

Exposição individual "Nazarethana", de Paulo Nazareth
Exposição
- Nome: Exposição individual "Nazarethana", de Paulo Nazareth
- Abertura: 10 de agosto 2025
- Visitação: até 28 de setembro 2025
Local
- Local: Mendes Wood DM – Galpão Barra Funda
- Evento Online: Não
- Endereço: Rua Barra Funda, 216 – Barra Funda
Nazarathena
Paulo Nazareth
Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar Nazarethana, exposição individual de Paulo Nazareth, nascido em Nak Borun (território indígena Borun do Vale do Watu [Rio Doce]), Minas Gerais. O artista, que se apresenta como homem velho, traz um vasto corpo de trabalhos inéditos retirados de seus guardados e outros recentes que ocupará todo o galpão da Barra Funda, em São Paulo, promovendo expressivas intervenções no seu espaço através de instalações, fotografias, desenhos, bordados, pinturas, esculturas, objetos e vídeo. Dividida em capítulos, a exposição narra o caminhar do artista somado a trajetória de suas ancestrais: Ana Gonçalves da Silva, sua mãe, e Nazareth Cassiano de Jesus, sua avó, além de divindades, como deuses greco-romanos, africanos e indígenas. Em um diálogo entre as narrativas individuais, familiares e plurais, a mostra cria uma trama entre a oralidade e a história oficial.
A avó de Paulo Nazareth, que trabalhou em fazendas constituídas sobre terras indígenas Boruns, foi enviada por seu “empregador”, (“coronel”, “doutor” delegado, grileiro das terras indígenas) a Colônia de Barbacena (hospital psiquiátrico muito conhecido recentemente devido ao chamado Holocausto Brasileiro revelado há não muitos anos), onde permaneceu internada por duas décadas até ser declarada desaparecida em 1964. Com poucas lembranças de sua mãe, Ana realizou, anos depois, uma viagem organizada por Paulo em busca de suas origens. Em reverencia a sua avó, Paulo Nazareth carrega o seu nome como trabalho de arte preceito e o leva consigo em suas caminhadas ao redor do mundo. “Nazarethana é essa viagem, esse retorno, essa epopeia dentro de nós mesmos. Em Nazarethana, está Nazareth e está Ana, minha mãe e a mãe da minha mãe, juntas, as quais eu levo comigo e sou levado por elas”, pontua o artista.
O prólogo da exposição traz a obra Assembleia de Deuses, um letreiro luminoso que anuncia não somente a pluralidade de deuses, mas reflete a diversidade humana, e a possibilidade de modos de existências múltiplas. Inserido no espaço da galeria, o letreiro transforma o ambiente em templo – casa de reza, lugar de encontro com o intangível, reforçando a arte como um lugar de atingir o não físico e material. Nas palavras do artista, “A Assembleia de Deuses é um letreiro, um anúncio, que se torna instalação, pois ele transforma o lugar e é uma brecha, uma fresta, um desvio do lugar comum.”
A relação com o imaginário coletivo e afetivo reaparece em Cinema tropical, instalação composta por um vídeo e cartazes de filmes. A obra cria uma relação entre ícones visuais da paisagem tropical – imagens e vídeos de coqueiros e palmeiras – criando um cenário imaginado que poderia ser qualquer lugar nos trópicos ou próximo a eles. Projetado para ser exibido durante o inverno, o trabalho carrega imagens para “aquecer corações”, em um cinema como uma promessa de concretude do sonho.
Em diálogo com o seu passado, Paulo Nazareth aposentou há alguns anos as havaianas e passou a produzir os seus próprios calçados, os quais também recebem o nome de Nazarethana – até então, o artista estava andando com os pés descalços e ainda é possível vê-lo caminhando por aí desse modo. Essa prática remonta a história de sua mãe que, quando pequena, não tinha sapatos para usar na fazenda em que trabalhava e confeccionada seus próprios calçados a partir de sobras de couro. O gesto se repete agora como ação artística e política, um fazer que carrega o trabalho de gerações, inclusive do próprio artista, que também trabalhou nessa fazenda durante a juventude. “É esse jogo: Havaiana, sandália usada inicialmente por trabalhadores, bem comum no canteiro de obras: nos pés de pedreiros, serventes, camponeses e trabalhadoras domésticas, e Nazarethana, que seria essa sandália feita por mim mesmo, e ainda tá sendo adaptada, experimentada, muitas vezes me verão descalço enquanto a sandália ainda vem sendo feita... Havaiana remete a um lugar e Nazarethana a outro, ambas são promessas”, esclarece. Nazarethana é mais que tudo uma conversa entre o artista, sua mãe, a mãe de sua mãe e seus infantes, Nazareth aprende consigo enquanto jovem e menino, aprende com a maestria de sua mãe, desde menina até a velhice, e aprende com sua avó em espírito que partiu e se faz presente.
Ao longo da mostra, figuram ainda um caderno de desenhos de sua mãe feitos todos os dias nos últimos meses, uma série de bordados, desenhos e esculturas em bronze de divindades diversas. A conversa com sua herança afro aparece em toda a mostra e é retomada nas fotografias marcadas com pontos riscados feitos com pó de pemba (as fotos são do acervo imaterial do Centro Espírita Caboclo Pena Branca da Comunidade Quilombola Namastê na cidade de Ubá, Minas Gerais). Esses trabalhos expandem o universo da Nazarethana e conduzem ao seu epílogo, que não é o fim, mas movimento de cura e reconfiguração: um convite a imersão em um espaço fechado. No epílogo dessa epopeia, uma piscina de areia dialoga com um bordado na parede onde se lê “Nós podemos nadar / We can swim”. Como parte de sua história, Paulo ainda não aprendeu a nadar por receio de sua mãe dos espíritos das águas e o medo imposto pelos invasores grileiros das terras – contam que o dia em que enviaram Nazareth ao manicômio, ela caminhava em direção ao rio com a filha nos braços, e lutou para que a criança não fosse levada. No piso, bloquetes advindos de Dakar, que representam símbolos da realeza e o baobá que traz a memória ancestral, complementam o ambiente. “Em frente a Ilha de Gorée, Senegal, de onde inúmeras pessoas foram "partidas", escravizadas y enviadas as Americas, atravessando o Atlântico convertido em cemitério onde muitas adoecidas foram jogadas na boca do Oceano y seus habitantes”, pontua Nazareth.
Nazarethana apresenta-se como uma cartografia das narrativas de Nazareth e de suas linhagens –familiares, divinas e territoriais que atravessam e são atravessadas por histórias locais e universais. Ao reunir o que o artista define como “arte de preceito” – aquilo que é feito como fala, reza, ato sagrado e existência múltipla e “multiversa, pluriversal” –, a exposição propõe um espaço-tempo de comunhão, reflexão e aprendizado de “tempo plural”.
Suas exposições individuais incluem Honey, John Jay College of Criminal Justice, Nova York (2025); Patuá/Patois, WIELS, Bruxelas (2025); LUZIA, Museo Tamayo, Cidade do México (2024); Esconjuro, Inhotim, Brumadinho (2024); En la casa de mi hermano, Proyectos Ultravioleta, Cidade da Guatemala (2023); BIRDMAN, Stevenson, Amsterdam (2022); Stroke, The Power Plant, Toronto (2022); Vuadora, Pivô, São Paulo (2022); Melee, ICA Miami, Miami (2019); Faca Cega, Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte (2018); The Journal, Institute for Contemporary Arts, Londres (2014); Premium Bananas, MASP, São Paulo (2012);
Exposições coletivas recentes incluem Anozero'24 Bienal de Coimbra, Coimbra (2024); Chosen Memories, MoMA, Nova York (2023); BRASIL FUTURO: AS FORMAS DA DEMOCRACIA, Museu Nacional da República, Brasilia (2023); Histórias Brasileiras, MASP, São Paulo (2022); Afro-Atlantic Histories, National Gallery of Art, Washington DC (2022); 34th São Paulo Biennial, São Paulo (2021); Beyond the Black Atlantic, Kunstverein Hannover, Hannover (2020); 22nd Sydney Biennial, Sydney (2020); How to talk with birds, trees, fish, shells, snakes, bulls and lions, Staatliche Museen zu Berlin, Berlin (2018); The Lotus in Spite of the Swamp, Prospect.4 Triennial, New Orleans (2017); Soft Power. Arte Brasil, Kunsthal KAdE, Amersfoort (2016); New Shamans/Novos Xamãs: Brazilian Artists, Rubell Family Collection, Miami (2016); Indigenous Voices, Latin American Pavilion 56th Venice Biennale, Venice (2015).
Serviço
Exposição: Nazarethana – Paulo Nazareth
Local: Mendes Wood DM – Galpão Barra Funda
Endereço: Rua Barra Funda, 216 – Barra Funda, São Paulo – SP
Data: De 10 de agosto a 28 de setembro de 2025
Horário de visitação: Terça a sábado, das 11h às 19h
Entrada: Gratuita