Amontoados

Ana Tamanini – Uma obra xamânica

 O trabalho de Ana Tamanini não se adequa às habituais designações elaboradas pelos críticos da arte ocidental. Sua produção tem um caráter xamânico, explorando as fronteiras da percepção, o que resulta numa obra mutante, que expressa em diferentes cores, técnicas e suportes as situações e emoções vivenciadas pela artista.

 Nas suas origens a arte tinha caráter mágico, os povos pré-históricos, como os habitantes das cavernas de Lascaux, consideravam que as pinturas lhes davam poderes sobre a caça que buscavam. Nas sociedades egípcia e grega, a arte também servia a objetivos religiosos, função que se perpetua por toda a Idade Média. O Renascimento marca o momento no qual a arte se volta para o ser humano e a arte se separa de suas ligações com a magia. Entretanto, se isso é verdadeiro na Europa, não o é para a maior parte do mundo. Em todo o Oriente, África e Américas, a arte nunca se dissociou do imbricamento com as forças da natureza, e seu compromisso de acesso entre o mundo terreno e o sobrenatural.

 Nesse espaço, negado durante tantos anos pela arte ocidental, posição que começa agora a ser revista, se insere o trabalho de Ana Tamanini. Ora telúrica, ora celeste, ora serena, ora vibrante, sua obra sempre estabelece uma ponte entre o Eu interior e suas relações com o Eterno.

 Denise Mattar