990, o seu trabalho volta-se para temas
como a maternidade, a domesticidade, vivência e memória.
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Augusto de Campos (1931, São Paulo, onde vive e
trabalha)
“Poetamenos”
(1953), publicação, 1ª
edição.
Série de seis poemas – “poetamenos”, “paraíso pudendo”, “lygiafingers”,
“nossos dias com cimento”, “eis os amantes” e “dias diasdias” – e um texto
introdutório, em que Augusto de Campos esboça as premissas de seu experimento
sob inspiração da Klangfarbenmelodie (“melodia de timbres”), criada pelo
compositor austríaco Arnold Schoenberg. Augusto de Campos abandona o verso
e a sintaxe convencional, e dispõe as palavras em estruturas gráfico-espaciais,
algumas vezes impressas em até seis cores diferentes. A publicação é
considerada precursora do concretismo brasileiro.
Sobre Augusto de Campos – Poeta, tradutor, ensaísta e crítico de
literatura e música, publicou seu primeiro livro de poemas, “O rei menos o
reino”, em 1951. Como uma das principais vozes da poesia concreta, Augusto de Campos, seu irmão Haroldo de
Campos e Décio Pignatari, fundaram o grupo Noigandres e sua revista
literária, “Noigandres: antologia do verso à poesia
concreta”, na década de 1950. Assim como StéphaneMallermé, os
Noigandres estavam interessados em explorar os elementos visuais das palavras
escritas e impressas, juntamente com as performances cantadas ou faladas desses
textos, que chamavam de verbivocovisual.
Em 1955, no segundo número da revista, publicou uma série de poemas em
cores, “Poetamenos”, considerados os primeiros exemplos consistentes de
poesia concreta no Brasil.
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Antonio Manuel (1947, Avelãs de Caminho,
Portugal). Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
“Valores intrínsecos” (2009) – acrílica
sobre tela, 200 x 260 cm
A obra
pertence à série de pinturas desenvolvidas pelo artista a partir da década de
1980, de caráter abstrato-geométrico, nas quais desenvolve elementos
importantes da sua pesquisa como as relações com a cor, a construção do espaço
e a sugestão de labirinto. As questões tradicionais da pintura como figura e
fundo são atravessadas pelo artista, que ao perfurar a tela, cria um buraco que
destaca o seu fundo, no caso, a parede da Galeria Anita Schwartz. No gesto
radical de Antonio Manuel, há uma invocação de conceitos fundantes e amplamente
experenciados pelo modernismo, tais como os diálogos entre o “dentro e fora”, a
“transparência”, o “cheio e vazio”.
Sobre Antonio Manuel – Antonio Manuel da Silva Oliveira chega ao
Brasil em 1953 e fixa residência com a família no Rio de Janeiro. Em meados da
década de 1960, estuda na Escolinha de Arte do Brasil, com Augusto Rodrigues
(1913-1993), e frequenta o ateliê de Ivan Serpa (1923-1973). Nessa
época, é também aluno ouvinte da Escola Nacional de Belas Artes. Inicialmente,
utiliza o jornal e sua matriz – o flan – como suporte para seus trabalhos.
Realiza interferências e inventa notícias, nas quais aborda temas políticos e
discussões estéticas. Em 1968, na exposição “Apocalipopótese”, organizada
por Hélio Oiticica (1937-1980) e Rogério Duarte, apresenta as Urnas
Quentes - caixas de madeira lacradas que deveriam ser arrebentadas pelo
público. Em 1970, Antonio Manuel propõe o próprio corpo como obra, no Salão de
Arte Moderna, realizado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ).
Posteriormente, produz vários filmes de curta-metragem, como Loucura &
Cultura (1973) e Semiótica (1975). A partir da década de 1980, realiza pinturas
de caráter abstrato-geométrico, nas quais explora as ortogonais e a sugestão de
labirinto. Apresenta, em 1994, a primeira versão da instalação Fantasma que,
como outras obras do artista, solicita uma reflexão sobre o contexto social e
político brasileiro.
Serviço: Exposição “Klangfarbenmelodie – Melodia de timbres”
Abertura: 6 de setembro de 2022, das 17h às 20h
Até 22 de outubro de 2022
Anita Schwartz Galeria de Arte
Rua José Roberto Macedo Soares, 30, Gávea, 22470-100, Rio de Janeiro
Telefones: 21.2274.3873 e 2540.6446
Segunda a sexta, das 10h às 19h, e aos sábados das 12h às 18h
Entrada gratuita