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Andre Miagui

Na contemporaneidade, as inúmeras imagens que correm diante de nós não se completam na percepção. As trocas do indivíduo com o mundo intercambiam-se constantemente. A algaravia de um sem-número de relações faz emergir uma síntese geral da cultura de imagens, porém, deslocada do “olhar”, uma impressão geral de uma cultura de simulacros, um argumento efetivo para a ideia difundida de que vivemos numa sociedade de imagens.

Com as imagens-simulacros, a percepção se transforma. As imagens chegam rapidamente; são apreendidas em sucessões vertiginosas. Nossa sociedade veicula imagens, mas imagens sem intensidade, sem intenções. Assim, vivemos uma suspensão do tempo, tantos signos nos prendem apenas ao presente e o sentido da imagem passa despercebido nesse cenário.

Nesse sentido, para quem vê os trabalhos de Miagui , supõe que ele se apropriou, induziu, copiou, reproduziu imagens de obras famosas do século 18 e 19, mas como dizer isso se vivemos num mundo de ilusão, num âmbito de tradição da arte ? A cópia fazia parte desse espelhamento. A reprodução de obras famosas é uma prática que remonta à antiguidade, quando artistas recriam obras de seus predecessores como uma forma de homenageá-los, ou até mesmo treinamento.

No entanto, com o advento da fotografia e das tecnologias digitais, a cópia de obras tornou-se ainda mais difundida e acessível. Muitos artistas contemporâneos se apropriam de obras famosas de várias épocas e estilos, reproduzindo-as de forma fiel ou fazendo modificações criativas. Essas cópias podem ser vistas como um ato de homenagem, uma crítica ou uma forma de explorar as possibilidades da mídia em que estão trabalhando.

Algumas das formas mais comuns de cópia de obras famosas na contemporaneidade são a pintura, a escultura e a fotografia. Alguns artistas criam cópias precisas de obras famosas, como a série "Masters" de Vik Muniz, em que ele recria pinturas famosas usando materiais incomuns, como lixo e chocolate.

Outros artistas usam a cópia como uma forma de explorar questões sociais e políticas, como o artista americano Kehinde Wiley, que cria retratos de pessoas comuns em poses heróicas inspiradas em obras de arte clássicas, questionando a representação da beleza e poder na história da arte.

Miagui iniciou suas produções em 1999 e elegeu o giz pastel como seu principal material e sua pesquisa e obras famosas da arte clássica europeia. Atualmente debruçado em fazer o público passear pela história da arte e refletir sobre o uso da internet, Miagui toca no ponto da era digital em caráter crítico. Na coleção Zeitgeist, tema do filósofo Hegel sobre o “espírito do tempo”, a pesquisa se coloca na tentativa de modernizar o passado, apresentando ao público momentos de maestria destes pintores de uma era sem internet. Para deflagrar essa leitura, ele coloca nos olhos uma placa de computador, como um lugar no qual o tempo presente se estende às memórias, percepções, ao imaginário, projetando-os em modos de como a história das visualidades sedimenta a cultura da humanidade, e ali naquela placa será essa memória universal. Mais intrigante é o trabalho “Nascimento de Adão”: quem está com a placa de computador nos olhos é o homem e não seu criador, e também

no trabalho que tem várias aves silvestres; os olhos das aves estão abertos, e eles acham a placa de computador, e levantam como um troféu. O adorno tanto pode vestir no sentido de proteger um indivíduo, dando-lhe poder e força, quanto o excesso de ornamento pode despir uma personalidade. Fica a questão para se decifrar: o espírito do tempo ?

Tempo esse que Miagui nos faz pensar na arte, ciências, técnica e tecnologia em todas as épocas da civilização humana , desde a Antiguidade, Idade Média, Renascença até o início da modernidade e da era digital, tiveram como base a natureza enciclopédica do conhecimento. Bibliotecas essas imaterializadas hoje nos fluxos digitais de arquivos pessoais e compartilhadas em rede.


Por: Casagaleria e Oficina de Arte

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