Exposição "Fermata Erótica", de José Carlos Machado
Exposição

Exposição "Fermata Erótica", de José Carlos Machado

Exposição

  • Nome: Exposição "Fermata Erótica", de José Carlos Machado
  • Abertura: 14 de junho 2025
  • Visitação: até 31 de julho 2025

Local

  • Local: Galeria Marcelo Guarnieri
  • Evento Online: Não
  • Endereço: Alameda Franca, 1054 – Jardins

Exposição Fermata Erótica


Jose Carlos Machado (Zé Bico)



A Galeria Marcelo Guarnieri apresenta, entre 14 de junho e 31 de julho de 2025, "Fermata Erótica", terceira mostra do artista José Carlos Machado (Zé Bico) em nossa unidade de São Paulo. A exposição reúne um conjunto de 27 esculturas realizadas durante os últimos três anos e outras 9 realizadas entre os anos de 2020 e 2021, exibidas pela primeira vez. A partir da força magnética dos ímãs, Zé Bico dá continuidade à sua investigação sobre o equilíbrio e a instabilidade, explorando, através de objetos em chapa metálica, ferro, aço, feltro e areia, as tensões entre a força gravitacional e a matéria. A exposição conta com texto de apresentação do artista e curador Rafael Vogt Maia Rosa.


Ter trabalhado por tantos anos com ímãs na produção de suas obras permitiu a Zé Bico desenvolver uma prática baseada em movimentos sutis, de cálculos exatos, gerados não por métodos teóricos, mas sim empíricos. Em "Fermata Erótica", o artista apresenta peças em diferentes escalas e alturas, contrapondo a dureza e a ortogonalidade de blocos e cilindros de ferro ao movimento curvo das fitas metálicas. Firmes em suas bases, essas esculturas relacionam-se com o espaço através dos vazios contornados por linhas sinuosas e formas abauladas que remetem ao símbolo da fermata. É um exercício que busca desacelerar a força de atração magnética, que por sua natureza impetuosa, se satisfaz na estabilidade do encontro imediato dos pólos opostos. Como define Maia Rosa em seu texto: "A fermata é a arte da suspensão. Não se trata de paralisar o tempo, mas de prolongá-lo. Esticar o instante até que ele vibre como uma promessa do que ainda não veio -- como na notação musical, não marca um fim, mas a indeterminação do tempo extra que é do corpo do intérprete, do desejo que se recusa a seguir o previsto." Em uma das paredes laterais, Zé Bico apresenta "Porradinhas", um conjunto de 9 peças em imã de ferrite produzidas entre os anos de 2020 e 2021, exibidas pela primeira vez. Maia Rosa as descreve como uma "série sustentada pela convicção de que o acidental é ao mesmo tempo intermediário e irremovível, sugere que não devemos atacá-lo ou desenraizá-lo em homenagens impotentes, mas transformar os restos em uma malha estruturante, microscópica como ramo insondável de toda sua poética." Na área central da galeria distribuem-se as esculturas maiores, algumas delas ultrapassam a altura dos nossos corpos e também se curvam. A curvatura, neste caso, é resultado de um movimento provocado pelo seu próprio peso. Pendem e vibram, ora silenciosas, ora ruidosas, ativando um campo sonoro que ressoa em todas as outras esculturas dispostas ao nosso redor. E a partir do encontro com essa presença musical, "Fermata Erótica", composta por 36 obras no total, parece se revelar em sua disposição seriada como uma partitura imantada e distribuída pelo espaço.



José Carlos Machado (Zé Bico)


1950 – São Paulo, Brasil


Vive e trabalha em São Paulo, Brasil


Formado em Arquitetura e Urbanismo pela FAU USP, José Carlos Machado (Zé Bico) produz e expõe como artista desde meados da década de 1980. Suas experiências com materiais como ferro, imã e madeira e até mesmo água criam uma contradição ao se perceber o frágil equilíbrio que é dado aos pares de peças, sem soldas, com formas geometricas feitas com materiais estáveis e o feito de estabilizar e deixar perfeitamente no nível algo tão instável quanto a água. As peças, equilibradas por imãs encaixados que geram campos de energia que as desestabilizam, se repelem, criando zonas de tensão que são justamente os pontos de equilíbrio. Suas obras brincam com o "invisível" e desafiam o espaço, equilibrando objetos no ar com tangível leveza.


Dentre as diversas exposições individuais e coletivas realizadas, destacam-se as seguintes: Projeto Macunaíma, Funarte, Rio de Janeiro, Brasil; O Reducionismo na Arte Brasileira (19º Bienal de São Paulo), Fundação Bienal de São Paulo, São Paulo, Brasil; Exposição Internacional de Esculturas Efêmeras, Fortaleza, Brasil; O Estado da Arte, Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto



Fermata erótica


A fermata é a arte da suspensão. Não se trata de paralisar o tempo, mas de prolongá-lo.


Esticar o instante até que ele vibre como uma promessa do que ainda não veio -- como na notação musical, não marca um fim, mas a indeterminação do tempo extra que é do corpo do intérprete, do desejo que se recusa a seguir o previsto. No campo estético, a fermata é a rejeição do clímax e da aceleração ou desaceleração.


Ela não busca êxtase imediato ou um fim, escapando do artificial nas fricções do intervalo. Talvez seja basicamente esse lugar entre o desejo de dizer e as noções estratégicas do que é melhor não dizer; entre a sedução da imagem e a moderação do gesto, a fermata não grita ou fica em silêncio, ela suspira. É um momento em que o corpo percebe a densidade do ar, a demora do olhar, a temperatura de uma frase que perdura na mente do outro.


A partir da década de 80, junto ao processo de reabertura política, a assimilação de modelos culturais de maior prestígio econômico, deixou de estar mediada, como na Nova Figuração e na maioria das manifestações conceituais dos 70, por um olhar essencialmente desconfiado. Na Bienal de São Paulo de 1987, por exemplo, os conjuntos de Ivens Machado e Tunga inauguravam um novo caminho, no qual a teatralidade proposta já nos textos do catálogo estabelecia um caráter excessivo, hiperbólico, de um erotismo que desconstruía o slogan do retorno à pintura ou à grande tela, enfatizando a relação com o corpo do público e a obra.


É no contexto desta mesma edição da mostra, no segmento Reducionismo na Arte Brasileira, que podemos começar a situar a produção de José Carlos Machado, Zé Bico, em um espectro mais amplo de nossa cultura. Nas peças que apresentou ali, há algo que é na verdade irredutível ao processo implícito no título da mostra, como se seus conjuntos pudessem sempre funcionar por homeostase; uma solução singular para a suposta dualidade largura versus altura, operando com profundidades dinâmicas nas quais dilui a ideia de uma contradição básica a prover renda fixa para o investimento escultórico.


Entre a promessa de um coito definitivo ou de orgasmos múltiplos e apoteóticos, o único didatismo que o seduz persiste equidistante do lírico e épico já incorporados à tradição. Parece professar uma adesão algo animista, o que pode envolver todos os fluxos ora investidos, operando em uma clave discreta por meio da qual a sexualidade se revela mais como uma tensão interna, sutil, do que por uma mecânica explícita. Pois, a imantação implica uma relação neutra do ponto de vista da matéria, mas, ao contrário da denunciada facilidade do material, não deixa de mostrar sua permeabilidade às ressonâncias do que, como invisível, não se satisfaz com uma cognição plástico-visual ou mesmo metalinguística, nem com rupturas emblemáticas do suporte.


Assim, a aparência geral desconstruída de suas Porradinhas (2020), série sustentada pela convicção de que o acidental é ao mesmo tempo intermediário e irremovível, sugere que não devemos atacá-lo ou desenraizá-lo em homenagens impotentes, mas transformar os restos em uma malha estruturante, microscópica como ramo insondável de toda sua poética. Seus trabalhos com feltro e areia nos trazem, nesse sentido, uma atenção renovada e desimpedida aos pares de uma produção mais ecológica, intuições de Amélia Toledo e de todos os neoconcretos, ainda que sua inobservância de aspectos protocolares desses antecedentes, a diferencia da visceralidade que só se reitera por algum grau de alucinação.


O procedimento de Zé Bico, em todos os casos e circunstâncias, é capaz de assumir o slogan de um mundo estéril para devolvê-lo ao universo da sabedoria popular, de uma inteligência implícita do riso como o melhor remédio. No ato, levanta questões sobre a relação como coisa intrínseca, uma obra que nunca tem um núcleo ou uma forma característica. Suas partes se conformam a delimitar algo simultaneamente preciso e informal, aquilo cujos conteúdos só podem ser deduzidos no tempo da experiência, em que nosso olhar é sempre traído, reinventando-se como se não o tivesse.


Rafael Vogt Maia Rosa, 6 de maio de 2025


 

SERVIÇO 

 

Artista: José Carlos Machado

Exposição: Fermata Erótica

Abertura da exposição: 14  de junho - das 11h - 15 h. 

Período da exposição : 14 de junho a 31 de julho 2025. 

Entrada gratuita 

 

Alameda Franca, 1054 – Jardins 

 

São Paulo – SP – Brasil / 01422004

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