

Exposição individual "Pulso da Terra", de Kimi Nii
Exposição
- Nome: Exposição individual "Pulso da Terra", de Kimi Nii
- Abertura: 14 de outubro 2025
- Visitação: até 19 de novembro 2025
Local
- Local: Galeria Bolsa de Arte
- Evento Online: Não
- Endereço: Rua Mourato Coelho, 790- Vila Madalena, São Paulo-SP
Kimi Nii: Pulso da Terra
Com formas híbridas e visualmente inquietantes, Kimi Nii transforma o espaço da Galeria Bolsa de Arte, em São Paulo, numa grande paisagem
Tendo a cerâmica como interlocutora da criatividade com o mundo, Kimi Nii apresenta, na sede paulistana da Galeria Bolsa de Arte, Pulso da Terra, exposição individual com sua produção mais recente. Por meio de uma técnica meticulosa, a artista parte da geometria para a criação de formas que adotam a natureza como principal referência — onde esferas se tornam pedras, cilindros transformam-se em plantas, e o empilhamento e a repetição de peças podem ser lidos como galhos e gravetos.
Nas palavras de Douglas Canjani, que assina o texto de apresentação da mostra, Kimi Nii “busca mais obstinadamente formas aparentadas a sementes, brotos, florações, touceiras, troncos, raízes: erguem-se, dobram-se sobre si próprias, espelham-se ou aquietam-se no chão. Em conjunto, é todo um mundo próprio da artista que se afirma e que permite dizer que ela inventa uma ‘botânica imaginária’.”
Pulso da Terra integra o cronograma de comemorações dos 45 anos da Galeria Bolsa de Arte.
O PULSO DA TERRA
Quem conhece o trabalho da ceramista Kimi Nii sabe que sua produção apoia-se numa noção de projeto bastante rigorosa, em que o desenho se articula ora sobre a folha de papel, ora diretamente sobre a argila. A partir de sua formação em desenho industrial, ela vem desenvolvendo um repertório formal preciso e enxuto, em torno do qual exercita variações e recombinações, numa lógica que se poderia chamar de permutacional. Ora com formas geométricas, ora com temas tirados da observação da natureza, ela trabalha as transformações da argila em cerâmica, numa prática de atelier intensa e incansável. Perguntada sobre como organiza seu pensamento no cotidiano atribulado do seu atelier, em que ela cria, organiza e delega uma equipe, ela usa metáforas do mundo natural: “é preciso ser flexível como o bambu”.
Kimi sempre tira partido de princípios geométricos simples (o desenho ordena seu imaginário), que vão se recombinando, num jogo de permutações a que a materialidade da argila e dos esmaltes, em contato com o fogo, agrega um tanto de acaso. Esferas, fusos, cilindros, e outros sólidos de revolução se materializam no torno da ceramista; ali, pirâmides, cubos, romboedros, e outras formas poliédricas. Por vezes, estes volumes vão sofrendo interferências físicas, como cortes, afundamentos (às vezes, com certa violência: um murro sobre uma esfera perfeita, por exemplo), excisões, torções, desdobramentos, e assim por diante, ganhando, cada um, marcas distintivas de maior singularidade.
No seu atelier, que se poderia chamar de uma fábrica artesanal, o olhar não descansa: as peças se exibem, por analogia ou contraste, em diálogos de forma, tamanho, cor e textura. Ela cria suas peças com conhecimento e rigor, respeitando os limites do material, mas buscando por vezes os limites do que a relação da terra com o fogo permite. Acompanha com excitação e respeito a abertura do forno cerâmico, quando um tanto de incertezas pode afetar, com a queima, o resultado final das peças. Há um fluxo de energia que perpassa o processo como um todo, e ao qual é preciso estar atento, respeitando-o, e a partir do qual é preciso renovar e recolocar o conhecimento do metier.
Mais recentemente, é possível perceber nas peças de Kimi a adesão a formas mais declaradamente naturais, assimiladas na observação das plantas e minerais que ela tem em seu jardim-atelier, bem como em viagens durante as quais ela está sempre atenta, e sobre as quais tem sempre uma narrativa interessante. Deste modo, tanto a forma geométrica quanto a orgânica confluem no seu processo de produção e, dado seu talento e larga experiência, alcançam sínteses surpreendentes.
Nesse imaginário tão universal e ao mesmo tempo extremamente particular, as esferas se tornaram “pedras”, volumes facetados cuja graça é brincar com a nossa percepção, insinuando-se entre o orgânico/rugoso ou o geométrico/liso, em combinações infinitas entre os termos simples e originais. Os cilindros puros tornam-se “cavalinhas”, formas vegetais primevas que se organizam pelo aparente empilhamento e repetição de unidades simples, ou emulam gravetos que poderiam compor uma enorme fogueira. De outro lado, surgem aglutinações de pequenas esferas, como bolhas a fermentar, numa estrutura líquida que se arranja por acomodação molecular...
Agora, ela busca mais obstinadamente formas aparentadas a sementes, brotos, florações, touceiras, troncos, raízes: erguem-se, dobram-se sobre si próprias, espelham-se, ou aquietam-se no chão. Em conjunto, é todo um mundo próprio da artista que se afirma e que permite dizer que ela inventa uma “botânica imaginária”.
Ao organizar as peças em “famílias”, o que Kimi nos oferece é um imaginário de espantosa plasticidade e vigor, permitindo-nos uma contemplação de um universo todo próprio, mas no qual reconhecemos, ao mesmo tempo, o mundo que nos cerca. As novas figuras, como espinhos que se projetam centrifugamente no espaço, trazem novos temas plásticos e nos fazem pensar nas vicissitudes dos tempos atuais, e na preocupação da artista com o mundo atual. Mesmo assim, todo este cenário de materiais e de alusões, de formas e sugestões, se desenrola com máxima elegância e sobriedade.
É a inteligência da obra, com seus princípios permutacionais, que se afirma, pois “em todo visível há um forro de invisível”: à materialidade da argila corresponde um pensamento límpido, singelo, mas ao mesmo tempo exuberante, afirmativo.
Se o conjunto sugere um bosque ou um campo rupestre, ou ainda um agreste imaginado, ele não se deixa apreender facilmente, pois tudo é sugerido para logo se metamorfosear. Dá-se assim um convite para adentrarmos esta paisagem de formas híbridas e inquietantes que brincam e desafiam-se entre si, com sua condição mineral e sua aparência vegetal, desenrolando-se como um teatro telúrico das forças da natureza.
Douglas Canjani
Serviço
Kimi Nii: Pulso da Terra
Abertura: 11/10/25- 11h às 15h
De 14/10/25 a 19/11/25
Texto: Douglas Canjani
Galeria Bolsa de Arte
Rua Mourato Coelho, 790- Vila Madalena, São Paulo-SP
Ter a sex. 10h-18h sáb. 11h-16h
email: saopaulo@bolsadearte.com.br | instagram: @galeriabolsadearte
+55 11 3812-7137 | +55 11 99974-7137
Espaço acessível para cadeirantes
Classificação: livre