

Exposição individual "Um galo sozinho não tece uma manhã", de Guglielmo Castellii
Exposição
- Nome: Exposição individual "Um galo sozinho não tece uma manhã", de Guglielmo Castellii
- Abertura: 01 de abril 2025
- Visitação: até 16 de junho 2025
Local
- Local: Mendes Wood DM
- Evento Online: Não
- Endereço: Rua Barra Funda, 216
Guglielmo Castelli
Um galo sozinho não tece uma manhã
1 de abril–16 de agosto de 2025
Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar Um galo sozinho não tece uma manhã, a primeira exposição de Guglielmo Castelli no Brasil.
Pintor de Turim, Castelli aprimorou seu ofício durante sua formação acadêmica em cenografia – disciplina que moldou sua prática pictórica, especialmente na forma como representa espaços e interiores arquitetônicos. Embora sua estética esteja enraizada nesse contexto, uma crítica à cultura burguesa marca seu horizonte intelectual. A superfície pictórica não é expressão de mera virtuosidade técnica, mas um campo de batalha no qual Castelli compreende a cultura ao seu redor: o peso do legado, a relação entre a alta cultura e o conservadorismo em contraposição ao popular, e a possibilidade de uma ruptura total.
A exposição toma seu título de um verso do poeta brasileiro João Cabral de Melo Neto: Um galo sozinho não tece uma manhã. O verso aparece em A educação pela pedra, coletânea publicada em 1966, quando o Brasil era governado por uma ditadura militar que reprimia artistas e intelectuais com violência crescente nos anos subsequentes. A metáfora do galo, que só consegue anunciar a claridade da manhã se acompanhado de vários outros, mostra-se perene – um tributo à coletividade e à colaboração, que ressoa também com um princípio da abstração geométrica brasileira: o todo é mais do que a soma das partes.
Castelli aborda a ideia de coletivo por meio de composições espaciais e formais, expandindo sua prática pela primeira vez em um ambiente imersivo na galeria Mendes Wood DM em São Paulo. Uma plataforma elevada altera a percepção do espectador, produzindo uma sensação de desorientação que corresponde às perspectivas em suas obras de grande escala. Estar acima do nível do chão cria um efeito de vertigem, amplificando a natureza desestabilizadora das intervenções espaciais de Castelli. Os desenhos que cobrem o piso abaixo intensificam a consciência do observador acerca de sua própria corporalidade em relação às figuras contorcionistas e fragmentadas do artista.
Inspirando-se em diversas tendências abstratas, sem se ater a uma única escola, Castelli traça geometrias de espaços, figuras e formas por meio de uma espécie de pareidolia (a percepção de padrões familiares em formas abstratas), que ele descreve como “liquefação e emergência”. Ao mesmo tempo, transformações e tensões de caráter revolucionário se desdobram ao longo de seu processo e de suas investigações: “O exercício e a submissão ao poder” é algo que, em suas palavras, “nos cerca, nos condiciona e nos molda, quer estejamos conscientes disso ou não.” Os trabalhos mais recentes do artista traçam paralelos entre o cenário político brasileiro e debates contemporâneos na Itália, onde o fascismo ressurgiu.
Ainda assim, as pinturas de Castelli não apresentam narrativas políticas explícitas. Operando em um nível mais onírico, ele sobrepõe camadas de tinta a óleo com habilidade, criando atmosferas turbulentas que remetem à literatura gótica, com figuras fragmentadas e contorcidas, máscaras e membros. Diferentemente dos surrealistas, cuja produção muitas vezes surgia do automatismo ou da exploração do subconsciente, o método de Castelli parte da abstração e se baseia em reflexões sobre a relação entre forma e substância. Seu trabalho é um envolvimento metódico com a materialidade da pintura, suas capacidades de distorção e seu potencial de revelar estruturas no caos.
As novas obras, que refletem a primeira visita de Castelli ao Brasil, se distinguem por uma paleta de laranja, vermelho e amarelo. Pan de Queijo (2024) apresenta uma paisagem urbana desorientadora, em que a arquitetura é ambígua – pode ser europeia ou colonial – e tem a perspectiva distorcida. O erro proposital na grafia de “pão de queijo” reforça a sensação de deslocamento. A figura central se encontra nesse cenário distorcido, presa entre estruturas que, embora familiares, permanecem instáveis. O questionamento sistemático de Castelli acerca de sua própria herança ressurge de maneira diferente ao ser confrontado com a questão da colonialidade no Brasil. A tela parece perguntar: “Como um olhar moldado pelas convenções artísticas europeias se transforma em um contexto pós-colonial? Como um artista europeu pode abordar criticamente e reformar a cultura europeia a partir do Brasil? Como levar em conta as diferenças de perspectiva?”
Moleque (2024) presta homenagem ao pioneiro ítalo-brasileiro do modernismo Alfredo Volpi (1896–1988). Suas Bandeirinhas significavam um modernismo ligado à cultura popular. Castelli espalha essas bandeirinhas ao redor de duas figuras – crianças brincando, um galo e dois cães em briga – evocando uma cena de rua. Nesta obra, as Bandeirinhas se tornam um dispositivo reproduzível, semelhante a um grid (ferramenta onipresente do modernismo canônico), que também aparece em Oh after, after (2024). Castelli emprega a Bandeirinha como o grande indicador do modernismo, mas de um modo voltado ao popular.
O pensamento em torno do popular surge também em sua escolha de exibir pandeiros de couro antigos, nos quais ele pintou cenas em miniatura. Em Meia-dia (2024), figuras usam redes de borboletas em uma paisagem exuberante; o ato de caçar borboletas parece incongruente com o calor do meio-dia implícito na paleta quente. Meia-noite (2024) retorna a uma paleta mais escura, retratando uma figura fragmentada em uma escada com projeções fantasmagóricas. Essas obras continuam a busca de Castelli pela relação entre substância e forma.
Um ensaio de Sofia Gotti acompanha a exposição.
Serviço
Guglielmo Castelli
Um galo sozinho não tece uma manhã
1 de abril–16 de agosto de 2025
Mendes Wood DM
Rua Barra Funda, 216
01152000
São Paulo, Brasil