

Exposição "ALBERTO TEIXEIRA 100 ANOS — Liberdade e audácia no abstracionismo"
Exposição
- Nome: Exposição "ALBERTO TEIXEIRA 100 ANOS — Liberdade e audácia no abstracionismo"
- Abertura: 08 de setembro 2025
- Visitação: até 18 de outubro 2025
Local
- Local: Galeria Berenice Arvani
- Evento Online: Não
- Endereço: Rua Oscar Freire, 540 | Cerqueira César – São Paulo
ALBERTO TEIXEIRA 100 ANOS — Liberdade e audácia no abstracionismo
Alberto Teixeira, em vários momentos de sua vida e obra iniciada primeiramente em Portugal, registrou em aquarelas paisagens de várias regiões de sua terra natal em especial a de Algarve culminando com as realizadas na região praiana de Estoril, também conhecida como a Costa do Sol.
Assim no início de sua futura carreira de artista plástico, Teixeira já aspirava e transmitia o vigor e a exuberância desta região, realçando a luminosidade do local, captada por intermédio de transparências alcançadas somente pelo seu domínio técnico da aquarela, que lhe permitiram participar de exposições coletivas no XV Salão de Arte de Estoril em 1949 e na Sociedade de Belas Artes de Lisboa, 1950, recebidas com entusiasmo pelos críticos de arte de Lisboa que evidenciaram a sua relevância e capacidade técnica/ compositiva visualizando o futuro promissor do artista: “Aquarelas vivas que supomos terem sido feitas à primeira, de tal maneira que se sente a fluidez das tintas e aquarelas (...) com sentido cromático rico e de composição, dentro de uma maneira atual, mas com base sempre apreciável, de uma boa gramática da forma”.
Além dos elogios recebidos primeiramente pelos jornais portugueses, Alberto Teixeira recebeu também dezenas de críticas, citações e avaliações elogiosas dos principais historiadores e críticos de arte do Brasil, da Europa e dos Estados Unidos.
Após incorporar os elementos essenciais da organização compositiva estruturada figurativamente, o artista sentiu a necessidade de se atualizar artisticamente por isso realiza sua primeira viagem para ampliar seus conhecimentos para Espanha, França, visitar seus principais museus e entrar em contato com as obras dos principais artistas plásticos que ele conhecia somente através dos livros.
Em 1950 ele e seus familiares emigraram para o Brasil. Alberto Teixeira, considerou a sua emigração para o Brasil como um novo capítulo da sua vida e obra. Aqui vivenciou novo ambiente, novas paisagens, novos personagens, na progressiva e movimentada cidade de São Paulo. E logo que ele chegou em São Paulo, frequentou por apenas um mês um curso de gravura no Museu de Arte de São Paulo, ministrado pelo gravador Poty Lazzarotto onde conheceu vários artistas jovens, alguns hoje renomados; mas na verdade o seu desejo era desenvolver a cor e a pintura, por isso, ficou pouco tempo no curso do MASP. Em seguida participou também no MASP de sessões de modelo vivo e durante alguns anos foi frequentador assíduo da Sala de Arte da Biblioteca Municipal de São Paulo, atual Mário de Andrade, onde além de se informar com o excelente acervo de livros e revistas de arte, sempre atualizados por seu diretor Sergio Milliet, que assinava e incorporava para o acervo da biblioteca as mais importantes publicações de livros e das principais revistas de arte da Europa que o ajudaram a repensar e completar a sua formação artística. Nessa época, além de Alberto Teixeira, muitos artistas plásticos brasileiros, hoje consagrados, também frequentavam e elogiavam o trabalho primoroso de Sergio Milliet para a cultura paulistana.
Outro fato importante para sua obra foi o seu encontro com Samson Flexor que lhe foi recomendado e indicado como importante pintor e excelente e atualizado professor de arte. Por isso Alberto Teixeira lhe mostrou algumas de suas pinturas, “que ele muito apreciou e mostrou-se feliz em me receber como aluno”. Já na primeira aula, o colocou a par do seu método de ensino, “que consistia numa elaboração de pinturas com formas geométricas e propunha uma interpretação ou recriação de um tema, que em princípio foram naturezas mortas e posteriormente seriam também paisagens e figuras com planos geométricos à maneira cubista, que serviram como elementos básicos da linguagem da pintura: os valores de claro-escuro, a cor, as texturas e até a composição”.
Assim Teixeira elaborou alguns grandes desenhos a lápis de naturezas mortas orquestrando planos ao lado de planos de várias intensidades de claro-escuro.
Teixeira satisfeito com o projeto pedagógico do Samson Flexor no seu Atelier Abstração, concluiu: “os resultados finais foram sínteses formais e conjuntos de relações de contrastes inusitados”.
Em seguida neste curso foi debatido, detalhadamente com os outros artistas o uso das cores, texturas e composição.
Teixeira reconheceu a importância de todos esses temas entrelaçados na composição final de uma obra, no entanto ele reafirmou “tudo isso, tão diferente do que eu fazia antes na pintura, causou-me no início bastante impacto, mas vinha também para mim com o sabor da surpresa, do inesperado, da descoberta (...) não nos afastávamos do principal que era a pintura, aprofundávamos o seu estudo de um outro ângulo (...) assim o assunto ou tema que tudo originara, passava a ser secundário e a beleza e a harmonia passavam a ser o principal”.
Depois de um certo tempo, a relação de Alberto Teixeira com Samson Flexor deixou de ser de mestre e discípulo, se transformando numa relação amistosa, cordial e de reconhecimento, que permeou a sua obra definitivamente.
Após assimilar e experienciar o universo criativo de Flexor, Teixeira sentiu que havia chegado a hora de “soltar a imaginação de pintor”, e com cores e formas geométricas livres realizar obras que ele sentiu como momentos de inovação e progresso pessoal.
Em seguida Alberto Teixeira foi selecionado para participar da representação brasileira da II Bienal de São Paulo em 1953, que apresentava um impressionante conjunto de obras da arte moderna e contemporânea, que Teixeira classificou como um momento marcante, um divisor de aguas para a sua maneira de ver a arte. Essa mostra apresentou a produção dos artistas mais importantes do momento, mestres da Arte Moderna com obras de Ensor, Munch, Kokochka e entre outros de Pablo Picasso que apresentou a sua obra mais significativa, A Guernica além da poética segundo Teixeira “expressionista-surrealista” das 65 obras apresentadas por Paul Klee, que marcariam para sempre a própria produção plástica de Teixeira.
Além da admiração e da emoção que as obras de Klee lhe causaram Teixeira manteve, paralelamente nessa Bienal, contato com alguns artistas estrangeiros que dela participaram e que ele reencontraria tempos depois em sua viagem e permanência na Europa.
Após essa experiência singular com as obras dos artistas dessa Bienal, ele concluiu: “Era uma senhora lição! A não esquecer”.
Em 1955 Teixeira novamente foi selecionado para participar da representação brasileira da Bienal onde realizou mais contatos com os artistas estrangeiros dessa mostra que o impulsionaram no ano seguinte a voltar para a Europa, em especial para Espanha e França, e posteriormente para a Alemanha onde conviveu com artistas jovens, que estavam atentos às transformações da arte daquele momento. Essa viagem lhe proporcionou, pela suas inúmeras visitas às obras de arte dos grandes pintores apresentados nos principais museus desses países e lhe despertou ainda mais a consciência da seriedade da arte, que após tantas transformações espaço-temporais acompanharam a evolução social, tecnológica, da humanidade e da própria arte até aquele momento. Essas experiências vivenciais lhe fizeram repensar a sua maneira anterior de ver, pensar e fazer a sua própria arte, aproximando-o ainda mais da arte contemporânea, reforçando a insatisfação que ele sentiu pela racionalidade de sua fase anterior geométrica, que apesar de lhe ter proporcionado excelentes críticas e aceitação junto aos principais críticos, galeristas, colecionadores de arte brasileira, sentia-se tolhido pois apesar desse sucesso, desejava vislumbrar um novo horizonte criador que lhe possibilitasse ultrapassar o que ele sempre mais temia: a repetição, ad aeterneum de um mesmo estilo comum naquela época, que até um certo ponto obrigava muitos artistas, também a permaneceram com um único estilo, muitas vezes até o fim de suas carreiras, para não desagradar os seus colecionadores.
Por isso decidiu dar um tempo para refletir sobre a sua obra e viajar novamente para Europa e se possível reformular a sua produção plástica.
Nesta viagem antes de chegar a Paris onde permaneceu a maior parte dos dois anos de sua permanência da Europa se dirigiu para Espanha, primeiro em Madri e em seguida para Barcelona, onde recebeu uma recepção fraterna por parte de artistas e escritores, em que se incluíam também o fotógrafo Eric Tormo e o escritor Roger Regente ligados ao grupo de vanguarda catalã Dau al Set fundada após a Segunda Guerra Mundial e que tinha como membros Joan Ponç e entre outros Antoni Tàpies, com quem manteve relações amistosas e trocas de experiências artísticas. Na época o artista já desenvolvia a sua produção pictórica, matérica muito arrojada para a época.
Em seguida se dirigiu para a França, Paris onde vivenciou a efervescência cultural da cidade, onde reviu e conviveu com muitos artistas significativos, que conhecera em São Paulo, por intermédio da II e III Bienais de São Paulo.
O luso-brasileiro Alberto Teixeira, além de excelente artista plástico e estudioso da história da arte também era um leitor voraz, poliglota o que, muito lhe ajudou em suas viagens a contatar e conviver com personalidades marcantes de então.
Um dos fatos mais significativos de sua chegada em Paris foi o reencontro com o crítico e historiador de arte Bernard Dorival que veio para o Brasil como representante e delegado da Representação Francesa para a II Bienal de São Paulo e muito elogiara as suas obras apresentadas nessa mostra e ocupava na época o cargo de Conservador do Museu de Arte Moderna de Paris. Ao visitar este historiador, segundo Teixeira: “com a sua cortesia tipicamente francesa” e com sua influência o ajudou a entrar como residente na Cidade Universitária de Paris o que viria a facilitar bastante a sua permanência nessa cidade: um abrir de portas providencial que foi fundamental para os seus contatos com personalidades e artistas francesas ou também residentes em Paris. Nessa época “veio-me o desejo de mostrar ao público o que vinha fazendo. Falei sobre isso com o artista Ramon Monzól que ficara meu amigo e nos dirigimos a uma galeria de arte que conhecíamos. Eu levei três das minhas telas e a dona da galeria a jovem Madame Iris Clert nos recebeu com muita atenção, conversamos sobre o meu currículo e em especial sobre as minhas participações nas Bienais de São Paulo, ao lado dos maiores artistas plásticos de então (que mais uma vez me abriu portas que consolidaram a minha carreira) e, prazerosamente, ela se propôs a ficar com as minhas pinturas e, apresentá-las em exposição pública do seu acervo, culmimando na minha primeira exposição pública na França. Essa galeria se tornou um ponto de encontro da vanguarda, citada até hoje, na historiografia das artes visuais como uma das mais importantes da época por ter apoiado jovens artistas que se tornaram célebres como Yves Klein, Jean Tinguely e entre outros Lucio Fontana.
Na Europa Teixeira não se sentiu só pois “com alguns artistas que se tornaram meus camaradas e amigos tive longas e exaltadas trocas acerca dos rumos das nossas pinturas e da pintura do novo tempo”. Em especial com os meus conhecidos das II e II Bienais de São Paulo, como Hans Hartung, Alfred Manessier, Pierre Soulages, mas, sobretudo com a pintura do holandês Karel Appel “uma criação cheia de vigor e originalidade, que acabou também por ficar na minha mente como uma referência persistente”.
Em Paris Alberto Teixeira descobriu que um caminho novo deslocara o centro de gravidade da pintura do material para o espiritual, do mundo exterior para o mundo interior e, pela primeira vez propunha-se a usar a linguagem da pintura com autonomia e pela primeira vez também a por predominantemente em questão a ressonância espiritual e interior como preconizava o mais lúcido dos seus primeiros mestres Vassily Kandinski.
Ainda na capital francesa Teixeira deu conta do panorama vastíssimo da pintura moderna e de quanto ele estava limitado pela solução geométrica abstrata que ele considerou, naquele momento da sua carreira, um caminho “sem saída”.
Depois da sua volta ao Brasil em 1958, nos anos de 1960 dois momentos foram fundamentais, que consagrariam a sua obra. Em 1961 Teixeira recebeu o Prêmio Leirner de Pintura, um marco importante e definitivo para sua carreira. O ano de 1965, marcou outro acontecimento notável para o artista quando a exposição I Salão Esso Nacional de Artistas Jovens, com a participação de artistas de várias regiões do pais, realizado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro lhe outorgou o I Prêmio Esso Nacional de Pintura que lhe possibilitou ser incluído, ao lado de artistas latino-americanos, para participar de exposição na Pan American Union em Washington. Esse novo prêmio lhe abriu as portas para ser convidado para participar de outras exposições nos Estados Unidos.
Em decorrência do Prêmio Esso, Teixeira recebeu em 1969 um convite para participar de uma exposição individual na Pan American Union em Washington. Teixeira levou sua produção recente que antes mesmo do Prêmio Esso caminhava para uma fase de maior exaltação cromática. A exposição inaugurou-se com a presença do Embaixador e da Embaixatriz do Brasil, junto a OEA, teve boa acolhida foi acompanhada por bom noticiário, boa acolhida e bons comentários da imprensa que lhe proporcionaram um novo convite para uma segunda exposição individual no país, que aconteceu na Carolina do Norte, na Janus Gallery de Greensboro, logo após a inauguração da exposição saiu um artigo no Greensboro Daily News que comentava e analisava com muita atenção e interesse os meus quadros afirmando serem as minhas cores intensas e vivazes, aquelas que seriam de esperar de um pintor brasileiro – cores quentes de sol comparando-as a uma vibração visual proporcionada pela minha pintura como a verve auditiva da música cigana”. Teixeira concluiu: “no país irmão do norte deixei um pouco das minhas cores quentes de sol. Das pinturas vendidas, uma ficou na coleção da Union Pan American de Washington que regularmente é mostrada ao público”.
Após essas exposições Teixeira passou um tempo nos Estados Unidos em Nova York, onde segundo o pintor “vivenciou os movimentos simultâneos daquela época, um grande confronto para qualquer artista para qualquer pintor, uma possibilidade singular: vivenciar simultaneamente o Expressionismo Abstrato, a Minimal Art e a Pop Ar: “três momentos marcantes da criação americana do século XX”. Lá Teixeira destacou o seu contato com as obras de Toby, de Kooning, Mark Rothko e do expressionista abstrato Robert Motherwel.
Alberto Teixeira também apresentou o seu expressionismo abstrato em exposições coletivas de arte brasileira em Viena, Londres, Bonn, e no Japão Tokio, Kyoto e Atami.
A sua efetiva participação nos movimentos abstracionistas: geométrico, expressionista, lírico e do informalismo e o domínio técnico, expressivo de sua pintura a óleo e em aquarelas situam-no entre os mais destacados artistas brasileiros da segunda metade do século XX. Teixeira entendeu de uma forma singular, pessoal como utilizar a técnica da aquarela na contemporaneidade. Ele reconhecia o seu uso como uma forma autônoma, experimental, inovadora que lhe permitia alcançar tonalidades, transparências e luminosidades diferenciadas, únicas, líricas para a arte contemporânea brasileira, um renovador como William Turner no século XIX e Paul Klee no século XX. Alberto Teixeira sempre admirou a obra de Klee considerada comovente, um marco na forma de explorar as transparências, a cor e as suas tonalidades com desenvoltura e criatividade exemplares em suas obras.
Alberto Teixeira sempre esteve atento as transformações da arte, e em depoimento sobre a sua obra declarou: “uma característica do meu trabalho é a fidelidade a uma linguagem do desenho e da pintura. Ela me serviu desde o princípio para traduzir um sentimento de inquietação e perplexidade, quando linhas e cores procuravam embora, de maneira latente, assumir uma função interpretativa e de registro psicológico que se ampliaria em toda a evolução das minhas realizações”. O luso-brasileiro sem preconceito ou ideias preestabelecidas conviveu com artistas de várias linguagens e movimentos estéticos.
Alberto Teixeira nunca parou de pintar, magnânimo, em seus últimos anos de vida, dividiu os seus conhecimentos e técnicas artísticas com artistas das novas gerações ministrando-os para o curso de Artes Visuais na Pontifícia Universidade Católica de Campinas onde reforçava o pensamento de Henri Matisse que dizia: “aprender a ver em arte é o mais longo dos aprendizados”.
JOÃO J. SPINELLI
Serviço
ALBERTO TEIXEIRA 100 ANOS — Liberdade e audácia no abstracionismo
DESENHOS E PINTURAS
EXPOSIÇÃO
setembro/outubro | 2025
segunda a quinta | 10h às 19h
sexta | 10h às 18h
Galeria Berenice Arvani
Rua Oscar Freire, 540 | Cerqueira César
01426 000 | São Paulo | SP
55 11 3082.1927