Exposição "FACHADAS INSANAS"
Exposição

Exposição "FACHADAS INSANAS"

Exposição

  • Nome: Exposição "FACHADAS INSANAS"
  • Abertura: 24 de setembro 2022
  • Visitação: até 22 de dezembro 2022

Local

  • Local: Galleria Continua
  • Evento Online: Não
  • Endereço: R. Des. Paulo Passaláqua, s/n, portão 14 - Pacaembu, São Paulo

FACHADAS INSANAS


A GALLERIA CONTINUA tem o prazer de apresentar FACHADAS INSANAS, exposição individual da artista brasileira Ana Maria Tavares. Em sua primeira individual na Galleria Continua São Paulo, Ana Maria Tavares apresenta uma série de trabalhos inéditos na cidade, produzidos entre 2012 e 2022. As obras têm como ponto de partida a obsessão modernista em relação à pureza visual e o temor de tudo que possa parecer impuro ou ser definido como “o outro, contaminado”. Mais uma vez inspiradas nos espaços urbanos, na arquitetura e na relação entre natureza e artifício, as obras de Tavares comentam sobre o entendimento acerca da relação da natureza com o espaço construído, engenheirado, e nossa tendência de subestimar o poder do mundo natural. Os trabalhos partem do uso da malha ou “grid”, modelo que dá forma ao mundo racionalizado, para apresentar esta estrutura previsível e rígida, “contaminada” por interferências estranhas a ela, resultando numa quase-arquitetura labiríntica e outros objetos. Todos os trabalhos almejam a dissolução desta estrutura-malha pura e racional a fim de lançar luz sobre a predisposição de nossa cultura para recusar aquilo que escapa nosso controle, mas que também pode carregar beleza e fascinação.  


O título da exposição empresta seu nome da obra central chamada FACHADAS INSANAS (BIOMBOS, DA SÉRIE CONDOMÍNIOS), (2013): dois biombos de madeira dispostos como uma arquitetura labiríntica por onde o visitante poderá atravessar o espaço expositivo. Feita com madeira freijó, couro natural de bode em tons metalizados nas cores rosa e vermelho, e o aço inox, esta obra foi diretamente inspirada no projeto urbanístico utópico dos anos setenta, nomeado então “Praia do Futuro”, destinado à classe privilegiada da cidade de Fortaleza, Ceará. Tal como anunciado na mídia na época, a promessa era propor aos poucos privilegiados “a realidade do sonho de antecipar o futuro”. Não muito depois de seu lançamento, as forças poderosas e não domesticadas da natureza provaram sua hostilidade em relação à especulação imobiliária e à ideia de transformar uma grande área litorânea em zona residencial sofisticada. Lembremos que a cidade de Fortaleza tem um dos níveis de salinidade mais altos do mundo, ventos e maresia intensos, o que torna ainda mais difícil a manutenção de materiais usados na construção de seus edifícios e impedir a deterioração ocorrida devido às condições ambientais. O fracasso deste projeto é visto nos vários terrenos abandonados e, se observarmos atentamente, veremos os materiais das fachadas em constante processo de restauro e suas cicatrizes serão facilmente detectadas.


Assim, FACHADAS INSANAS (BIOMBOS, DA SÉRIE CONDOMÍNIOS) se faz abrigo e prótese para o corpo. Ao invés de prover uma estrutura asséptica, a obra deixa escapar sua vocação inicial em direção à ordem, à pureza e ao estável. FACHADAS INSANAS é um espaço que convida o visitante a se adentrar e a se deixar acolher, seja por meio de sua escala ou pela diversidade de materiais e cores da obra. As obras da série ON CONTAMINATION (2012-2022), produzidas com pastilhas de aço inox polido como espelho, em tons de dourado e rosa, são montadas para formar uma malha dinâmica de cores cambiantes. Como num caleidoscópio, refletem o ambiente que se transforma, na obra, em uma reprodução multi-fraturada e fílmica do mundo a seu redor. Em AZULEJOS POROS (2013), vemos a perda de uma malha rígida na composição dos elementos quase como se estes tivessem se libertado unicamente para reinventar sua própria propagação no espaço bidimensional da parede. Por outro lado, CAIXA POROS e CAIXA COBRA (2022) são peças autônomas que se estruturam a partir da malha planificada e que, uma vez manipuladas, ganham vários formatos até chegar numa volumetria, um casulo-caixa.


Os materiais, as formas e as técnicas inventadas e exploradas colaboram para a articulação de um jogo pendular entre a experiência visual, corporal e tátil. Para além de objetos estáveis, as obras são organismos mutantes cuja superfície-pele é perturbada de dentro para fora, como no caso de FACHADAS INSANAS (BIOMBOS, DA SÉRIE CONDOMÍNIOS) ou CAIXA POROS e CAIXA COBRA. Já em ON CONTAMINATION, a geometria rígida das pastilhas de inox colorido produz uma superfície-anteparo espelhada que acolhe e fragmenta o mundo ao seu redor, desestabilizando toda sua estrutura original. A abstração geométrica dominante e estruturadora de todas as peças perde aqui seu protagonismo enquanto pequenos invasores se movem de dentro para fora das peles ou habitam suas superfícies transformadas por novos acontecimentos.


FACHADAS INSANAS (BIOMBOS DA SÉRIE CONDOMÍNIOS)

Minhas estadas cada vez mais prolongadas e intensas na cidade de Fortaleza provocaram deslocamentos de ordens distintas. O mais óbvio é o deslocamento físico; o mais radical gerou rotações mentais curiosas, baseadas em associações do que era visto, percebido ou sentido, junto com um conjunto de questões de grande interesse, presentes em meu trabalho mais recente. Na cidade, a arquitetura parece construir o contorno mutante de um lugar que se quer novo e modernizado e que se exibe em desafio à natureza, numa espécie de provocação ou duelo que não se deixa silenciar. Embate duro e insistente este, pois o contexto é potente: sal, sol, areia, vento e mar. A escala é macro. O corpo cala. Fachadas se expõem imponentes, a natureza as contamina.

Praia do Futuro. Utopia.
Futuro do Pretérito: hipótese, incerteza, irrealidade.
Fato.
Não é possível anestesiar a natureza.
Fachadas Insanas.


Ana Maria Tavares Fortaleza, Ceará SET, 2013         



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