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Exposição "Elza e Gerson: Cada indivíduo é um universo"
Exposição

Exposição "Elza e Gerson: Cada indivíduo é um universo"

Exposição

  • Nome: Exposição "Elza e Gerson: Cada indivíduo é um universo"
  • Abertura: 28 de março 2024
  • Visitação: até 11 de maio 2024

Local

  • Local: Galatea – São Paulo
  • Evento Online: Não
  • Endereço: R. Oscar Freire, 379 – Lj. 1 | Jardins

Elza e Gerson: Cada indivíduo é um universo

A exposição monográfica em dupla do casal de artistas pernambucanos Elza O. S. (1928, Recife – 2007, Rio de Janeiro) e Gerson de Souza (1926, Recife – 2008, Rio de Janeiro) apresenta um recorte panorâmico da produção de ambos.


A mostra vincula-se a um dos pilares do programa da galeria, que se volta para o reposicionamento, exibição e discussão crítica de artistas que atuaram fora dos circuitos tradicionais das artes e que, muitas vezes autodidatas, foram marginalizados pelo modernismo, pela crítica de arte, pelos programas curatoriais dos museus e pelo mercado.



Há um peculiar movimento de atração e repulsa na história da arte moderna brasileira em relação às produções da chamada “arte popular”, termo imbuído de preconceitos estéticos, culturais e sociais, porém não tão leviano quanto os depreciativos e reducionistas “naif”, “primitivo”, “ingênuo” e “brut”. Se por um lado diversos artistas modernos foram beber da fonte do popular, apropriando-se de temáticas e estéticas, por outro criavam uma clara distinção entre o estatuto do artista moderno e do artista popular. Isso também pode ser visto na maneira como críticos e curadores tratavam e apresentavam esse tipo de produção, muitas vezes com um recorte estigmatizante, subtraindo a agência intelectual e propositiva desses artistas.


A arquiteta, designer, editora e curadora Lina Bo Bardi foi uma importante figura na valorização e reposicionamento de artistas e produções da chamada arte popular. Organizou e curou exposições (no MASP, no Solar do Unhão e no Sesc Pompeia) [1] em torno do tema e desenvolveu uma rica produção crítica sobre o assunto. Em seu livro Tempos de grossura, Lina Bo Bardi é categórica em sua acusação contra elitismo cultural que sistematicamente marginalizou o popular:


O reexame da história recente do país se impõe. O balanço da civilização brasileira “popular” é necessário, mesmo se pobre à luz da alta cultura. Este balanço não é balanço do folklore, sempre paternalisticamente amparado pela cultura elevada, é o balanço “visto do outro lado”, o balanço participante. É o Aleijadinho e a cultura brasileira antes da Missão Francesa. É o nordestino do couro e das latas vazias, é o habitante das vilas, é o negro e o índio, uma massa que inventa, que traz uma contribuição indigesta, seca, dura de digerir.[2]


Tendo no horizonte estas proposições de Lina Bo Bardi, a produção de Elza e Gerson, um casal de nordestinos que migrou para o Rio de Janeiro em busca de melhores condições de trabalho, não é apresentada aqui nesta exposição pela chave da “arte popular”, mas sim posicionando-os como artistas empoderados da sua poética e suas práticas, com uma obra bastante genuína que apresenta as visões de mundo de cada um deles.


Elza & Gerson: cada indivíduo é um universo coloca em diálogo a produção em pintura do casal de artistas 54 anos depois da última exposição que realizaram em conjunto, na Galeria Oca, no Rio de Janeiro, em 1970. O título da mostra toma emprestada uma frase que Gerson grafava no verso de suas pinturas e que dá, aqui, o fio da abordagem curatorial, voltada às múltiplas e diversas formas de existir narradas nas pinturas dos dois, que retratam a boemia carioca e a vida cotidiana da cidade; cenas de carnaval e figuras religiosas; além de composições de tom onírico e surreal que se dividem nos núcleos: surrealismos; cenas de carnaval e manifestações populares; bordel e boêmia; figuras religiosas; e retratos.


Fugindo do estereótipo que coloca a chamada arte popular como uma produção artística desprovida de proposições intelectuais e sem consciência política e crítica, as pinturas de Gerson e Elza mostram justamente o contrário. Gerson abordava cenas da boemia carioca com bastante liberdade, trazendo temas da sexualidade, como a prostituição, de forma não reducionista, dando complexidade pictórica e emocional aos seus personagens, como podemos ver nas excepcionais pinturas Travesti, de 1967, e A novata, de 1965.


Já Elza nos apresenta a visão pela ótica da mulher, em que temas como o casamento e o ambiente doméstico são elaborados em pinturas muitas vezes de tom onírico e surreal. Suas noivas estilizadas remetem a uma frustração de juventude de não ter se casado propriamente vestida de noiva com Gerson, já que o fizeram às pressas no contexto da mudança para o Rio de Janeiro, o que revela aspectos das convenções sociais e culturais que se instalam, muitas vezes de forma violenta, no imaginário feminino.

- Tomás Toledo


[1] Sobre esse histórico de exposições ver: TOLEDO, Tomás. “Os museus populares de Lina Bo Bardi”. In: PEDROSA,Adriano; GONZALEZ, Julieta; ESPARZA, José e TOLEDO, Tomás(orgs.). Lina Bo Bardi: Habitat. São Paulo: MASP, 2019.
[2] BARDi, Lina Bo. “Civilização do Nordeste”. In: SUZUKI, Marcelo (org.). Tempos de grossura: o design no impasse. São Paulo: Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bardi, 1994, p. 12.


SERVIÇO
Exposição "Elza e Gerson: Cada indivíduo é um universo"

Texto crítico: Luiz Fernando Pontes e Tomás Toledo
Abertura: Quarta-feira, 27 de março | 18h às 21h
Visitação: 28 de março — 11 de maio
Galatea – São Paulo
R. Oscar Freire, 379 – Lj. 1 | Jardins

01426-900 |  - São Paulo, SP,  Brasil
Segunda a quinta | 10h às 19h
Sexta | 10h às 18h
Sábado | 11h às 15h
+55 11 3475 0099
contato@galatea.art


IMAGENS
Elza O. S. (1928-2007), detalhe, Sem título, 1967, Assinado e datado esquerdo inferior, Óleo sobre tela, 65 x 45 cm
Gerson de Souza (1926-2008), A travesti, 1967, Assinado inferior esquerdo, datado, titulado, localizado “Rio”, e desenhada a figura de um anjo no verso, Óleo sobre tela, 38.5 x 55 cm
Elza O. S. (1928-2007), Sem título, s.d, Assinado inferior esquerdo, Óleo sobre tela, 53 x 40 cm
Gerson de Souza (1926-2008), A novata, 1965, Assinado inferior esquerdo, datado, titulado, localizado “Rio”, desenhado e inscrito no verso “Vale mais um trabalhador eficiente, que um Rei sem Vocação”, Óleo sobre tela, 60 x 60 cm



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