

Exposição individual "Desenhos de Chegada", de Emilia Estrada
Exposição
- Nome: Exposição individual "Desenhos de Chegada", de Emilia Estrada
- Abertura: 09 de agosto 2025
- Visitação: até 09 de novembro 2025
Local
- Local: SESC Ramos
- Evento Online: Não
- Endereço: Rua Teixeira Franco, 38 - Ramos
Artista argentina faz sua primeira individual no Sesc Ramos
Emilia Estrada discute deslocamentos e processos de colonização com 13 obras produzidas nos últimos seis anos; além de série inédita
A artista argentina Emilia Estrada, radicada no Brasil há 14 anos, apresenta sua primeira individual no Sesc Ramos, no Rio de Janeiro. A exposição Desenhos de Chegada, com abertura em 9 de agosto e curadoria de Ana Clara Simões Lopes, reúne 13 obras realizadas entre 2019 e 2025, incluindo a série inédita Observação à sombra alta, na qual a artista redesenha o relevo lunar, reunindo todas as crateras nomeadas em homenagem a cientistas árabes.
"O uso do território lunar é algo muito forte na obra da Emilia. É um espaço onde ela pode fabular tensões, disputas e deslocamentos de forma poética e, ao mesmo tempo, política", afirma a curadora Ana Clara Simões Lopes. Cada flâmula da série é adornada com franjas de pingentes dourados e pedra basáltica — rocha vulcânica presente tanto na Terra quanto na Lua. Assim, a artista dá uma forma concreta a uma paisagem simbólica.
O relevo lunar surge pela primeira vez em sua produção na obra Dibujo del cielo (2023), em que crateras emergem sobre a imagem de um passaporte emitido sob o mandato de ocupação britânica da palestina . A justaposição entre o documento e o solo lunar evoca a origem da artista, cuja avó paterna, Alicia, nasceu na Palestina e migrou para a Argentina em 1928.
Nascida em Córdoba, na Argentina, Emilia migrou para o Rio de Janeiro em 2014, período em que a cidade passava por violentas transformações em preparação para eventos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Nesse contexto de desorientação e reconfiguração urbana, ela começou a desenhar mapas imaginários como forma de se localizar no território estrangeiro e, ao mesmo tempo, questionar os limites históricos e geográficos da cidade.
"Os trabalhos da Emilia abordam deslocamentos e provocam perguntas como: o que é um mapa? O que é uma nação? O que é um Estado?", comenta Ana Clara. "São temas que vivenciamos no cotidiano, mas que raramente paramos para refletir em meio à vida na cidade."
Sua pesquisa envolve o estudo de cartas cartográficas, com atenção especial a ícones, padrões e ornamentos. Dentro desse contexto está a obra Rumores áridos em direções úmidas (2022), em que Emilia revisita arquivos de expedições marítimas do século XVI para reimaginar os mapas da colonização.
Ela apaga a delimitação de territórios e preserva apenas os adornos e os cursos d'água, reinventando a paisagem colonial como ficção. Sobre essa base, insere o percurso mítico rumo à inatingível Ciudad de los Césares, uma cidade patagônica lendária que nunca foi encontrada pelos colonizadores.
"A cartografia, que em tese é um instrumento de orientação e conhecimento, também foi uma ferramenta de exploração e conquista", afirma a artista. "Passei a colecionar elementos iconográficos desses mapas para pensá-los não como algo neutro, mas como imagens que carregam intenções. Faço um exercício de subtração: às vezes deixo só o mar, só os rios ou apenas os ornamentos. É quase um gesto escultórico, mas realizado no desenho."
Emilia desenha essas paisagens em carvão sobre linho e aplica folhas de ouro para criar contrastes em certas rotas e ornamentos. Os trabalhos são apresentados como estandartes ou bandeiras, símbolos historicamente também usados por colonizadores como marca de ocupação e poder sobre um território.
A artista ressalta que é, antes de tudo, uma desenhista. Não importa se a obra toma forma como escultura ou instalação, o desenho é sempre sua matéria-prima. "É o jeito que eu tenho para organizar todos esses pensamentos", explica Emilia. Pensamentos que ganham corpo como paisagens inventadas, territórios imaginados, monumentos desmontados. Cada linha sua não delimita: abre caminho para uma nova chegada.
SOBRE A ARTISTA
Emilia Estrada. (Córdoba, 1989) É artista e pesquisadora radicada no Rio de Janeiro. Seu trabalho se debruça sobre ideias de ocupação e deslocamento, abordando com sensibilidade as lacunas nos arquivos oficiais por meio da escavação de memórias soterradas e narrativas históricas não hegemônicas. Sua prática desafia a cartografia como ferramenta de apagamento e dominação, bem como questiona a suposta objetividade da ciência ocidental. A artista participou de exposições em importantes instituições nacionais, como Formas das águas, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2025), e A parábola do progresso, no Sesc Pompeia (2022); e em galerias internacionais, como Cada manhã, um tempo, na Galeria Hatch (Paris, 2025), Otra orilla [Outra costa], na mostra Gateway em Manarat Saadiyat (Abu Dhabi, 2024), e Muamba: traços brasileiros de movimento, na Galeria Ruby Cruel (2023).
SOBRE A CURADORA
Ana Clara Simões (Rio de Janeiro, 1996) é historiadora da arte, pesquisadora e curadora. Bacharel em História da Arte pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), atualmente atua como assistente curatorial e coordenadora de pesquisa na Bienal das Amazônias . Integrou a equipe de curadoria do Solar dos Abacaxis, de pesquisa da Casa França-Brasil durante a gestão de Marcelo Campos (2017-2018), colaborando ainda com as exposições "À Nordeste" (Sesc 24 de Maio, 2019), "FARSA – Língua, Fratura, Ficção: Brasil-Portugal" (Sesc Pompéia, 2020) e Miriam Inez da Silva (Museu da República, 2021). Foi a curadora da retrospectiva "RGB" de Carlos Cruz-Diez (CCBA, 2024), primeira individual do artista no norte do Brasil e da mostra coletiva "Fazer com, Pensar Junto" (Centro Cultural dos Correios, 2025).
SINOPSE LONGA
Na exposição Desenhos de Chegada, em cartaz no Sesc Ramos a partir de 9 de agosto, a artista argentina-palestina Emilia Estrada desestabiliza o olhar colonial sobre o território. Em desenhos e instalações que tensionam a linguagem cartográfica, Estrada questiona os dispositivos de controle que definem fronteiras e apagam da história oficial as trajetórias daqueles que migraram ou foram deslocados. Radicada no Brasil há mais de uma década, a artista parte de sua própria história familiar — sua avó paterna migrou da Palestina para a Argentina em 1928 — para repensar o mundo tal como nos foi imposto pelas convenções geopolíticas do Ocidente moderno. Com curadoria de Ana Clara Simões Lopes, a mostra reúne 13 obras realizadas entre 2019 e 2025.
SINOPSE CURTA
Na exposição Desenhos de Chegada, em cartaz no Sesc Ramos a partir de 9 de agosto, a artista argentina-palestina Emilia Estrada reflete sobre diferentes formas de deslocamento e disputas territoriais políticas, simbólicas e afetivas. Em desenhos e instalações que tensionam a linguagem cartográfica, Estrada questiona os dispositivos de controle que definem fronteiras e invisibilizam memórias de deslocamento. Com curadoria de Ana Clara Simões Lopes, a mostra reúne 13 obras realizadas entre 2019 e 2025.
SERVIÇO
DESENHOS DE CHEGADA
Emilia Estrada
curadoria: Ana Clara Simões Lopes
Abertura: 9 de agosto, sábado
15h: conversa com a artista Emilia Estrada e a curadora Ana Clara Simões Lopes
visitação: 9 de agosto a 9 de novembro de 2025
Terça a sexta, das 10h às 18h; sábados, domingos e feriados, das 9h às 17h
SESC Ramos, Rua Teixeira Franco, 38 - Ramos. Rio de Janeiro, RJ
Entrada gratuita