Sob Promessa do Ontem

Sobre a Obra :

A Obra de Leila, em um primeiro contato, surte um ímpeto intimista, com toques de melancolia e fatalismo brutal. Perante um mergulho mais delicado e contato com o material pessoal de anotações e diários da Artista, propomos uma análise que se funda, não no fatalismo, mas no traço intimista chave que remete à habitação inquieta de dois mundos, de uma agonia ante a realidade, por vezes demasiada traumática, mas não em tom de entrega, e sim, de transmutação em esperança de afirmar um complexo quase reminiscente do que “sempre poderia ter sido”, do que sempre se acreditou, e do desejo ferrenho de acreditar que em último, essa verdade pode estar no “outro lado” esperando por fim. 

Firmamos assim nossa interpretação em algumas frases: 

Essa é uma artista que habita a “travessia”, em uma agonia para com a matéria bruta da realidade, que tange, viola, condena e enfim, revela. Ela se mostra as vezes de forma tão monolítica nas obras, e em especial nas fotos, mas nota-se que a silhueta é sempre uma sugestão, um detalhe, um fantasma quase de sonho. Assim, essa realidade é sempre tão forte e monolítica pois é vista por alguém que pertence ao sonho. Essa noção dos sonhos e dos detalhes dos minutos “eternos” do cotidiano, se revelam porém nos registros dos detalhes e ambientes domésticos do dia a dia, sob um sol de final de tarde. 

Há um convívio de tons quentes, de sépia e naturais com o branco e preto absolutos ou em transição fantasmagórica, perpetuamente contrastante. Os “limites” do monocromático, princialmente nas fotos, onde a silhueta feminina é quase espectral em um rascunho de curvas. As vezes as fotos revelam uma iluminação natural que é reminiscente do início do crepúsculo, os meios e finais de tarde, outras vezes a luz fria e branca desenha um retângulo perfeito de janelas sob o breu dos quartos, nessa iluminação pelicular, sugerimos também a habitação de dois mundos que funda nossa interpretação. Nas pinturas menos figurativas e estudos, estão mais presentes já os tons quentes, quase como ensaio de paleta possível. 

Esse convívio aparentemente em contraste forte, também norteiam nossa interpretação de “dois mundos” habitados simultaneamente em fronteira inquieta porém melancólica. 

Há constante presença de curvas fantasmagóricas do corpo feminino. 

Duas condições de realidade, convivendo em uma espécie de romantismo de coração, mas dotado da fadiga de experiência vivida e busca, que é nítida nas anotações do diário. 

Obra participou na exposição "Revisitando Leila Reinert" na FUNARTE SP. 

“Sob Promessa do Ontem ” 

Acrílica e Óleo sobre Tela 

70cm x 100cm. 

R$ 2.200,00