

Exposição “Eu estou aqui com toda minha gente”, de Jaime Lauriano
Exposição
- Nome: Exposição “Eu estou aqui com toda minha gente”, de Jaime Lauriano
- Abertura: 23 de outubro 2025
- Visitação: até 20 de dezembro 2025
Local
- Local: Nara Roesler
- Evento Online: Não
- Endereço: Rua Redentor, 241, Ipanema, Rio de Janeiro
Jaime Lauriano – Eu estou aqui com toda minha gente
Jaime Lauriano (1985, São Paulo), um dos artistas mais reconhecidos de sua geração, e que tem como principal interesse em seu trabalho discutir a história do Brasil sob a perspectiva da população negra, apresenta obras inéditas, produzidas este ano, na Nara Roesler Rio de Janeiro. As obras expostas refletem um momento mais reflexivo e intimista do artista, e transitam de percepções subjetivas até as marcadamente sociais e políticas, já conhecidas de seu trabalho. Jaime Lauriano é o autor das obras inscritas nas pedras portuguesas da entrada do Museu de Arte do Rio (MAR): a criada em 2023, com os nomes das doze regiões da Áfricaque forneceram por meio de ações violentas a mão de obra escravizada levada ao Brasil, e a frase “A história do negro é uma felicidade guerreira” (2018),um verso da música “Zumbi, a felicidade guerreira” (1984), de Gilberto Gil e Wally Salomão, composta para o filme “Quilombo”, de Cacá Diegues. O título da exposição na Nara Roesler Rio de Janeiro, “Eu estou aqui com toda minha gente”, é retirado da música “A Força da Jurema”, de Mateus Aleluia, Dadinho e Heraldo, gravada em 1973 pelo grupo Os Tincoãs, que remete à ideia de cura, aos orixás, e faz uma homenagem a Oxum.
Nara Roesler Rio de Janeiro tem o prazer de convidar para abertura, no dia 23 de outubro de 2025, às 18h, da exposição “Eu estou aqui com toda minha gente”, com trabalhos inéditos e recentes do artista Jaime Lauriano (1985, São Paulo). O texto crítico é de Ademar Britto. No final de novembro, mês da Consciência Negra, será lançado, com a presença do artista, o livro “Jaime Lauriano – Mapeamentos” (Nara Roesler Books, 2025), bilíngue (port/ingl), formato de 17,5 x 24,5 cm, capa dura, e textos de Tadeu Chiarelli, Keyna Eleison e Sylvia Monasterios.
No espaço maior do térreo da galeria, estarão, na parede frontal, quatro objetos da série "Pencas", com esculturas de latão banhadas em cobre, penduradas em couro com argolas de latão, feitas este ano. As esculturas têm a forma de jatobás, búzios, um ogó de Exu, sinos, agogôs, quartinhas, alguidar, canecas, pemba, cachimbo e cabaça, elementos da ritualística do candomblé e da umbanda, de modo a criar uma espécie de ofertório para a cultura afro-brasileira e a sua resistência ao longo da História do Brasil. Jaime Lauriano alude neste trabalho às joias crioulas dos séculos XVIII e XIX, consideradas um patrimônio da Bahia e da cultura afro-brasileira, que marcam a resistência negra contra o regime escravocrata, sendo uma das manifestações artísticas afrodescendentes mais antigas no país.
MAPAS:DEMOCRACIA RACIAL, ÊXODO, GENOCÍDIO E INVASÃO
Os mapas, interesse recorrente na trajetória de Jaime Lauriano, estão presentes com a obra “A new andaccuratemapofthe world: democracia racial, êxodo, genocídio e invasão” (2025), composta por dois desenhos realizados em pemba branca – giz branco usado em terreiros de candomblé – e lápis dermatográfico sobre algodão preto, medindo cada um 150 x 170 cm. A série de trabalhos “democracia racial, êxodo, genocídio e invasão” recria, a partir das ilustrações de mapas e cartas náuticas, uma das cenas mais emblemáticas da história recente da humanidade: as navegações e o “descobrimento do novo mundo”.
Entretanto, diferentemente de sua versão original, com cores prontas para retratar a exuberância da região recém-explorada, Lauriano usaum rebaixamento visual, pautado pelo branco sobre preto, fazendo uma releitura dos primeiros esforços de representação do sistema de exploração da madeira e da mão de obra indígena, a primeira força de trabalho do que mais tarde seria consolidado como um “país”. Lauriano contrapõe a representação idílica existente nos mapas antigos inscrevendo termos como invasão, etnocídio, democracia racial e apropriação cultural, retirados de livros que pautam a construção da História do Brasil.
A escultura de parede “Autorretrato” (2025), constituída por uma grade de ferro e materiais diversos, foi pensada como um espaço para se meditar sobre a diáspora africana, e busca costurar o passado e o presente, a história social e a subjetividade. O projeto convida o público a um olhar sensível sobre a escravidão e seus ecos nos corpos negros. Com 85 x 35cm, a obra tem a exata medida da coluna vertebral de Jaime Lauriano, do pescoço ao cóccix, e apresenta um padrão de construção de grades de ferro que usam o alfabeto Adinkra, um sistema de símbolos oriundos de Gana. Com ela, o artista resgata elementos formais e conceituais de sua pesquisa feitaa partir da arquitetura de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Estarão pendurados na escultura objetos que remetem tanto à opressão exercida sobre os escravizados quanto à força da resistência e da herança cultural africana, em uma estética que evoca as memórias da infância do artista nos bairros periféricos paulistanos.
A pintura “Entradas em Minas Gerais” (2025), com 70 x 100 x 4 cm,faz parte da pesquisa que Jaime Lauriano desenvolve desde 2022, dedicada à revisão crítica de pinturas históricas que moldaram a memória oficial do país. Ao revisitar imagens acadêmicas produzidas entre o final do século XIX e o início do século XX, o artista percebeu que a colonização foi “consistentemente apresentada de forma idealizada, transformada em um gesto heroico e civilizador”, ao passo que“as presenças, resistências e experiências de violência afro-indígenas foram sistematicamente silenciadas”. “Meu interesse reside em questionar essa operação, desmantelar sua lógica celebratória e transformar a pintura histórica em um contramonumento: não mais um local de consagração, mas um campo de disputa, atrito e reflexão”, diz. Lauriano “esvazia” a pintura de seus personagens, deixando apenas a paisagem. Sobre essa superfície despovoada, ele aplica uma profusão de adesivos “que evocam tanto a violência colonial quanto a resistência afro-indígena”. Sobre a própria moldura, ele ainda instala figuras em miniatura que encenam uma batalha entre soldados coloniais e entidades da religiosidade afro-brasileira, como Zé Pilintra. “Desta forma, o passado não retorna como um mito pacificado, mas sim como um campo de conflito simbólico no qual a pintura se torna um território contestado”.
HOMENAGEM A HEITOR DOS PRAZERES
Única obra da exposição já mostrada ao público, “Na Bahia é São Jorge, no Rio São Sebastião” (série “Recanto”) foi criada para a exposição “Aqui é o fim do mundo”, em 2023, panorâmica dos quinze anos de trajetória de Jaime Lauriano,e que integrou a programação comemorativa de dez anos do Museu de Arte do Rio (MAR), onde foi apresentada. Com 120 x 140 x 2,5 cm, feita com tinta acrílica, adesivos, miniaturas em chumbo e estampas sobre mdf, é “a paisagem da janela” de Heitor dos Prazeres (1898-1966), grande pintor carioca, e um dos pioneiros na composição de sambas.
OBRAS INTIMISTAS
Ao fundo do térreo da galeria Nara Roesler Rio de Janeiro, sob a claraboia, Jaime Lauriano vai mostrar obras intimistas, como as sete da série “o sobrado de mamãe é debaixo d’água”, criadas no período recente em que buscou ficar mais recolhido, reflexivo, devido às limitações impostas por uma hérnia na coluna cervical. A partir de uma fotografia que fez do final da praia de Copacabana, em 2023, Jaime Lauriano criou uma série de paisagens, que representam diferentes estágios da luz, do momento que antecede a aurora à meia-noite. O céu é feito de fita autoadesiva reflexiva, nas cores cinza, dourada, prateada e preta, e, o mar, de tinta acrílica. As obras “Sem título”medem, cada uma, 30 x 30 x 4,5 centímetros.
Nesta nova série de trabalhos, o artista retoma o gênero da paisagem, mas com uma abordagem inédita, em que se distanciada representação de conflitos que permeava suas obras anteriores. “O foco agora é a exploração das tensões visuais entre campos de cores, criadas a partir da utilização de materiais variados. O mar do Rio de Janeiro surge não apenas como cenário, mas como ponto de partida conceitual. A escolha de me debruçar sobre suas águas está ligada à estreia desta série na minha exposição individual na cidade, mas, sobretudo, à minha fascinação pela complexa história que as águas transatlânticas carregam. Elas são testemunhas de um passado de violência e sofrimento colonial, mas também são as rotas que trouxeram as ricas heranças africanas que, ao longo do tempo, moldaram profundamente a cultura e a identidade do Brasil”, conta. Jaime Lauriano afirma: ‘A série "O sobrado de mamãe é debaixo d’água’ se posiciona, portanto, como uma celebração poética da resiliência e da riqueza da cultura afro-brasileira e de sua capacidade de florescer e resistir, transformando dor em história e luta”.
Na parede em frente às paisagens, estarão duas pinturas que homenageiam Abdias do Nascimento (1914-2011): “Sem título” (“senhor da noite e do dia”), 70 x 50 x 4,5 cm, e “Sem título”, 60 x 50 x 4,5 cm, ambas de 2025, e em tinta acrílica e fitas autoadesivas sobre algodão.
SOBRE JAIME LAURIANO
Por meio de vídeos, instalações, objetos e textos, Jaime Lauriano (1985, São Paulo) revisita os símbolos, imagens e mitos formadores do imaginário da sociedade brasileira, tensionando-os a partir de proposições críticas capazes de revelar de que maneira as estruturas coloniais do passado reverberam na necropolítica contemporânea. Lauriano aborda as formas de violência cotidiana que perpassam a história brasileira desde sua invasão pelos portugueses, centrando-se, com especial perversidade, em indivíduos racializados. Nesse sentido, o artista se debruça sobre os traumas históricos de nossa cultura, compreendendo suas complexidades a partir do agenciamento de imagens e discursos provenientes das mais diversas fontes, sejam aquelas tidas como oficiais, como veículos de comunicação e propagandas de Estado; como as extra oficiais, como vídeos de linchamentos compartilhados pela internet.
Sua crítica se estende da macropolítica das esferas do poder oficial à micropolítica. Lauriano pensa o trauma não só em sua dimensão temporal, mas também espacial, valendo-se de formas de mapeamento a fim de questionar as disputas e construções territoriais coloniais. Outra dimensão de seu trabalho é a conexão com religiões ancestrais de matriz africana. O artista emprega signos e símbolos desses rituais, como a pemba branca, utilizada na feitura de seus mapas, compreendendo como a esfera religiosa foi fundamental para a resistência dos escravizados, servindo como espaço de manutenção de suas relações com o território ancestral.
Jaime Lauriano vive e trabalha em São Paulo. Suas exposições individuais incluem: Whydon'tyouKnowAbout Western Remains? na Nara Roesler (2024), em Nova York, Estados Unidos; Aqui é o Fim do Mundo, no Museu de Arte do Rio (MAR) (2023), no Rio de Janeiro, Brasil; Paraíso da miragem, em colaboração com silêncio coletivo, na KubikGallery (2022), em Porto, Portugal; Marcas, na Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) (2018), em Recife, Brasil; Brinquedo de furar moletom, no Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC-Niterói) (2018), em Niterói, Brasil; Nessa terra, em se plantando, tudo dá, Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-RJ) (2015), no Rio de Janeiro, Brasil; e Impedimento, no Centro Cultural São Paulo (CCSP) (2014), em São Paulo, Brasil. Lauriano apresentou trabalhos na El Dorado: Mythsof Gold, no Americas Society, Nova York, EUA (2023), no 37º Panorama da Arte Brasileira, São Paulo, Brasil (2022); e na 11a Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brasil (2018). Participação em exposições coletivas incluem: Brasil Futuro: as formas da democracia, Museu Nacional da República, Brasília, Brasil (2023), Social Fabric: ArtandActivism in ContemporaryBrazil, Visual Arts Center, The Universityof Texas, Austin, EUA (2022); Histórias brasileiras, no Museu de Arte de São Paulo (MASP) (2022), em São Paulo, Brasil; Afro-Atlantic Histories, no NationalGalleryofArt (2022), em Washington DC, Estados Unidos e no Museumof Fine Arts (MFAH) (2022), em Houston, Estados Unidos; Quem não luta tá morto – arte democracia utopia, no Museu de Arte do Rio (MAR) (2018), no Rio de Janeiro, Brasil; Levantes, no SESC Pinheiros (2017), em São Paulo, Brasil; Territórios: Artistas afrodescendentes no acervo da Pinacoteca, na Pinacoteca do Estado de São Paulo (2015), em São Paulo, Brasil. Seus trabalhos podem ser encontrados em coleções institucionais, tais como: Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Recife, Brasil; Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro, Brasil; Museu de Arte de São Paulo (MASP), São Paulo, Brasil; Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil; e SchoepflinStiftung, Lörrach, Alemanha.
SOBRE NARA ROESLER
Nara Roesler é uma das principais galerias de arte contemporânea do Brasil, representa artistas brasileiros e latino-americanos influentes da década de 1950, além de importantes artistas estabelecidos e em início de carreira que dialogam com as tendências inauguradas por essas figuras históricas. Fundada em 1989 por Nara Roesler, a galeria fomenta a inovação curatorial consistentemente, sempre mantendo os mais altos padrões de qualidade em suas produções artísticas. Para tanto, desenvolveu um programa de exposições seleto e rigoroso, em estreita colaboração com seus artistas; implantou e manteve o programa Roesler Hotel, uma plataforma de projetos curatoriais; e apoiou seus artistas continuamente, para além do espaço da galeria, trabalhando em parceria com instituições e curadores em exposições externas. A galeria duplicou seu espaço expositivo em São Paulo em 2012 e inaugurou novos espaços no Rio de Janeiro, em 2014, e em Nova York, em 2015, dando continuidade à sua missão de proporcionar a melhor plataforma possível para que seus artistas possam expor seus trabalhos.
Serviço
Exposição “Eu estou aqui com toda minha gente”, de Jaime Lauriano
Abertura: 23 de outubro de 2025, às 18h
Até: 20 de dezembro de 2025
Entrada gratuita
Nara Roesler
Rua Redentor, 241, Ipanema, Rio de Janeiro, CEP 22421-030
Segunda a sexta, das 10h às 18h
Sábado, das 11h às 15h
Telefone: 21 3591 0052
info@nararoesler.art
Comunicação: Paula Plee – com.sp@nararoesler.com
Canais digitais:
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