

Exposição "Frans Krajcberg (1921-2017) – Natureza em preto e branco"
Exposição
- Nome: Exposição "Frans Krajcberg (1921-2017) – Natureza em preto e branco"
- Abertura: 25 de julho 2022
- Visitação: até 27 de agosto 2022
Local
- Local: Pinakotheke Cultural, Rio de Janeiro
- Evento Online: Não
- Endereço: Rua São Clemente 300, Botafogo
Frans Krajcberg (1921-2017) –
Em comemoração ao centenário de nascimento de Frans Krajcberg, um artista pioneiro na defesa do meio ambiente, a
mostra cria uma conversa entre suas obras – pinturas, gravuras, esculturas e
fotografias em preto e branco – e fotografias e filmes de Luiz Garrido, seu amigo e incentivador ao longo de sua vida
A Pinakotheke Cultural, em sua sede do
Rio de Janeiro, fará, em colaboração com a Associação de Amigos de Frans Krajcberg, a exposição “Frans Krajcberg (1921-2017) – Natureza em preto e branco”, que abre para o público no próximo dia 25 de julho de 2022. A exposição tem curadoria de Galciane Neves e Max
Perlingeiro, e celebra o centenário de nascimento de Frans Krajcberg, “um precursor na
defesa do meio ambiente”, como destaca Marcia
Barrozo do Amaral, presidente da AmaFrans. “Ele se revoltou com a
destruição da natureza que conheceu em suas viagens pelo país, e sua indignação
não esmoreceu até o fim de sua vida, aos 96 anos”, conta.
“Natureza em preto e branco” apresenta pinturas, esculturas,
gravuras e fotografias em preto e branco de Frans Krajcberg, em diálogo com fotografias e filmes de Luiz Garrido (1945, Rio de Janeiro), seu
amigo e incentivador ao longo de sua vida, e que durante décadas o fotografou
em diversas ocasiões. Estará na mostra o ensaio e o documentário produzidos por
Garrido em 1996, em Nova Viçosa, na Bahia, com registros de intimidade entre os
amigos, fruto de um olhar que se achegava do “homem-árvore”, embrenhado na
urgência da vida.
A exposição será
acompanhada do livro “... ao acordar, a
natureza estava preta e branca”, com textos de Galciane Neves, Jaider Esbell, Thiago de
Mello, Max Pelingeiro, Bené Fonteles, uma entrevista da
curadora com o artista Advânio Lessa (1982,
Lavras Novas, Minas), amigo de Krajcberg, e ainda o Manifesto do Rio Negro do Naturalismo Integral, de Pierre Restany
(1930-2003), lançado em 1978, na presença de Sepp Baendereck (1920-1988) e Frans
Krajcberg.
A ESTÉTICA NÃO ME BASTA
Max Perlingeiro afirma que “distribuída em telas, esculturas, objetos, relevos e
fotografias, a produção de Krajcberg encerra um impressionante libelo pela preservação do patrimônio ambiental, bem
de uso comum do povo e consagrado à subsistência e proveito da humanidade”.
Marcia Barroso do
Amaral conta que ouviu incontáveis vezes Krajcberg dizer: “A estética não me basta. É necessário que a obra possa ecoar e
reverberar o grito que trago no peito”. Judeu de origem polonesa, ele
chegou ao Brasil em circunstâncias trágicas, aos 27 anos, buscando superar os
horrores da Segunda Grande Guerra, conflito no qual esteve pessoalmente
envolvido e que lhe roubou a família, dizimada nos campos de concentração.
“Aqui, neste país tropical, de natureza exuberante, Krajcberg encontrou
mais do que inspiração para sua obra”, diz Marcia. “Além de excepcional artista
– premiado em importantes Bienais, como Veneza e São Paulo, e com obras nos
acervos de importantes museus, como o Beaubourg, em Paris – Krajcberg foi
um combatente, um ativista ambiental,
quando ainda pouquíssimos se sensibilizavam pelo tema e por suas drásticas
consequências. Impossível examinar suas esculturas, pinturas e relevos sem a conexão profunda e indissociável com a
causa que o artista abraçou, integral e decididamente ao longo de sua vida.
Nesse caso, não há forma dissociada do conteúdo, do contexto em que fora
recolhido o suporte natural”, afirma.
Para ela, a obra
de Krajcberg “é o alerta de um
pioneiro na defesa e preservação de nossos biomas naturais e dos remanescentes
povos originários, e uma exortação dolorosamente atual, ante a colapsada fiscalização e controle ambiental
sob responsabilidade do Estado brasileiro”.
LUIZ GARRIDO POR FRANS KRAJCBERG
Frans Krajcberg
disse sobre a obra de seu amigo Luiz Garrido:
"A técnica não
é tudo, e sim a participação do artista na obra. Na fotografia me impressiona
essa relação do fotógrafo com a máquina, a maneira como ele cria, a percepção
da luz, o enquadramento da imagem, o momento exato do clique. Conheci o
Garrido, em Paris, em 1968, quando ele estudava fotografia, e nossa amizade
desenvolveu-se a partir dos muitos encontros nos quais sempre discutíamos
bastante sobre o assunto. Depois de alguns anos, descobri, já no Rio de
Janeiro, o fotógrafo Garrido e fiquei impressionado com o seu trabalho. Um
artista captando, com a máquina fotográfica, uma imagem muito própria, criando
sua obra. Isso me impressiona sempre, o talento e o desejo de criar uma obra
própria, o trabalho de pesquisa, o domínio da técnica como instrumento e não
como fim. A máquina não é tudo, o artista sim. Os retratos, foco de seu atual
interesse e que fazem parte dessa exposição, são a síntese dessa união entre
técnica, luz, imagem, percepção de um momento fugaz de um olhar, um gesto, uma
postura que dizem algo além da imagem retratada. Em resumo, é a participação,
por inteiro, de artista, em sua obra, são os retratos do ponto de vista
Garrido, é a fotografia como forma de expressão, arte, uma obra que foi
cuidadosamente elaborada e que transcende a imagem retratada".
SOBRE FRANS KRAJCBERG
Frans Krajcberg foi escultor, pintor, gravador e fotógrafo. Autor de obras que
têm como característica a exploração de elementos da natureza. Destaca-se pelo
ativismo ecológico, em que associa arte à defesa do meio ambiente. Em toda sua
trajetória, participou seguidamente de exposições em importantes museus no
Brasil e no exterior, foi premiado várias vezes. Participou de Bienais em
vários países – França, Cuba, Uruguai – foi premiado na Bienal de Veneza, em
1964, integrou muitas edições da Bienal Internacional de São Paulo, desde a
primeira, em 1951, e continuamente as de 1953,1955,1957,1961,1963 1977
1979 1989 e 2000.
Frans Krajcberg
nasceu em 12 de abril de 1921, em Kozienice, na Polônia, filho de um modesto
comerciante, e de mãe militante comunista. É o terceiro de cinco filhos: dois
irmãos e duas irmãs. Por ser judeu, sofre preconceitos e perseguições pelos
nazistas. Toda sua família foi morta no Holocausto. Preso, consegue fugir.
Integra-se ao exército russo, aquartelado na Polônia, seguindo para Vilna, de
onde é enviado à Romênia. Depois de tentar ingressar sem sucesso na Escola de
Belas-Artes de Vitebsk, desloca-se para Leningrado, onde começa a estudar
engenharia hidráulica e belas-artes na universidade, em 1940. Em 1941, quando os alemães invadem a URSS, Krajcberg
integra-se à Resistência Polonesa, incorporando-se a seguir ao exército
polonês, apoiado pelos russos. Com a patente de oficial, ajuda a construir
pontes de emergência nas frentes de batalha. No fim da guerra, vai pra
Alemanha, estuda com Willi Baumeister (1889-1955), professor da Bauhaus, na Escola de Belas-Artes de
Stuttgart. Expõe no Centro de Refugiados da cidade. Em 1948, migra para o
Brasil aos 27 anos, incentivado pelo amigo e também artista plástico Marc
Chagall. Sem dinheiro e sem saber falar português, dorme ao relento durante
alguns dias na praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, então partindo para São
Paulo, onde, recomendado por Francisco Matarazzo, é contratado para trabalhar
como operário na manutenção do Museu de Arte Moderna. Expõe duas pinturas na I
Bienal Internacional de São Paulo, em 1951,
época em que trabalhava na montagem da exposição no pavilhão Trianon, como
funcionário do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Participa do I Salão
Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia, em São Paulo. Expõe
individualmente na Galeria Domus, em São Paulo. Em 1952, por indicação de Lasar Segall, que dele comprara um desenho, vai
trabalhar como engenheiro-desenhista nas indústrias de papel Klabin em Monte
Alegre, no Paraná. Contudo, abandona esse emprego para se isolar nas matas para
pintar. Ali, no interior do Paraná, Krajcberg testemunha desmatamentos e
queimadas nas florestas. Participa da II e da III Bienal de São Paulo, e em
1956 se muda para o Rio de Janeiro, onde produziu os seus primeiros trabalhos
fruto do contato direto com a natureza. Em 1964, criou suas primeiras
esculturas com madeiras mortas. Realizou diversas viagens à Amazônia e ao
Pantanal, fotografando e documentando os desmatamentos, além de recolher
materiais para as suas obras, como raízes e troncos calcinados. Em 1969,
participa de exposições em vários países, e passa a internacionalmente
conhecido. Em 1975 ganha uma
exposição individual no Centro Nacional de Arte Contemporânea e no Centro Georges
Pompidou, em Paris.
A partir de 1972
viveu no sul da Bahia onde manteve o seu ateliê no Sítio Natura, no município
de Nova Viçosa. Chegou ali a convite do amigo e arquiteto Zanine Caldas
(1919-2001), que o ajudou a construir sua morada: uma casa, a sete metros do
chão, no alto de um tronco de pequi com 2,60 metros de diâmetro. À época Zanine
sonhava em transformar Nova Viçosa em uma capital cultural e a sua utopia
Em 1978, durante
32 dias, Frans Krajcberg, o artista Sepp Baendereck e o crítico Pierre Restany
cruzaram em um barco o Rio Negro, na região amazônica. Durante o trajeto eles
refletiam sobre uma nova maneira de ver, sentir e fazer a arte dentro de uma
ótica voltada para a realidade brasileira. Os dois artistas, Baendereck e
Krajcberg, então já cidadãos brasileiros e declaradamente apaixonados pela
nossa biodiversidade, convidaram o crítico Pierre Restany para que ele
aprofundasse sua relação com o Brasil e pudesse perceber melhor a grandeza de
nosso país. No final do empreendimento, além de um “Diário de Viagem”, Restany
produziu o “Manifesto do Rio Negro”, que foi divulgado em outubro de 1978 em
todo o mundo.
Em 1996,
participa da exposição “Villette-Amazone / Manifesto para o Meio Ambiente no
Século XXI”, no Grande Halle de la Villette, em Paris. “A obra de Krajcberg é um grito contra a
destruição da Floresta Amazônica e tem uma força universal”, diz Jacques
Leenhardt, sociólogo e filósofo francês que divide com Bettina Laville a
organização da exposição. A ideia foi a de transformar o Parc de la Villette em
um “território ecológico”. Logo ao entrar, o visitante depara com as esculturas
monumentais de Krajcberg, que ocupam, com murais, colagens e fotografias, um
espaço de 1.800 m2, totalizando 141 peças.
Por sua luta para
a preservação da natureza, mundialmente reconhecida, Frans Krajcberg recebe em
2012 do prefeito Bertrand Delanoë a mais alta honraria de Paris, a Medalha
Vermeil – prêmio de agradecimento pela contribuição às artes. Krajcberg é o
único artista vivo, não francês, que possui um espaço dedicado às suas obras
mantidas pela prefeitura parisiense
Frans Krajcberg
morre em 15 de novembro
de 2017, e seu desejo é cumprido: em um domingo, suas cinzas são
depositadas no tronco de uma árvore escolhida por ele, no sítio Natura, em Nova
Viçosa, onde ele viveu desde 1972.
A obra de
Krajcberg reflete a paisagem brasileira, em particular a floresta amazônica, e
a sua constante preocupação com a preservação do meio ambiente. Ao longo de sua
carreira, o artista denunciou queimadas no estado do Paraná, a exploração de
minérios no estado de Minas Gerais e o desmatamento da Amazônia e do Pantanal.
Antes de morrer,
ele focou em fotografia, reproduzindo o desmatamento e o descaso com o meio
ambiente.
Serviço: Exposição “Frans Krajcberg (1921-2017) –
Natureza em preto e branco”
Pinakotheke Cultural, Rio de Janeiro