

Exposição individual "Nem tudo que é sólido, se desmancha no arado", de João Angelini
Exposição
- Nome: Exposição individual "Nem tudo que é sólido, se desmancha no arado", de João Angelini
- Abertura: 20 de setembro 2025
- Visitação: até 23 de novembro 2025
Local
- Local: Pé Vermelho - Espaço Contemporâneo
- Evento Online: Não
- Endereço: Av. 13 de maio, quadra 57 lote 6, Praça São Sebastião – Planaltina (DF)
"Nem tudo que é sólido, desmancha no arado" | Mostra celebra 20 anos de carreira de João Angelini
Para comemorar duas décadas de trabalho, no dia 20 de setembro, a partir das 18h, no Pé Vermelho – Espaço Contemporâneo, o artista visual planaltinense João Angelini realiza a mostra "Nem tudo que é sólido, desmancha no arado". Com curadoria de Luciana Paiva e de Paulo Henrique Silva, a mostra passa em revista a produção do artista com a apresentação de 50 trabalhos e experiências vídeo, animação, desenho, gravura, holografia, instalação e pintura. Dispostas em ordem alfabética, elas compõem a exposição apresentando um recorte da produção de João Angelini e revela o alcance multidisciplinar do artista. Em exibição até o dia 23 de novembro, a mostra tem visitação de quinta a domingo, das 17h às 21h, e conta com educativo para visitas mediadas. A entrada é gratuita e livre para todos os públicos. O Pé Vermelho – Espaço Contemporâneo fica na Avenida 13 de maio, Quadra 57, Lote 6 – Setor Tradicional, Planaltina – DF. No Instagram e no Facebook @pervermelhoec. Este projeto é realizado com o patrocínio da Política Nacional Aldir Blanc – Distrito Federal (PNAB-DF).
Em "Nem tudo que é sólido, desmancha no arado", Angelini apresenta um recorte amplo de sua produção. As obras partem de um eixo conceitual: O tensionamento entre a modernidade urbana de Brasília e a ruralidade colonial do Goiás, com seus desdobramentos históricos, políticos e ambientais. Questões como ocupação territorial, táticas de controle social, violência estrutural e ecocídio no Centro-Oeste são abordadas de forma poética e crítica, a partir de uma perspectiva enraizada no território e na vivência periférica do próprio artista.
A escolha de Planaltina como sede da mostra tem caráter afetivo, político e simbólico. Apesar da extensa circulação nacional e internacional – com participação em mais de 100 exposições, 29 prêmios e obras em acervos como Museu de Arte de Brasília (MAB), Museu de Arte do Rio (MAR), Pinacoteca de São Paulo, Museu da Fotografia de Fortaleza e Coleção Itaú Cultural –, Angelini nunca havia realizado uma individual em sua cidade natal. Trazer essa retrospectiva para o lugar de origem é, segundo o artista, "trazer para o território o que por tanto tempo foi extraído e circulou fora dele".
Séries, gestos e suportes
A curadora da mostra Luciana Paiva ressalta a importância da experimentação e da diversidade de gestos e linguagens dos trabalhos na produção do artista, como vídeo, performance, objeto e gravura, além dele repensar as mídias tradicionais como a pintura. "A série de pinturas "A Seco" é uma das mais conhecidas de Angelini. Ela consiste em um gesto inverso ao de acrescentar camadas de tinta na tela para se formar uma imagem, já que neste processo a imagem se define pela retirada de camadas que revelam as cores submersas a partir de uma estratificação. Esse pensamento, que tem algo de científico, demonstra a predileção do artista por compreender o funcionamento das coisas e está na base da maioria de seus trabalhos. Pode ser observado desde um de seus trabalhos mais antigos que vai integrar a mostra, o vídeo "Barras e tons" (2005)", afirma Luciana.
Luciana Paiva assegura que a entrada de João no Grupo EmpreZa contribuiu muito com os aspectos formais e técnicos dos trabalhos, agregando um pensamento voltado para o vídeo e a fotografia. Além do registro das performances, alguns trabalhos começaram a ser pensados especificamente para essas mídias. Por outro lado, "o EmpreZa trouxe uma enorme influência para o trabalho autoral do João, que é o pensamento cerratense", diz a curadora. "É a partir do convívio com o EmpreZa que João assume e incorpora em seu trabalho aspectos da paisagem, do imaginário e do vocabulário goiano, do centro-oeste e do cerrado."
Para além da territorialidade e das tensões sociais, a produção de Angelini se organiza em torno da transformação da matéria em tempo e do processo como linguagem: imagens que se apagam, poeira que cai, pedra que se desgasta, desenhos que viram filme e retornam ao espaço expositivo. O gesto — do ofício manual às rotinas de controle do Estado — torna-se tema e método, revelado por técnicas minuciosas de raspar, gravar, mapear luz e combinar objeto e vídeo. A escolha de materiais não é neutra: mármore, terra vermelha, cinza, osso, esmalte e entulho atuam como arquivos de história, fazendo do suporte um documento.
O Paulo Henrique afirma que a obra do artista é atravessada pela fricção entre ruralidade e modernidade; o embate entre a promessa modernista e seus restos; a crítica ao extrativismo e às economias que uniformizam a paisagem; a arqueologia das instituições (camadas que revelam memórias de lugar); a cartografia e os mitos fundacionais; o jogo entre ilusionismo técnico e precariedade deliberada; e uma ética de transparência que aproxima o público do "como" das coisas, não apenas do "o quê". "É nesse campo de tempo, gesto e matéria que trabalhos de períodos distintos se reconhecem e se tensionam", diz Paulo Henrique.
O colonial e o moderno
Paulo Henrique enfatiza a fricção entre matéria, tempo e território. "É um eixo que atravessa os vinte anos de pesquisa de João Angelini, a partir de três vetores — "Deserto Verde", "Céu de Mármore" e "Nem tudo que é sólido, desmancha no arado "", diz o curador. Em "Deserto Verde" e "Céu de Mármore", é importante destacar, no conjunto de trabalhos apresentados, como a monocultura de soja e milho impõe ao Cerrado uma pele uniforme que parece abundância, mas produz empobrecimento; em paralelo, o "Céu de mármore" convoca tanto o material empregado nas obras quanto a rigidez simbólica que o artista utiliza para referenciar a modernidade brasiliense. Já em "Nem tudo que é sólido desmancha no arado", João sinaliza e chama atenção para um "desmanchar" que não é desaparecer, mas, sim, uma mudança de estado. A forma se converte em duração, como no processo fotográfico, enquanto o arado evoca o solo preparado para um único cultivo, um lugar esvaziado, onde memórias se desfazem na poeira.
"Essa ênfase torna visíveis as continuidades entre a ruralidade colonial goiana e a utopia moderna de Brasília, os ciclos de ocupação territorial no Centro-Oeste e as violências, do ecocídio ao genocídio, que estruturam o país. Ao sublinhar essa passagem da matéria ao tempo, do gesto ao território, esse enfoque evidencia a unidade ética e poética que costura sua produção ampla e reconhecida", ressalta o curador.
Sobre o artista
João Angelini mora em Planaltina, na periferia rural de Brasília. A cidade é uma fonte de imagens, situações e informações para muitas de suas obras. Seu trabalho tem como enfoque as questões processuais, as reflexões dos modos de fazer, os limites e as convergências de linguagens e técnicas artísticas. Suas pesquisas se desdobram em diversos meios como gravura, pintura, teatro, fotografia, vídeo, música, animação e performance. Muitas de suas obras mesclam métodos e suportes. O que de fora parece muita informação para lidar e poderia gerar confusão, para ele não é. "Tenho uma cabeça que separa as linhas de produção", esclarece. Além de sua produção individual, o artista fez parte do coletivo EmpreZa, grupo de performance, e atua como professor. Em 2019, junto com Luciana Paiva e Marcela Campos, fundou o Pé Vermelho – Espaço Contemporâneo.
Sobre os curadores
Luciana Paiva é artista, participa de exposições regulares desde 2004 atuando também como professora e na organização e curadoria de eventos em arte. Bacharel em Artes Visuais, mestre em Poéticas Contemporâneas e doutora em Métodos e Processos em Arte pela Universidade de Brasília (PPGAV/UnB). Desde 2017 integra o grupo de artistas-gestores do Pé Vermelho Espaço Contemporâneo em Planaltina – DF. Em 2011 cursou o Programa Aprofundamento da Escola de Artes Visuais do Parque Lage no Rio de Janeiro e participou do "Rumos de Artes Visuais 2011-2013". Em 2019, foi uma das artistas selecionadas para o 29o Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo apresentando a exposição individual Cidade Partida. Em 2022, realizou a exposição individual "Ar-reverso" no Espaço Cultural Renato Russo em Brasília. Seu trabalho artístico lida com a visualidade e materialidade do texto, a ilegibilidade e a estrutura da linguagem. Faz uso de procedimentos construtivos e desconstrutivos para reconfigurar elementos da paisagem urbana, da arquitetura e dos códigos da escrita.
Luciana Paiva e João Angelini são amigos desde a graduação (UnB), em 2002. "Desde então acompanhamos, participamos e colaboramos com o trabalho um do outro", afirma Luciana. Trabalharam juntos na fundação e hoje fazem a gestão do Pé Vermelho - Espaço Contemporâneo em Planaltina (DF) em conjunto com Marcela Campos, LuFerris e uma ampla rede de colaboradores. "Antes disso, fizemos algumas parcerias para realização de exposições coletivas e colaborações em trabalhos, como a exposição "O Pornógrafo" (2004) e as animações "Linhas" (2011) e "Paisagem Pautada" (2016). Também trabalhamos simultaneamente durante um período como professores da Faculdade de Arte Dulcina de Moraes e pudemos compartilhar alguns projetos, curadorias e orientações", completa a curadora.
Paulo Henrique Silva foi aluno e professor na Escola de Artes Oswaldo Verano, mantida pela Prefeitura de Anápolis (GO), e graduou-se em Artes Visuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Desde 2004, dedica-se à curadoria, com foco no estudo e na pesquisa da arte contemporânea produzida na Região Centro-Oeste do Brasil. Projetos recentes incluem as mostras Entre Acervos, Dialetos 1 e 2, Novas Aquisições, Um Acervo em Construção, Fotografia no Acervo do Mapa, Conversas – resistência e convergência e Vozes do Silêncio. Foi curador em mais de onze edições do Salão Anapolino de Arte e tem contribuído significativamente para a ampliação do acervo do MAPA e o fortalecimento da arte contemporânea no interior do Brasil. De 2020 a 2024, foi responsável pela Coordenação do Fundo Municipal de Cultura e Editais, Curadoria e Gestão do MAPA e da Galeria de Artes Antônio Sibasolly, em Anápolis.
Paulo Henrique Silva e João Angelini se conheceram em 2005, no 14º Salão Anapolino de Arte, do qual Paulo Henrique era curador e João Angelini foi premiado pela primeira vez. Desde então, juntos trabalharam em duas edições do Salão Anapolino, na Galeria de Artes Antônio Sibasolly, em Anápolis (GO); 1º Salão Nacional de Arte Contemporânea de Goiás, no Museu de Arte Contemporânea de Goiás (MAC), em Goiânia (GO); no Conversas: Resistência e Convergência, na Casa das Onze Janelas, em Belém (PA), e no MAC, em Goiânia (GO); Fotografias e vídeos no acervo do Mapa; Casa de la Cultura, Buenos Aires, Argentina.
Serviço
Nem tudo que é sólido, se desmancha no arado
De João Angelini | em comemoração aos 20 anos de trajetória
Vídeo, animação, desenho, gravura, holografia, instalação e pintura
Curadoria | Luciana Paiva e Paulo Henrique Silva
Abertura | 20/09, a partir das 18h
Visitação | Até 23/11
De quinta a domingo, das 17h às 21h,
Mediante agendamento pelo e-mail pevermelho@pevermelho.art
Onde | Pé Vermelho - Espaço Contemporâneo
Av. 13 de maio, quadra 57 lote 6 - Praça São Sebastião
Planaltina-DF
Entrada | Gratuita
Classificação indicativa | Livre para todos os públicos
Instagram | @pevermelhoec
Facebook | facebook.com/pevermelhoec