A Casa de Cultura do Parque tem o prazer de apresentar, de 24 de agosto a 8 de setembro de 2024, a exposição Jogue o seu eu fora, com curadoria de Leonardo Araujo Beserra. A mostra reúne experimentos e registros audiovisuais dos coletivos de arte Claire Fontaine e Bernadette Corporation que giram em torno da crise do sujeito e de uma identidade presente na própria ideia de uma produção artística coletiva, característica desses grupos. O projeto tem idealização do Instituto de Cultura Contemporânea – ICCo e apoio da Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo.
A crítica à contemporaneidade, a interdisciplinaridade e a proposição de novas formas de vida são elementos recorrentes nas obras desses coletivos, que se expressam por meio da ironia, metáfora e até mesmo da contradição. Segundo o curador Leonardo Araujo Beserra, a produção textual e visual de Claire Fontaine e Bernadette Corporation revela uma intrigante relação entre o "eu" e o "outro", onde a capacidade de gerar significados singulares reside no encontro entre o emissor e o receptor.
A exposição apresenta um conjunto de 11 obras que traçam um panorama da produção de Claire Fontaine, entre 2006 e 2018, com destaque para Instruções para a partilha da propriedade privada, de 2006. E a produção completa de Bernadette Corporation, incluindo Jogue fora o seu eu, de 2003, realizado em colaboração com o Partido Imaginário e que empresta seu título à mostra. Além dele também Império, de 2007, filme mudo assinado por Claire Fontaine, Bernadette Corporation e Reena Spauling, personagem criado pelo segundo, concebido como reação ao trabalho Empire, de Andy Warhol, além do curta anônimo E a guerra apenas começou, de 2002.
O duo artístico Claire Fontaine, formado em 2004 em Paris por Fulvia Carnevale e James Thornhill, explora diversas mídias, como vídeo, escultura, pintura e escrita. Seu nome é fruto de uma apropriação do icônico ready-made de Duchamp, o mictório intitulado Fontaine, e a marca de materiais escolares mais famosa da França, Clairefontaine. Sua identidade, dissociada da biografia dos artistas, permite que sua pesquisa se torne uma página em branco e um espaço compartilhado de liberdade e dessubjetivação. Radicado em Palermo desde 2017, ganhou ainda mais projeção internacional em 2024, com sua série seminal de neons Foreigners Everywhere sendo utilizada como título e eixo curatorial da 60ª Bienal de Veneza, sob a curadoria de Adriano Pedrosa.
Já o coletivo Bernadette Corporation, de caráter pós-situacionista e com atuação em Paris e Nova York desde 1994, explora a intersecção entre performance, moda e arte, emulando e subvertendo o conceito das corporações de mercado. Influenciado por figuras como Vivienne Westwood, Malcolm McLaren, Roland Barthes e Jean-Luc Godard, o grupo, fundado por Bernadette van Huy, John Kelsey e Antek Walczak, ganhou notoriedade na cena da moda underground dos anos 1990, com suas criações publicadas em revistas renomadas.
No final da década, o coletivo expandiu sua atuação para o cinema, vídeo e publicações, como a revista Made in USA. Em 2001, em colaboração com Le Parti Imaginaire, produziu o filme Get Rid of Yourself, que combina elementos de ficção e documentário. Outros filmes do grupo incluem The B.C. Corporate Story e Hell Frozen Over, também presentes na exposição.
MAIS SOBRE CLAIRE FONTAINE
Exposições individuais recentes incluem: Star Reply Forward Copy Info Delete, Memphis, Linz, 2022; Siamo con voi nella notte, Museo del 900, Firenze, 2020; I- WE-YES, Studio Concreto, Lecce, 2020; Your Money and Your Life, Galerias Municipais, Lisboa, 2019; La Borsa e la vita, Palazzo Ducale, Genova, 2019; Les printemps seront silencieux, Le Confort Moderne, Poitiers, 2019; #displaced, Städtischen Galerie, Nordhorn, 2019; Fortezzuola, Museo Pietro Canonica, Villa Medici, Roma, 2016; Tears, Jewish Museum, Nova York, 2013; 1493, Espacio 1414, San Juan, Porto Rico, 2013; Sell Your Debt, Queen's Nails, São Francisco, 2013; Redemptions, CCA Wattis, São Francisco, 2013; Carelessness causes fire, Audain Art Museum, Vancouver, 2012; Breakfast starts at midnight, Index, The Swedish Contemporary Art Foundation, Estocolmo, 2012; M-A-C-C-H-I-N-A-Z-IO-N-I, Museion, Bolzano, 2012; P.I.G.S., MUSAC, Castela e Leão, 2011; Economias e Museu de Arte Contemporânea, North Miami, 2010.
MAIS SOBRE BERNADETTE CORPORATION
Formado inicialmente por Bernadette van Huy, John Kelsey e Antek Walczak, atua desde 1994 entre as cidades de Paris e Nova York. Publicações incluem a revista Made in USA, o livro Reena Spaulings (2004) e Bernadette Corporation: the complete poem (2011) de David Vasiljevic. Exposições incluem: Bernadette Corporation na Greene Naftali, Nova York, 2023; The Gay Signs na Gaga, Los Angeles, 2017; Bernadette Corporation: 2000 Wasted Years na Artists Space; A Haven for the Soul na Galerie Neu, Berlim, 2010; The Complete Poem na Greene Naftali, Nova York, 2009; Peliculas, Perros Negros na Cidade do México, 2007; Multiplyplex, Künstlerhaus Stuttgart, 2007; Bernadette Corporation, How To Cook A Wolf, na Kunsthalle Zürich Parallel, 2007; Be Corpse, no Volksbühne Pavilion, Galerie Meerrettich, Berlim, 2006; Bernadette Corporation - King Kong, Hamburg Kunstverein, 2006; Bernadette Corporation, Witte de With, Roterdã, 2005; Cinéma des damnés / Tout doit disparaître, Galerie Yvon Lambert, Le Studio / Project Room, Paris, 2004; e How to make 'life' fashionable?, Galerie Meerrettich, Volksbühne Pavilion, Berlim, 2003.
O LIVRO GREVE HUMANA
No dia 7 de setembro, às 16h, haverá o primeiro lançamento oficial da versão completa da antologia dos textos escritos nos últimos 20 anos de carreira de Claire Fontaine, Greve Humana: por uma prática da liberdade, com uma enriquecedora mesa de conversa com a participação da pesquisadora Fabrícia Jordão e dos artistas Geórgia Kyriakakis e Pablo Vieira.
Além do livro, será lançado o Kit_kitsch #7: Pablo Vieira. Este projeto da GLAC edições é realizado com artistas contemporâneos, convidados para pensar e produzir conjuntamente aos livros que a editora publica. Na ocasião, o artista Pablo Vieira apresenta "Não trabalha mais aqui", uma sacola de papel com o fundo em eucatex, que tem recortado a frase homônima, para ser usada como objeto de intervenção com spray na rua, literalmente um estêncil, ou também como capa do livro Greve humana: por uma prática da liberdade. Desse modo, o Kit une o trabalho do artista ao livro de Claire Fontaine.
O livro reúne 46 textos do coletivo feminista de arte conceitual, abrangendo ensaios, panfletos, cartas e cartazes, que refletem sobre teoria crítica e técnicas para um mundo mais livre. A edição da GLAC inclui traduções da versão francesa, textos da edição americana e material inédito enviado pela artista. A antologia, organizada em ordem cronológica, oferece um panorama da produção de Claire Fontaine ao longo de toda sua carreira, desde seu surgimento em 2004 até a atualidade.
A publicação conta ainda com um posfácio da professora Fabrícia Jordão, notas sobre a tradução e um excerto da GLAC sobre a artista. O conceito de "greve humana" presente na obra tem raízes em movimentos feministas italianos dos anos 1970 e na figura do escrevente Bartleby, de Herman Melville, representando a recusa em participar da engrenagem da miséria capitalista.