Tomie Ohtake 3
omie Ohtake (Kyoto, Japão, 1913 – São Paulo, São Paulo, 2015). Pintora, gravadora, escultora. Cores, luzes e sombras se destacam nas pinturas de Tomie Ohtake, cuja obra inclui também esculturas caracterizadas por formas sinuosas.
Vem para o Brasil em 1936, para visitar um de seus irmãos, é impedida de voltar ao Japão por causa de eventos ligados à Guerra do Pacífico, e fixa-se em São Paulo.
Em 1952, inicia-se em pintura com o artista Keisuke Sugano (1909-1963). No ano seguinte, integra o Grupo Seibi, do qual participam Manabu Mabe (1924-1997), Tikashi Fukushima (1920-2001), Flavio-Shiró (1928), Tadashi Kaminagai (1899-1982), entre outros artistas. Após breve passagem pela arte figurativa, Ohtake explora o abstracionismo.
Entre 1959 e 1962, realiza pinturas “às cegas”, isto é, tendo os olhos cobertos por uma venda. Segundo o crítico e curador Paulo Herkenhoff (1949), o procedimento tem relação com os processos que a artista aplica para dar forma à luz, ou pelo excesso ou pela falta, e à sombra. Herkenhoff também destaca que esse método de trabalho permite uma “vivência da deriva diante do espanto desconhecido pelo olhar e o deslocamento da relação territorial para a experiência do tempo sem perspectiva cronológica e linear”. Uma das pinturas às cegas recebe o Prêmio de Isenção de Júri no Salão Nacional de Arte Moderna de 1960.
No início da década de 1960, emprega uma gama cromática reduzida, com predominância de duas ou três cores, o que leva o olhar do espectador a percorrer superfícies em telas que muitas vezes remetem à sensação de nebulosidade. A pulsação obtida nas telas da artista, por meio do uso das cores e dos refinados jogos de equilíbrio, revela afinidade com a obra do pintor estadunidense Mark Rothko (1903-1970).
Em algumas obras, trabalha com pinceladas "rarefeitas" e tintas muito diluídas, explorando as transparências; em outras, aprofunda a expressividade da matéria pictórica, de modo mais denso, em texturas rugosas. No decorrer dos anos 1960, emprega mais frequentemente tons contrastantes e aparecem em seus quadros formas coloridas, grandes retângulos, que parecem flutuar no espaço. A partir dos anos 1970, a artista começa a trabalhar com a serigrafia, a litogravura e a gravura em metal. Para a maioria dos críticos, esse aprendizado revitaliza sua obra pictórica. Em suas telas, surgem linhas curvas, formas orgânicas e, embora de caráter abstrato, eventuais sugestões de paisagens, como montanhas ou rios. Ainda é possível observar a intensificação do dinamismo e da alusão ao movimento. Na década de 1980, passa a utilizar uma gama cromática mais intensa e contrastante. Nesse período, cria cenários para a ópera Madame Butterfly, apresentada em 1983 no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Dedica-se também à escultura e realiza, por exemplo, a Estrela do mar (1985), colocada na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Em 1995, recebe o Prêmio Nacional de Artes Plásticas do Ministério da Cultura – Minc. E em 2000, é criado o Instituto Tomie Ohtake, importante centro cultural da capital paulista.
Realiza esculturas de grandes dimensões em espaços e vias públicas, como as "ondas" em homenagem aos oitenta anos da imigração japonesa, em 1988, instaladas na avenida 23 de Maio, em São Paulo. Em 2008, realiza novas esculturas para celebrar o centenário da imigração japonesa, com monumentos na cidade de Santos e no Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Nos trabalhos tardios, Ohtake cria obras com tubos delgados, que estabelecem sinuosos percursos no espaço. Entre 2009 e 2010, realiza peça para o seu país natal, uma escultura instalada nos jardins do Museu de Arte Contemporânea de Tóquio.
Em entrevistas, a artista enfatiza a importância da arte oriental, em especial a japonesa, em sua pintura, afirmando que "essa influência se verifica na procura da síntese: poucos elementos devem dizer muita coisa"1. Da tradição japonesa, Ohtake diz se inspirar na noção de tempo presente no ukiyo-e (imagens do mundo que passa), arte que revela cenas de beleza fugaz. Também declara que há uma ligação entre a característica “silenciosa” de sua pintura e a cidade de origem.
Em 2014, é lançado o documentário Tomie, dirigido pela cineasta Tizuka Yamasaki (1949), com depoimentos de críticos como Agnaldo Farias (1955) e Paulo Herkenhoff.
A pesquisa acerca das possibilidades expressivas da pintura, sobretudo as transparências, as texturas e a vibração da luz, atravessa a obra de Tomie Ohtake. A artista também imprime sua marca com esculturas em grandes cidades brasileiras, como São Paulo e Rio de Janeiro.
Por: Galeria Tina Zappoli