

Exposição: Feminino, Universo e Galáxia
Exposição
- Nome: Exposição: Feminino, Universo e Galáxia
- Abertura: 15 de abril 2023
- Visitação: até 10 de maio 2023
- Galeria: Zagut
Local
- Local: Espaço Zagut
- Evento Online: Não
- Endereço: R Siqueira Campos 43 sala 725 Copacabana
Feminino, Universo e Galáxia
“Remove pedras e planta roseiras”
Cora Coralina
O machismo estrutural não é exclusivo de nosso meio, ocorre em todo o mundo. Mas só com a doçura de Cora Coralina – que remove pedras e planta roseiras - para explicar e sua firmeza para não deixar mais que ocorra, é que chegaremos a uma sociedade mais justa, portanto, mais feliz para todos. Segundo as Nações Unidas, na Declaração do Ano Internacional da Mulher em 1980, a violência contra a mulher foi considerada o crime mais encoberto do mundo.
Na história recente do país, vieram a público situações escandalizadoras em relação ao tema: um ex-presidente afirmou que tinha tido uma fraqueza ao ter uma filha mulher, dois ídolos futebolísticos são julgados por estupro, um outro há mais tempo assassinara a mãe de seu filho, Elisa Samudio. Uma vereadora carioca, Marielle Franco, é assassinada, um crime que está fazendo cinco anos sem solução. E tem Aracelli, Aida Cury, Monica Granuzzo, Claudia Lessin Rodrigues, Angela Diniz, Sandra Gomide. Uma sociedade que convive com a violência descabida, entre tantas outras anônimas, inclusive as com ações protetivas, e os assassinatos são só a ponta do iceberg. Em 2022, 699 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil (quinto lugar no mundo), um crime de ódio que se segue a diversos abusos, metade das vezes cometido por familiar, em um terço pelo companheiro ou ex.
Nas artes, a desigualdade de gêneros é bem conhecida. Na Zagut, em praticamente todas as exposições mais da metade de artistas foram mulheres, na maioria das vezes 70%, sempre com muitas obras que se remetem a temas intrinsecamente femininos, tendo realizado exposições focadas no tema, como “Entre Fronteiras” e “Erotica, Eroica, Universale”. Falar inúmeras vezes do tema da desigualdade de gêneros faz com que ocorram reflexões e consequentes mudanças. Cada instituição, cada colecionador, cada galeria, cada museu, cada curador, cada artista, cada espectador, toda a cadeia, precisa estar atento e ir fazendo sua parte para a mudança dessa realidade.
As Guerrilla Girls, grupo de artistas anônimas, usa dados estatísticos, frases, para denunciar tal realidade. Na obra “As mulheres precisam estar nuas para entrar no Museu de Arte de São Paulo?”, identificaram 6% de artistas mulheres e 60% dos nus. Situação melhor que do MET de Nova York e do que na Europa. Sobre o feminicídio, colocam: O que Carl Andre e O.J. Simpson têm em comum? Assassinaram Ana Mendieta e Nicole Brown, suas respectivas mulher e ex. Continuam: a cada 15 minutos uma mulher é atacada por seu companheiro. Alguns ataques terminam em morte. Em geral, esses crimes não têm testemunhas.
Além da situação atual na arte contemporânea, há uma imensa dívida histórica. A pergunta de Linda Nochlin em 1971, “Por que não houve grandes mulheres artistas?”, foi feita há meio século. O caso mais emblemático é o de Artemisia Gentileschi, italiana. Entre fundadores da Academia Real Britânica em 1768, constavam duas prestigiadas pintoras: Angélica Kauffmann e Mary Moser, que só aparecem em duas telas na parede em pintura retratando seus fundadores. A próxima mulher a entrar nessa academia foi em 1922. Há poucos museus-casa de mulheres, como o de Kathe Kowitz em Berlim. O Museu Rodin retirou da reserva técnica a obra de Claudel, assim como o Marmottan Monet a de Morisot, mas sem mudança de nome.
No Brasil império, não era permitido que mulheres frequentassem a Escola de Belas Artes, só ocorreu em 1892. No Liceu de Artes e Ofícios, desde 1881.
São inúmeros os casos de “apagamentos”. Abigail de Andrade e sua filha Angelina Agostini foram muito prestigiadas, ganharam importantes prêmios (o da 1ª medalha de ouro e o de viagem ao exterior, respectivamente), mas são pouco conhecidas. A obra de Angelina que ganhou o prêmio ao exterior em 1913, “Vaidade”, o único prêmio de uma mulher na Primeira República, fica em sala de passagem e com acesso restrito, sem dados sobre a obra e a autora, no Museu de Belas Artes.
Duas escultoras pouquíssimo conhecidas foram Julieta de França (primeira mulher a matricular-se em modelo vivo na ENBA, ganhou o prêmio de viagem ao exterior em 1900, desafiou uma comissão de premiação e as portas se fecharam, com poucas obras conhecidas, já que não possuía recursos para fazê-las em bronze) e Nicolina Vaz de Assis (também cursou ENBA no mesmo ano de 1897 e também estudou na França na Academie Julien com bolsa de seu estado natal, São Paulo - onde mulheres pagavam o dobro dos homens, realizou inúmeras obras públicas, várias de suas obras eram apresentadas nos salões em bronze).
A mentora e organizadora da I Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo, Yolanda Penteado, junto com seu marido Francisco Matarazzo Sobrinho, o Ciccillo, não aparece com nenhuma função no catálogo, em um completo apagamento do enorme trabalho que exerceu, do planejamento ao convencimento dos países para que participassem, ou na Bienal seguinte, a Picasso que deixara Guernica sair de Nova Iorque, o que não ocorrera até então.
Se essas histórias parecem deslocadas do mundo atual, vale ressaltar que recentemente houve questões de importante censura por parte da sociedade e com uso de aparatos policiais, na mostra Queermuseu, fechada no sul do país, sendo reaberta a partir de uma ação e financiamento online, no Rio de Janeiro, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. O que não surpreende, haja visto os dados que tornam o país um dos campeões em assassinatos de pessoas trans (de 13 a 68 anos), há 13 anos no topo da lista da Transgender Europe, assim como de feminicídio, com dados maiores em 2022 (o mais alto desde 2015, quando se começou o Monitor da Violência, elaborado pela USP, FBSP e Globo), significando que 1 mulher é morta a cada 6 horas, mostrando a face da desigualdade de gênero como questão estrutural a ser tratada de forma realmente firme na sociedade brasileira.
Diversas são as instâncias de arte no país que mostram a predileção a homens. Por exemplo o Prêmio de Viagem ao Exterior no Salão Nacional de Artes Plásticas, entre 1978 a 1995, entre 31 premiados, 4 (13%) foram mulheres. O Marcantonio Vilaça teve dez edições, entre 53 finalistas, 23 foram mulheres (43%). Mesmo na 7ª edição, com foco no protagonismo feminino, só 2 dos 5 premiados eram mulheres. Nos marketplaces das feiras de arte permanece a desigualdade: no da SP-Arte 34% são mulheres, no da Art Rio, 33%. Nas premiações da Bienal, de 150 premiados, 16 eram mulheres, pouco mais de 10%. Em relação aos curadores das 34 Bienais de São Paulo, até a 10ª só participaram curadores homens; uma mulher foi a curadora geral em três edições (Sheila Leirner na 18ª e 19ª e Lisette Lagnado na 27ª, em 2006) e estavam na comissão de curadoria em cargos menos importantes em apenas 12 edições.
Mas há de se clamar por mudanças, que começam a se perceber. Na 59ª Bienal de Veneza de 2022, chamada “O Leite dos Sonhos”, foi a primeira vez que uma mulher italiana foi a curadora geral em 127 anos do evento e a primeira com maioria de artistas mulheres. Na seção principal, de 73 artistas, 41 (56%) eram mulheres. Diversas outras seções tinham apenas obras de 139 mulheres e os projetos especiais com 3 mulheres. Vale observar a delegação representando o Brasil, com dois curadores homens e um artista homem.
Novamente bebendo nos ensinamentos de Cora Coralina - “Creio nos milagres da ciência e na descoberta de uma profilaxia futura dos erros e violências do presente”, olhando os dados, os especialistas, novas arrumações, se pode mapear e atuar na mudança para um futuro melhor.
Viva nossas tantas maravilhosas desbravadoras entre pioneiras de todas as áreas e a cada mulher que faz sua voz ser ouvida! Terminando como Ana Cristina César recomendou: “só leia se estiver com o coração puro e doce”. Para perceber as injustiças e fazer frente a elas.
Serviço
Exposição: Feminino, Universo e Galáxia
Abertura presencial:
Data: 15 de abril de 2023 de 16h às 19h
Local: R Siqueira Campos 43 sala 725 Copacabana
Abertura virtual: 16 de abril, no zoom (link na página da galeria) às 16:30.
Período: até 10 de maio de 2023